Quinta-feira, 12.07.12

Andamos sumidos???

Eduardo Quive

Bem, mesmo a começar o hino das justificações, prefiro começar por diver que não é verdade! Verdade é que estivemos errantes pelos caminhos da escrita, afinal, que mais nos une se não esta arte da loucura, que nos leva sem volta?

Nesta semana que se “celebra” a paragem do nobre escritor colombiano Gabriel García Marquéz, ficamos a saber pela imprensa internacional quie é por motivo de demência senil, coisa que ainda não sabemos exactamente o que é, não é verdade? O facto é que a loucura dos escritores é a escrita, só isso.

Nós somos os tais loucos que estão sempre a vossa procura caros leitores. Ausentes no blog mas sempre presentes na versão por e-mail que enviamos semanlmente.

Mas quem somos nós sozinhos sem aqueles que nos tornam verdadeiramente uma revista? Decidimos voltar.

Aqui é a casa onde nos vamos encontrar para vários debates. Nunca mais será feriado para nós, todos dias, serão dias de trabalho!

Um ano de vida nos fazem querer estar contantemente em vossa companhia. Por isso aqui, sempre estaremos, juntos como nunca.

 

 

Abraços do editor

Eduardo Quive

publicado por Revista Literatas às 16:15 | link | comentar | ver comentários (2)
Quarta-feira, 12.10.11

Tudo e mais um pouco sobre Valdeck Almeida de Jesus

Eduardo Quive

 

 

Valdeck Almeida de Jesus, um escritor, um jornalista que também serve o estado – funcionário público. Conhecido como exaltador da verdade pelos que tem coragem de viajar pelas suas obras. Falei medo e pode-se pensar que escreve coisas assustadoras, e pode até ser verdade, mas se considerarmos que ele fala de factos verídicos do quotidiano “Heartache Poems”, ”Yes, I am gay. So, what? – Alice in Wonderland” obra em que nesta entrevista o escritor chega a dizer que dentre vários assuntos, o autor faz revelações pessoais “Apaixonei-me por muitas pessoas. Desde a professora ao vizinho que nunca soube de minha admiração por ele.”

Por outro lado, Valdeck assusta a própria história da sua vida, contada em  “Memorial do Inferno. A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden” – “Tanto mostro as coisas boas, quanto as ruins. Nasci em Jequié-BA, onde passei muita fome e comi coisa do lixo. Não tive brinquedos, não tive uma casa própria, não tive acesso a uma educação e serviço de saúde mínimos.” Pois é, estamos perante, um escritor de longas viagens da vida transmitidas em jeito de boa literatura.

 

 

 

Valdeck fale-nos do mistério que norteia o seu primeiro livro (corrija-me se estiver errado) o “Heartache Poems. A Brazilian Gay Man Coming Out from the Closet”? trata-se de alguma revelação de alguma orientação sexual do autor?

 

Bem, os poemas são feitos tanto para homens quanto para mulheres e foram criados na minha adolescência, numa fase em que muitos jovens estão em busca de respostas para muitas questões da vida. Apaixonei-me por muitas pessoas. Desde a professora ao vizinho que nunca soube de minha admiração por ele. Todas as reflexões sobre estes sentimentos foram traduzidas em poesias, as quais eu paguei para traduzir e publiquei nesta obra.

 

Heartache Poems” é um livro-confissão e ao mesmo tempo composto de poemas fantasias, as mesmas fantasias que povoavam minha mente, sobre sexualidade, posicionamentos políticos, incerteza do futuro, aspirações de trabalho etc.

 

publicado por Revista Literatas às 15:33 | link | comentar | ver comentários (49)
Sábado, 17.09.11

“Pelas águas mestiças da história”

- Uma leitura de “O Outro Pé da Sereia”,  de Mia Couto

 

Eduardo Quive - Maputo

 

De tese de mestrado em Estudos de Literatura pela Universidade Federal Fluminense no Brasil, Luana Antunes Costa, agora doutoranda em estudos comparados de literaturas de língua portuguesa, transformou o livro do consagrado escritor moçambicano, Mia Couto, “O outro Pé da Seria”, em um ponto de partida para a questão da mestiçagem.

 

Pela naturalidade da autora brasileira, podia-se logo a prior se imaginar o termo mestiçagem no mundo em que vive, sim, isso conta, mas conta principalmente a visão universal que Luana tem sobre as questões da raça, por isso o atrevimento de intitular a sua obra em que faz uma leitura do livro de um dos maiores escritores moçambicanos em “Pelas águas mestiças da história”.

Na obra, Luana Antunes Costa, que prefere ser tratada de professora do que escritora, justifica o seu encontro com o romance que é feito por um moçambicano a relatar acontecimentos nacionais, pelas vivências da terra brasileira sobre a questão das raças. Aliás, no debate a professora levanta através desta obra, o facto de que na sua terra reina um silêncio sobre o racismo e a desigualdade com que é tratado o negro, sendo por isso que usa a expressão “Mestiçagem” no livro.

Pode-se concluir (impossível) que neste livro, mais do que ler, Luana, faz provocações a sociedade brasileira, e diga-se a africana também, para um olhar sobre as vivências, atitudes e acções do quotidiano no que diz respeito à questão das raças.

“Acho que raça ficou uma palavra maldita, não se fala hoje. Existem metáforas. Vou falar de étnico. Agora a moda é o étnico. Vão usar outras palavras no lugar de raça. Quando estava a pesquisar esse romance de Mia Couto, a primeira coisa que me veio foi o que eu identifico ser um discurso da mestiçagem, que é um entre cruzamento das culturas, dos povos, das línguas, o conhecimento que se vai aprendendo com o outro nas trocas. Acredito que em “O Outro Pé da Sereia” é isso que está muito forte nesses encontros”. Considera a autora.

Por outro lado Allan da Rosa, também brasileiro, lançou no evento que teve lugar na Associação dos Escritores Moçambicanos, os livros “Zagaia”, “Vão” e “Da Cabula”.

De referir que os académicos Luana Antunes Costa e Allan da Rosa, se encontram em Maputo, para dentre várias actividades, realizar um intercâmbio cultural no âmbito do projecto “Brasilidades Africanas” realizado por estes e o Movimento Literário Kuphaluxa.

Já à passada, estes vem realizando várias actividades com o Kuphaluxa, com destaque para o Workshop sobre as Literaturas Africanas no Brasil, a exibição de filmes que retratam a cultura afro no Estado Brasileiro, e ainda uma mesa de debate sobre a Literatura Moçambicana e Brasileira na (AEMO), com um painel constituído pelos académicos Luana Costa e Allan da Rosa – Brasil, Juvenal Bucuane, Lucílio Manjate, Aurélio Furdela, Sangari Okapi e Clemente Bata – Moçambique.

publicado por Revista Literatas às 11:57 | link | comentar | ver comentários (1)

"Mitos: histórias de espiritualidade" - Escrever para desvendar mistérios do além

Eduardo Quive - Maputo

 

É o seu décimo primeiro livro, primeiro foram os contos em “Xitala-Mati” obra publicada em 1987, seguiram-se, Magustana (novela-1992), “A Noiva de Kebera” (contos 1994), “A Rosa Xintimana” (romance 2001), “O Domador de Burros” (contos 2003), “Meledina ou a Estória duma Prostituta” (romance 2004), “A Metamorfose” (contos 2005), “Contos Rústicos” (contos 2007), “Contravenção, uma História de Amor em Tempo de Guerra” (romance 2008), Caderno de Memórias, Vol I” (contos 2010) e o recém lançado livro de prosa “Mitos – histórias de espititualidas” a que debruçamos neste artigo. 

Como se vê estamos a falar de Aldino Muianga, nascido a 1 de Maio de 1950, considerado um autor impossível de se prever o que vai lançar e quando o vai fazer. Mas há quem o tenta decifrar. Felipe Matusse e Nataniel Ngomane, escalam a vasta obra deste autor, este último indo mais longe, ao colocar ao lado de outras duas ilustres figuras da Literatura Moçambicana – Aníbal Aleluia e Paulina Chiziane. Estas comparações, surgem mesmo a propósito do novo lançamento de Aldino Muianga, da obra “Mitos – histórias de espiritualidade” – uma consagração deste escritor como um autor do além. Servindo-se do ser médico que o é por longos anos, para espreitar outras medicinas capazes de tratar outras doenças, que ascendem ao meio físico humano – o espírito. E assim navega, Muianga desta vez, em estórias curiosíssimas que se podem considerar da tradição moçambicana, mas que em algum momento, associam-se ao obscurantismo, mesmo que para uma considerável maioria, a valorize.

Aliás, mesmo sem querer esquivar do assunto em tratamento neste artigo, vale a pena recordar que a dias, quando se celebrava o dia da medicina tradicional, divulgaram-se dados que indicam claramente a associação dos moçambicanos á estes tratamentos, em cerca de 70 por cento.

Voltando ao assunto, Aldino Muianga, segundo estes estudiosos, vem demonstrar que é de facto um perito na matéria, de acordo, com o meio em que nasceu e cresceu (bairro Indígina, actualmente chamado Munhuana) e do trabalho que faz.

 

 

Escrita que revela a nossa identidade

 

Para Filipe Matusse, a quem coube a apresentação deste livro, Aldino Muianga é um autor no qual se revela a moçambicanidade e em “Mitos – histórias de espiritualidade” encontramos “uma nova proposta que aborda a nossa essência como seres humanos, por que nós somos seres que biológicos, sociais, espirituais e psíquicos. Então o Aldino Muanga neste livro, foi captar a dimensão espiritual e escorrer a volta dela.”

Matusse vai mais longe, ao considerar esta obra num “manual” em que se pode achar respostas daquilo que sempre quizemos saber como “porque é que existo, vale a pena realmente viver?” e conclui “é um livro que nos apazigua nos leva a um encontro nós próprios.”

Mas também, na óptica deste estudioso, Aldino Muianga é uma referência maior da nossa literatura e como médico/escritor, constitui uma figura que desbravou o caminho que muitos outros médicos seguem.

“Existe mais dois ou três médicos já com livros no país, mas ele foi o primeiro e todos estes o seguem. Quando ele publicou o seu primeiro livro em 1987, eu estava entrar na faculdade e já o tinha como referência.”

 

Um escritor comprometido com a causa da escrita

 

Por seu turno, o académico Nataniel Ngomane considera Aldino Muianga, como um escritor de grande dimensão, isto, porque tem um percurso e coerência na sua entrega na arte de escrever, facto que é comprovado pela sua vasta publicação literária.

Entretanto, Ngomane, explica que há grandes autores que se tornaram grandes apenas por um único livro, o caso de Luís Bernardo Honwana, mas este caso específico de Aldino, tem a ver com essa perseverança e entrega na escrita.

“Mas também é grande autor porque ele consegue fazer nos seus livros, aquilo que se quer que a literatura faça. Que é de alguma forma, mostrar muitos possíveis e aproveitar esses muitos possíveis para criar imaginários reais. E ele consegue.

Os textos de Aldino Muianga, particularmente aqueles em que retrata os subúrbios de Lourenço Marques (Maputo), consegue criar o imaginário real desses cenários.”

Nataniel Ngomane, compara Aldino Muianga com outros autores moçambicanos como José Craveirinha, Aníbal Aleluia e Paulina Chiziane.

Segundo o académico, há um elemento comum a todos eles que é o compromisso que estes têm com o País, ao trazerem por dentro dos seus textos as diversas realidades moçambicanas.

“Da forma como eles escrevem, embora cada um o faça da sua maneira, colocando-os juntos, nós percebemos que há, a partir desses autores, uma construção suficiente de um imaginário da nação, de um imaginário cultural, e esse imaginário acaba construindo nos leitores um imaginário da coesão nacional, portanto, a ideia da nação e duma identidade, isso por um lado.”

Mas quando fala de Craveirinha, Ngomane diz ser devido a um padrão de escrita e de um escritor, por isso que coloca tranquilamente o Craveirinha como padrão ao lado de escritor como Aníbal Aleluia, no caso particular da profundidade de tratamento de texto e do uso da língua portuguesa como é de expressão.

Contudo, a grande comparação do Aldino, é ao lado do Aníbal Aleluia.

“Não necessariamente o Craveirinha, porque os dois exploram antropologicamente o nosso mundo, trazem ao de cima, as nossas crenças, preocupações e inquietações. “Quando estou doente aonde vou? Vou ao médico ao hospital ou ao curandeiro? Alguém morre e tenho preocupações sociais, vou a campa de um familiar para poder sossegar o meu espírito. Isso é explorado por esses dois autores.”

As ideias de Nataniel Nogmane, que é professor de Literatura Moçambicana na Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane, levam-no a comparar ainda o autor, com Paulina Chiziane, por que esta também explora a espititualidade.

Para além de não ser, Aldino Muianga, o primeiro a explorar os temas sobre a espiritualidade, o Aníbal já o tinha feito e agora, a Paulina também desenvolve esses temas. Estes são autores que exploram esse lado com mais veemência.

Mas, Ngomane avança outros nomes como Mia Couto, Ungulani Ba Ka Khosa e Suleimane Cassamo que entram nessas histórias. Tal como acontece com a Lília Momplé e Calane da Silva.

“Mas o Aníbal, Aldino e Paulina, exploram de uma forma mais profunda e em obras singulares. É isso que me faz os colocar juntos. Há várias linhas que colocam o Aldino Muianga ao lado de outros autores.”

 

Feitas estas análises, Ngomane conclui que estamos perante um autor de obrigatória leitura por que contribui para de uma imagem de Moçambique não só como País, mas uma imagem das crenças moçambicanas, hábitos, sonhos, preocupações, organização social, cultural e religiosa.

“É como se fosse um cartão postal, uma radiografia da nossa sociedade. E a vivência que ele tem no âmbito da medicina, como médico a receber doentes desde que se formou a mais de 25 anos é uma experiência fundamental, porque a partir daí ele pode construir várias histórias que reflectem de alguma maneira, o jeito de pensar desses pacientes.”

E reflectir isso nos textos é de acordo com o académico, uma forma produzir um desenho de Moçambique e é importante que nós conheçamos esse desenho para sabermos quem somos, para onde vamos e para onde nós queremos ir.

Por causa disso, a Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane (FLCS-UEM), tem no curso de Literatura Moçambicana, uma lista de textos literários moçambicanos para e dentro destes, está inclusa a obra “O Domador de Burros” de Aldino Muianga.

Mas a nossa fonte refere que a outros níveis mais acima, nós começamos a introduzir mais livros deste autor para que o estudante tenha um leque de escolhas e poder trabalhar com um deles.

“Mas já vínhamos fazendo isto com vários autores, como é o caso de Ungulani Ba Ka Khosa, Paulina Chiziane e Mia Couto, mas sentimos uma necessidade de ir introduzindo mais escritores no leque de escolhas de estudantes. Fazendo isso, damos uma grande oportunidade aos estudantes de ter várias escolhas, mas ao mesmo temos, estamos a valorizar institucionalmente os nossos autores. Todos nós conhecemos Machado de Assis, Fernando Pessoa, mas próprios nossos autores não conhecemos. É papel da universidade contribuir na divulgação desses autores.” Concluiu.

publicado por Revista Literatas às 11:51 | link | comentar

Mabulu iku Yakana - Entrevista sobre uma radionovela

Eduardo Quive - Maputo

 António Novela, jornalista e produtor de rádio

António Novela é profissional de rádio. Trabalha há mais de 20 anos no emissor provincial de Maputo, da Rádio Moçambique (RM), o mais antigo e maior canal de rádio no País. É jornalista, detrás dessa carreira esconde-se um grande escritor de novelas. Nos programas, é um dos produtores do “Mabulo iku Yakana” que, quando traduzido literalmente para a língua portuguesa, significa “conversando se constrói”, muito conhecido no Sul do País, concretamente nas províncias de Maputo e Gaza. Trata-se de um teatro radiofónico que retrata problemas sociais do quotidiano, transmitido nas noites de domingo na emissora em changana, língua predominantemente falada nas províncias acima referenciadas. Dada a popularidade do programa, decidimos ter com este profissional dois dedos de conversa, aliás, trata-se de uma entrevista em que António Novela fala da génese do programa, e dos pontos que marcam a sua carreira. Tendo em conta o período em que inicia o programa, e as estórias que já contou aos ouvintes, pode-se considerar este um escritor e novelista, se calhar com maior produção em Moçambique. António Novela nos revelou que o Mabulu iku Yakana, foi criado antes da sua entrada na rádio, isto é, pode ter tempo maior que a sua estadia na rádio.

 

 

 

publicado por Revista Literatas às 11:32 | link | comentar

“Ninguém Matou Suhura”

Eduardo Quive - Maputo

 

Para Lília Momplé e os seus pais

 

“A felicidade jamais se alcançará definitivamente; é necessário conquistá-la dia a dia, com uma inabalável esperança no futuro, mas também com os ensinamentos do sofrimento passado.”

Lília Momplé, in “Ninguém Matou Suhura”

 

 

Lília Momplé, escritora moçambicana


 

Em Ninguém Matou Suhura, Lília Momplé nos remete a uma viagem sem retorno – primeiro pela forma active que descreve os acontecimentos, levando-nos a uma constante actualização dos acontecimentos.

Ontem, esta obra foi escrita por alguém cuja pela estava cansada da opressão, da impunidade, injustiça prevaricada por uma raça branca de estrangeiros, que já se tinham tornado donos de tudo. Falo-vos dos portugueses – concretamente – o relato do que “Aconteceu em Saua – Saua”, onde a autora ilustra os fatos datados de Junho de 1935 e a Abril de 1975.

  1. 1.     “Histórias que ilustram a estória”

«Ninguém Matou Suhura» não são apenas vives que a escritora nos leva a conhecer, mas trata-se de 5 contos – estórias que ilustram a história – relatados por quem as viveu e sentiu na pela, mais do que, por uma alma feminina que nos transmite, em cada parágrafo, alma de uma mãe que vive o calvário de ver seu filho atirado aos bichos.

Que não seja só por isso, até porque a esta obra, mais do que uma denuncia e desabafo dos macabros acontecimentos da era colonial em Moçambique, vem carregada de uma energia que a leva a renovar-se todos os dias, isto é, ler Ninguém Matou Suhura, é ter em si, o poder da escrita e em mão, uma verdadeira narrativa realista com dimensão única entre nós.

Ninguém Matou Suhura, é a consagração, logo a primeira, da Lília Momplé como uma verdadeira contadora de estórias em volta da lareira – Xitiku Ni Mbaula – pela objectividade da sua obra, mas pela eficiência do seu domínio da palavra, não deixa de criar uma convulsão para antes de nos passar a mensagem, fazer com que participemos das suas emoções.

Se bem que na literatura Moçambicana, pelo menos lançando um olhar para a presença feminina muito pouco nos é fornecido em termos livros, e da sua geração menos ainda.

Ilustrar a história através deste livro foi a chegada em peso, de uma mulher nas artes escritas, depois da reconhecida “ menina corajosa” Noémia de Sousa que inspira gerações, aliás, embora esta ter se destacado por ilustrar a história com a poesia, pode-se considerar a Lília Momplé, mais um braço direito na continuidade desta linha, mas de um jeito mais atrevido, ao ter pautado pelos contos.

 

  1. 2.      Contos para arrepiar

 

 

publicado por Revista Literatas às 11:26 | link | comentar
Sexta-feira, 09.09.11

Dizer “poesia sem algemas”

Eduardo Quive - Maputo

 

Uma poesia para corajosos, para os verdadeiros “intelectuais” do povo, juntou jovens na capital moçambicana na última edição de Quinta D´Poesia, realizado desta vez no Parque dos Continuadores. Uma verdade que nos faz recordar do José Craveirinha, um autodidacta que se tornou no intelectual do povo. Escrevia as cartas de protestos, o povo lhe pedia para escrever um poema para reclamar da fome em fim, um poeta a dois passos a frente para alertar dos perigos que vêem. Para viver esses momentos que ressuscitam em mentes jovens, a Nkarigana Arte, nomeou o referido evento em “poesia sem algemas”.

 

Quis a arte desta vez, voltar-se às verdades. Falar dos problemas sociais sem medo nem receio. Libertar a alma e falar tudo como se não houvesse limitações, afinal de contas o artista sem liberdade é improdutivo.

Pedro Ubisse, mais conhecido pelo seu pseudónimo, Peter Pedro Pierre Petrosse, considera “poesia sem algemas” um título pertinente para o evento, isto porque foi uma oportunidade para dar a liberdade aos poetas, deixando estes mais livres para dizer aquilo que lhes convém, e não camuflar as palavras para que só sejam para aqueles que entendem a poesia.

“Diz tudo que lhe vem na alma. Simplesmente diz o que lhe interessa dizer, independentemente de ser uma crítica social. Não são poemas por encomendas falando de erotismo. Ele diz as palavras sem máscaras”.

Questionado se acha que a os fazedores da poesia estão limitados, o jovem poeta afirmou que “a poesia em si não tem algemas. Há uma coisa que costumo dizer – não sou bom em palavras ditas, sou bom em palavras escritas. Sou capaz de matar alguém só escrevendo. Alguém pode ler o meu texto e ter um ataque cardíaco. A poesia em si não tem algemas. Posso chegar ao fim do mundo sem sair daqui”.

“Viajamos pelo mundo sem sair de onde estamos. Hoje estamos num evento específico e acho que se eventos do género tinham que ser habituais. Mas no dia-a-dia, são poucos eventos dos géneros e tem tido pouco público, por causa das horas e dos dias. E muitas vezes assistem apenas o mesmo público”.

Por outro lado, Peter considera que em alguns meios de comunicação a poesia não tem sido difundida. Só aparece alguém a declamar quando é uma data especial. Difundem mais a música.

“Aparecem as notícias culturais quando um artista fez alguma coisa, como lançar um CD, um livro, exposição. Mas nunca falar propriamente da arte como um tema livre, como Poesia.” Disse.

 

Poesia em línguas nacionais

 

Muitos foram os que recitaram a sua poesia em línguas nacionais, principalmente o Changana, facto que levantou uma curiosidade de saber dos participantes a importância da miscelânea na literatura nacional, tendo em conta que estes são os novos aspirantes a poetas.

Peter Pedro Pierre Petrosse, um dos que tem se evidenciado nessa mistura, foi com quem falámos.

“Tenho misturado as línguas quando escrevo. Escrevo em Português, Inglês eem Changana. Paramim é tudo a mesma coisa. Acho que as línguas nacionais na poesia não tem tido muito espaço”.

Este aspirante, já conhecido nas noites de poesia e destacável pelo atrevimento de escrever em Changana, justifica o seu gosto em escrever desse jeito como uma missão natural que tem, por ser conhecedor dessa língua e “se soubesse falar todas línguas moçambicanas, escreveria em todas elas, para valorizar aquilo que é meu. Há essa necessidade”, declarou.

“É normal encontrar jovens que não conhecem nem sequer a sua etnia, muito menos sabem qual é a língua nativa. Em suas casas se expressam na língua portuguesa, tanto é na rua e na escola.

Por exemplo, eu sou machangana, e falo esta língua assim como todos da minha casa conhecem e falam esta mesma língua”, acrescentou Peter.

 

Francisco Júnior – “A Verdade Dói”

 

Poesia sem algemas, constitui uma oportunidade para jovens e adultos, ou qualquer quem seja se expressar sem medo. Abandonar o politicamente correcto e falar o que pensamos, mas também sem abandonar a característica principal da literatura, que é o estético. A partir do estético, abandonar o politicamente correcto e se expressar.

Politicamente correcto é fazer só para o “inglês ver”, escovando e se limitando a não criticar por interesses ou por medo.

A Literatura é um meio para a construção de uma sociedade melhor, por que o escritor está a dois passos mais à frente para alertar sobre o que está a acontecer. A literatura é uma disciplina popular voltada para a sociedade, é para o povo.

Convidado a dizer uma frase sem algemas, Francisco Júnior disse, “A Verdade Dói”.

 

Porquê poesia sem algemas?

 

De acordo com Elcídio Bila, da Nkaringana Arte, entidade que organiza as quintas de poesia, “poesia sem algemas” é enquadrado na programação Casa Moçambique, no âmbito dos Jogos Africanos a decorrerem em Maputo. “Na verdade é mais uma quinta de poesia, que habitualmente acontece na primeira quinta-feira de cada mês no Café-Bar Gil Vicente, apenas unimo-nos ao maior evento desportivo da África”. Explicou Bila.

Nkaringana Arte, em cada quinta de poesia escolhe um tema para a reflexão, e convida pessoas para debater sobre o mesmo, intercalando com a poesia e música.

Bila explica que para o nome “Poesia sem Algemas” não se teve uma razão especial para atribuiar, mas foi mais uma sessão onde se recitou poemas com conteúdo aberto, livre e frontal.

Sobre a valorização da poesia e aderência ao evento, “tivemos um número bom de aderentes, e aconteceu dentro dos parâmetros que a Nkarigana Arte esperava”.

“O nosso papel é difundir a poesia, juntando diversos actores ligados à literatura em geral e à música, e em contacto com outras artes criar um momento de exposição, onde vários poetas aparecem a mostrarem o seu melhor, e acima de tudo, a interacção cultural onde uns aprendem com outros, por isso que os eventos são grátis para todos os amantes da arte”.

 

Elcídio Bila, referiu ainda que está planificado que para a próxima quinta d´poesia, será dedicado ao tema “Labirintos”.

“Labirintos são ruelas, becos, isto é, muitos jovens optam por caminhos mais rápidos para alcançar as suas metas, e acabam se envolvendoem embaraços. Essaé apenas uma metáfora para discutir os problemas sociais”.

publicado por Revista Literatas às 19:02 | link | comentar | ver comentários (1)

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