O coronel de Ébano (Para além da dor, para além da vida)
Samuel Costa* - Brasil
Sair para o jardim
A claridade do dia
O lado do poente
Um quadro esplendido...
Diante daquela magnificência! Ouvi vozes vindas da rua...
Uma mulher falava numa voz suave... animadamente
Uma mistura de rara beleza
Que a todos encanta...Doces lembranças...
Tenho vivido momentos de infinita alegria
Mesmo assim, sinto a necessidade...
De experimentar...Uma nova vida...
Em um outro lugar.
Patrícia Raphael
Em memória de João Carlos Pereira
Enquanto cortava a grama, da casa nova, o coronel Alencastro pensava na sua difícil caminhada até ali. Estava usando sandálias de couro, camiseta regata e bermuda floral, estava vestido bem à moda do litoral. Cortava a grama da casa, que ficava a poucos metros do batalhão que iria assumir o comando no dia seguinte. Pensou na desconfiança de alguns e, mesmo na ira de outros, era sempre assim, seu pai e avô passaram pela mesma coisa, eram ambos policiais militares.
Seu pai com muito custo chegara a primeiro sargento ainda na ativa, mas seu avô acabara como cabo na reserva. Chegar até aquele posto sem fazer inimigos e contrariar interesses era praticamente impossível. O cheiro de clorofila que deveria estar impregnado no ar, mas não estava, no lugar um cheiro agradável de flores pairava no ar.
Alencastro na naquela altura pensava estar enlouquecendo, pois era o cheiro de impatiens, o mesmo do jardim de sua mãe. Um cheiro de saudade liberalmente pairava no ar, o coronel estava com a mente atormentada por pensamentos que o levavam muito longe, para além do tempo e espaço. Foi quando uma viatura, com três policiais, parou bem defronte à nova casa do coronel Alencastro.
- Oh negão me chama o coronel ai, tenho um recado pra dar ‘’prar’’ ele! Anda negão, chama o coronel logo!- Diz o solado que estava atrás do volante. O sotaque interiorano irritou Alencastro, o soldado, de cara gordo e sardenta, olhava para Alencastro com um certo desprezo, o coronel estava diante de mais uma batalha, um confronto que parecia não ter fim, e se acentuava toda vez que subia alguns degraus.
- Pode falar soldado, diz antes que te mande prender por não bater continência na presença de seu superior.
*Samuel Costa é contista em Itajaí.