Domingo, 03.07.11

Que culpa temos nós?

Mukurruza - Lichinga
Á Jorge Viegas
 
Gentil nossa alma,
Nossa esperança, dores, mágoas, enfim, roubadas.
Penúrias penduradas n’angústias
Desfeitas de graças.  
Estas vaidades traduzidas nas danças de batuques marimba, enfim.
Oh! danças de ekuetthe danças desconhecidas!
-Será que não lembram destas danças?
-Isto é mesmo que não lembrar do filho desta terra esquecida
ah! Que esperança falhada nesta terra de moldes,
desfeita de estragar tijolos de adobe!  
Tristeza é a palavra que só se vos diz.
Nestes gritos esquecidos;
Gritos sem referentes, sem donos.  
Ah! que tristeza nos acolhe nestes abrigos sem reflexos!
Que pena nos impedem de sonhar!
Esperança desfeita de mistérios dos magnos xicuembos


publicado por Revista Literatas às 06:19 | link | comentar | ver comentários (1)
Segunda-feira, 06.06.11

Desnacionalizado


Izidine Jaime – Maputo 

Sou cidadão oriundo de uma nação onde os partos não têm maternidade.
Onde a noite é uma aventura desenhando o sol na insónia das nuvens, e, as fogueiras contam histórias no sul da noite, galanteando a música da natureza na boca dos grilos.
Sou como um estrangeiro apatriado pelo País que nascera, um País sem ventre, sem vida, por onde a fome vende aos homens o desafio de viver.
 Os impostos vendem buracos nas estradas e a pobreza é uma anáfora na boca da riqueza no ouvido dos pobres. (Somos ricos de Pobreza na riqueza que temos).  
Uma vez morto antes de nascer, vi no oráculo do mundo a sapiência fugindo dos homens, a tecnologia plantando a preguiça nos ombros da prosperidade e a raça da natureza a caminho da extinção. E os homens culpam ao tempo pelo actual reflexo da humanidade. Porquê? Foi então o vento que pariu a globalização?
Sou de um País onde o Lixo tem grandes mansões nos cantos da cidade, transbordando das lixeiras, sacia a fome dos homens com receitas desumanizadas e um aroma patrono das ruas ditando a não passagem de narinas abertas.
Ai daqueles que não tem transporte próprio, pois os transportes públicos são uma espécie de latas ensardinhando homens, os aromas se misturam, os sovacos se libertam libertando outra liberdade que não existe.
Nos tempos em que o tempo esquece-se de nós, a terra ajoelha-se de joelhos descalços e, na oração do tempo, os ventos fogem velozmente desrespeitando o parentesco das árvores, não sei que légua participam mas a meta é indefinida. Ah! O treinador do ciclone também participa despindo tudo quanto é nada. As nuvens abençoam torrencialmente os rios que embriagados vomitam a água para a margem das casas levando tudo do nada que tem. E nem si quer guardamos a chuva para a época agrícola e no rebolar do tempo ficam sem números para indemnizar a seca.
Sou de um País onde os naturais de lá não são de la, sem identidade própria vivem querendo ser os outros,   “uma coisa é ser de Moçambique e a outra é ser moçambicano”. 
publicado por Revista Literatas às 01:06 | link | comentar
Domingo, 22.05.11

Nova civilização moçambicana


Japone Arijuane – Maputo

Aboliram dos seus caracteres o homem sapiens-sapiens

Observarão se atrasados de mais para a tal classificação
Empreenderão por outras atitudes serem mais que sapiens-sapiens,
Correrão não chegarão, encontram-se piores que antes.

Hoje vivem nova civilização.
Correm atrás de quem eles acham excelência.
Nessa corrida ninguém pertence se a si mesmo.

Hoje são homens lambes-lambes.
publicado por Revista Literatas às 08:23 | link | comentar
Quarta-feira, 18.05.11

POEMAGRAFIA AO AZAGAIA*

 Amosse Matavele - Maputo

A musica (o RAP) é uma bomba nuclear que explode no ouvido de quem a escuta e a sua radioactividade desperta consciências adormecidas neste tapete politicamente correcto.  
No pais de mim (Eduardo white) existe um homem versus uma voz, que carrega uma trocha muito pesada,( estou a vos segredar ele disse-me que não descarregara nunca, mas sim irá aumentar o peso). 
Onde a cada viela e beco vai relatando as convulsões sociais que adentram a trocha por si carregada. 
este homem é a voz do povo( tal como sintetizou o povo e que esta no poder)
Colocaram-lhe pedras no seu caminho – não caiu continuo firme,
Mandaram-lhe parar, e ele respondeu – eu paro oh oh oh..............
Mandaram-lhe calar, e ele respondeu eu não calo oh oh.................... 
A sua babalaze é de turbilhões de homens desde os bêbados da cerveja, vinho, mal cuado, cachaça, e.t.c.........
Por causa do seu factor interventivo chamaram – o de oposição
e agora pergunto eu que país democrático é este sem oposição? 


_________________________________________________________
*rapper moçambicano autor do álbum Babalaze que contem musicas como: povo no poder, as verdades, as mentiras, e.t.c. 

publicado por Revista Literatas às 08:19 | link | comentar
Segunda-feira, 16.05.11

Carta aberta de estudante denuncia perversidades do regime político da Guiné Equatorial


Facultado por Victor Eustaquio - Lisboa
 
Carta aberta de jovem estudante denuncia perversidades do regime político da Guiné Equatorial: um exemplo de coragem vindo de «dentro»

Cesar Augusto Iyanda Mitogo é um jovem guineense, estudante de Direito na Universidade Nacional da Guiné Equatorial (GE), que se arriscou a falar abertamente, numa carta pública escrita e assinada «dentro» do território nacional, sobre o que se passa no País que vai receber em breve a Cimeira de Chefes de Estado da União Africana.
O texto está a causar grande impacto na GE mas merece mais. Para quem se interessa por questões como os Direitos Humanos, a União Africana ou tão-somentea a Guiné Equatorial, um exemplo de coragem que deve ser conhecido «fora« da GE.
Agradeço a todos aqueles que me fizeram chegar este documento, dando-me a oportunidade de também poder participar na divulgação desta carta tão ímpar no contexto africano.

“Como é a realidade do país que receberá os Chefes de Estado africanos na reunião da União Africana”

 Carta de Cesar Augusto Iyanda Mitogo

 Malabo, 12 de Maio de 2011
 Desde que ao Presidente da Guiné Equatorial, o General Obiang Nguema Mbasogo, lhe deu para ter mais cargos e poderes do que os que já tinha – a saber, Chefe de Estado, presidente fundador do Partido Democrático da Guiné Equatorial, Primeiro Magistrado da Nação, Tenente General do Exército, primeiro desportista da nação, etc., etc. – nós, os que sabemos que a sua forma de entender a governabilidade se ajusta aos típicos estereótipos bantu e, mais particularmente, Fang, soubemos que não estaria contente por ter apenas as funções atrás mencionadas, mas que iria tentar escalar o mais alto que consiga para mostrar aos súbditos do país que, por desgraça, lhe tocou governar com um poder que realmente vem de Deus, como disse um jornalista uma vez na única estação de televisão. Nós, os que entendemos o carácter do típico Nkukuma Ayong (chefe de tribo), um forte carácter egocêntrico, super poderoso e autoritário, soubemos que as suas intenções de encher-se de mais coroas iriam em crescendo.
Uma vez, neste país onde todos nos conhecemos, mantive uma conversa com uma pessoa que conhece e vive o dia-a-dia do ambiente do General Obiang. Essa pessoa dizia-me, com tom arrogante, que, dentro da Comunidade Económica e Monetária da África Central (CEMAC), após a morte do Presidente do Gabão, Omar Bongo, havia uma luta pelo lugar do chefe de todos os chefes dentro da comunidade dos países da África Central, e que, segundo a delegação guinéu-equatoriana, deveria ser, indubitavelmente, Obiang, porque nenhum outro presidente tinha mais experiência em assuntos de gestão de um Estado.
Visto tudo o anteriormente mencionado, não havia nenhuma dúvida de que Obiang treparia para a ascensão a Presidente da União Africana e que estaria disposto a desperdiçar quanto dinheiro fosse possível para fazer do seu sonho uma realidade, em detrimento da sua população, que mantém na miséria, ignorância e na mais absoluta falta de liberdades.
Numa das suas últimas viagens aos Estados Unidos, em Houston, Texas, num encontro que manteve com empresários do sector petrolífero, transmitido, aquando do seu regresso, pela Televisão Guiné Equatorial, não duvidou em mencionar orgulhosamente que, graças aos seus irmãos africanos, havia sido eleito Presidente da União Africana. Ele vai e faz tal declaração no primeiro país do mundo, milhões de anos-luz à frente dele em termos de formação e com grandes conhecedores da actualidade africana. Como se estivesse no seu povo, Akokam, falando com crianças de quatro anos.    
Então, os que realmente conhecem a Guiné Equatorial, deveriam conhecer a situação actual deste país africano, ao escutarem os meios de comunicação quando todos os Chefes de Estado africanos se deslocarem ali para assistir à Cimeira da União Africana.
À partida, é chover no molhado, porque basta a Wikipedia para se poder conhecer a situação desastrosa do povo da República da Guiné Equatorial. Mas atrevo-me a fazer finca-pé da situação geral da Guiné Equatorial quando receber os Chefes de Estado africanos na cimeira da União Africana.
Senhores Chefes de Estado:
Muita desta gente que irá ao aeroporto para os receber não estará ali de vontade própria. Além disso, estarão muitas horas ali sem comer, sob pena de prisão se não se apresentassem a esse lugar.
No vosso caminho entre o aeroporto e Sipopo, constatareis que, na nova auto-estrada que acabam de construir, há duas desmesuradas praças com fontes. Essas fontes só jorrarão água enquanto por lá passardes, porque, imediatamente depois da vossa saída, nunca mais voltará a sair água dessas fontes. Na mesma auto-estrada, vereis árvores plantadas com um cariz decorativo. Estas árvores plantaram-se a dois meses da vossa chegada e bastaria um empurrão do meu filho de cinco anos para as derrubar com muita facilidade, porque neste país as coisas se fazem assim, precipitada e desorganizadamente.  
Sem vontade de sair desta auto-estrada, passareis perto da famosa prisão de Guantánamo, onde, no momento da vossa passagem, existirão mais de cinquenta cidadãos e cidadãs nacionais e estrangeiros (militantes de partidos políticos, sacerdotes, trabalhadores que quiseram pedir mais dignidade numa empresa cujo dono é uma pessoa influente do regime, moças que se negaram a sair com um general, algum bêbedo que quis falar de temas políticos porque ganhou coragem para isso depois de duas cervejas, etc., etc.), todos eles detidos arbitrariamente e em condições de saúde lamentáveis, submetidos à tortura e a tratos inumanos e degradantes, porque assim funciona este país e a liberdade da sua gente vale muito pouco. As prisões arbitrárias são uma moeda corrente e legal. Exactamente onde hoje existe esta auto-estrada, havia guinéu-equatorianos com porções de terreno que lhes foram arrebatadas sem a devolução de um só franco por parte do Governo. Não mencionando sequer as casas que aí estavam construídas e os desalojamentos forçados a que foram submetidos os que ali moravam, sem pagamento nem justificação alguma, porque os desalojamentos forçados ocorrem na Guiné Equatorial todos os dias.
Porque acredito que esta auto-estrada será centro de atenções, quero detalhar o melhor que possa sobre cada uma das coisas que tereis a oportunidade de ver e visitar.
Passareis por uma zona residencial chamada Boa Esperança. Essas casas foram construídas pelo Governo, mas repartem-se de modo arbitrário. Para conseguir uma, ter-se-á de conhecer a alguém dentro do sistema governamental, alguém influente, porque um cidadão comum como eu não pode ter acesso a elas. Estas mesmas casas consomem a electricidade de uma pequena estação de geração de energia eléctrica, porque em Malabo não há luz. A empresa que gere a luz de Malabo mostra-se incompetente há muito. São muitos os bairros que passam mais de três meses na obscuridade, naquele que é o terceiro país produtor de petróleo de África.  
A Universidade Nacional da Guiné Equatorial é um puro refúgio para nós, filhos de pais pobres com vontade de seguir os estudos e animados por ter uma licenciatura. Os professores não são qualificados e muitos são companheiros que acabaram a licenciatura no ano passado. Temos de levar assentos de uma sala para outra, porque há demasiada procura estudantil e as salas não chegam para todos. O próprio reitor não tem um perfil de investigador nem estudos académicos dignos da sua posição. Não tem publicado qualquer trabalho científico nem um artigo escrito numa revista ou numa página, como este texto que eu escrevo agora.
O movimento das pessoas está restringido. Levamos mais de sete meses com sérias dificuldades para nos movermos de Malabo a Bata e vice-versa e com milhares e milhares de barreiras policiais dentro do país.
Falta de tudo. Água potável. As pessoas têm de formar filas até cem metros apenas para conseguir pão. Não há salas de cinema nem de ócio. O tráfico de droga é quase legal. A situação da educação está na pior.
Poderia encher um livro inteiro, mas, para reservar a vossa energia, vou concluir por aqui. Esta é a lamentável situação na que está a Guiné Equatorial no momento da chegada dos Chefes de Estado para a cimeira da União Africana. E esqueci-me de mencionar que, se passardes pelo meu bairro, New Bili, sabereis exactamente do que vos falo, mas duvido muito que vos levem aí.
Cesar Augusto Iyanda Mitogo
Terceiro ano de Direito
Universidade Nacional da Guiné Equatorial
(Tradução do original em espanhol “Cómo es la realidad del país al que vienen los jefes de estados africanos a la reunión de la Unión Africana”)
publicado por Revista Literatas às 06:08 | link | comentar
Quarta-feira, 27.04.11

Uma “redescoberta” da literatura africana: Por que só a literatura de lusodescendentes de África é mais conhecida no Brasil?

De: Adelto Gonçalves (*) -- em Brasil
                                                          
 I
            A Editora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) colocou no mercado uma nova colecção, Poetas de Moçambique, em que apresenta antologias dos maiores poetas modernos de língua portuguesa e origem moçambicana. Segundo a editora, os autores escolhidos estabeleceram frequentemente diálogo com a literatura brasileira, especialmente com as obras de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Cecília Meireles (1901-1964), Vinicius de Moraes (1913-1980) e Manuel Bandeira (1886-1968). Os primeiros volumes são dedicados a José Craveirinha (1922-2003) e Rui Knopfli (1932-1997).
            Craveirinha, primeiro autor africano galardoado com o Prémio Camões, em 1991, é um dos nomes fundamentais da literatura moçambicana. Filho de pai algarvio e mãe ronga, é dono de uma obra concisa, que cobre cinco livros publicados em vida e duas colectâneas póstumas, além de dezenas de poemas espalhados em periódicos e antologias. Este livro reúne os principais poemas do autor com nota biobibliográfica de Emílio Maciel.
            Já Rui Knopfli produziu uma encorpada e original obra literária durante o período colonial. Seus poemas seleccionados estabelecem diálogo com as principais tradições clássicas e modernas da poesia. O livro traz posfácio com texto crítico e nota biobibliográfica de Roberto Said.
            Ao mesmo tempo, a Ateliê Editorial, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), acaba de lançar Portanto... Pepetela, organizado por Rita Chaves e Tania Macêdo, professoras de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo (USP). O angolano Pepetela, nascido Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, ganhador do Prémio Camões de 1997, é talvez o mais importante romancista de seu país. Com apresentação do moçambicano Mia Couto, o livro reúne 38 artigos e ensaios de estudiosos da obra de Pepetela.
            Nada mais alvissareiro do que essa “redescoberta” da literatura africana de expressão portuguesa. Mas desses três autores, apenas José Craveirinha é resultado da mistura do sangue português com africano. O que se espera é que esse interesse não se restrinja apenas a autores lusodescendentes, mas seja aberto a todos os africanos que fazem literatura em Língua Portuguesa.

                                                           II
            Nada contra Pepetela, Agualusa, Mia Couto ou Luandino Vieira, nomes hoje incontestáveis no panorama da literatura africana de expressão portuguesa. O que se estranha é por que só descendentes de portugueses que nasceram em terras africanas têm largo espaço nos veículos de comunicação de Portugal e nas universidades de Portugal e do Brasil.
            Basta ver que o livro Portanto... Pepetela traz, ao final, uma lista de 56 teses de doutorado e dissertações de mestrado defendidas em universidades brasileiras sobre a obra de Pepetela. Um exagero, evidentemente, porque há muitos outros autores africanos de expressão portuguesa que poderiam ser estudados. E não o são. Não se quer acreditar que seja por racismo, pois o que se espera é que esse tipo de comportamento seja algo já superado, sem razão de existir neste começo de século XXI.
            Talvez seja ainda a "saudade do império colonial perdido", como disse Patrick Chabal, professor de Estudos Africanos do King´s College, de Londres, para se citar aqui um nome isento destas questiúnculas lusófonas, que impeça os acadêmicos e editores portugueses de enxergar que a lusofonia é uma falácia – que não vai chegar a lugar nenhum – enquanto eles não aceitarem a verdadeira dimensão da língua portuguesa para além da Europa.
            Em outras palavras: Pepetela, Agualusa, Mia Couto e Luandino Vieira fazem parte da última geração de lusodescendentes que, nascidos na África, praticam uma literatura com vivência africana. Dentro de 20 ou 30 anos, quando provavelmente já não estiverem mais neste mundo, quem irá representar a Literatura Africana de expressão portuguesa senão os autóctones ou um ou outro miscigenado?
            Portanto, o futuro da Língua Portuguesa na África vai depender dos naturais desses países por onde os portugueses criaram raízes – e também daquelas regiões que, hoje, sofrem com a opressão de vizinhos que não falam português. É o caso da Casamansa, província do Sul do Senegal, que ainda aspira livrar-se da opressão de Dakar para se tornar um país independente e membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Será que em Casamansa não há um único poeta ou escritor que escreva em português? Ou somos nós que não queremos vê-los?
           
            Como diz o escritor moçambicano João Craveirinha, por mais que se assumam "lusófonos", os escritores de tez escura serão sempre os "outros", os outsiders, os ex-colonizados. Entre esses, além de João Craveirinha, pode-se citar de uma enfiada Paulina Chiziane, Ungulani ba Ka Kossa, Nelson Saúte, Noémia de Sousa, Kalungano, Luís Bernardo Honwana e Suleimane Cassamo, de Moçambique; Adriano Mixinge, João Melo, Ondjaki, Victor Kajibanga, Uanhenga Xitu, Ana Paula Tavares, Luís Kandjimbo, de Angola; José Luís Hopffer Almada e Germano Almeida, de Cabo Verde; Abdulai Sila, Hélder Proença (?-2009) e Odete Semedo, da Guiné-Bissau; Alda do Espírito Santo e Tomás Medeiros, de São Tomé Príncipe. E muitos outros.
            O que é preciso dizer – e quase ninguém o faz – é que persistir nessa visão preconceituosa é um erro, que equivale a dar um tiro no próprio pé, pois recusar-se a reconhecer que o futuro da Língua Portuguesa na África depende dos naturais daqueles países é condená-la ao desaparecimento. E olhem que quem escreve isto é um brasileiro de primeira geração, de pai português de Paços de Ferreira, Norte de Portugal, e de avós maternos açorianos.

                                                           III
            Embora o desconhecimento no Brasil acerca dos assuntos africanos seja abissal, não se pode deixar de reconhecer que foi graças aos literatos brasileiros que a Língua Portuguesa continuou viva nas décadas de 1950, 60 e 70 na África de expressão portuguesa, especialmente entre aquela camada mais culta, que gostava de ler Jorge Amado (1912-2001), Érico Veríssimo (1905-1975), Guimarães Rosa (1908-1967) e outros tantos.
            Rui Knopfli mesmo é um poeta fortemente influenciado pela literatura brasileira, além de suas grandes ligações com a poesia portuguesa moderna. De africano, só carrega o fato de ter nascido em Inhambane. Trata-se de um fino poeta, cuja poesia está entre o que de melhor se escreveu em Língua Portuguesa no século XX, mas que, ao contrário de Pepetela que permaneceu em Angola e lutou contra o colonialismo, deixou Moçambique tão logo o país se separou de Portugal. Jamais se assumiu "moçambicano" no anterior e muito menos no atual contexto africano e sociopolítico do pós-independência. Assumiu-se, sim, como um português de Moçambique agastado com os "pretos" da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) que queriam ser iguais aos "brancos".
            A visão que Knopfli tinha da África era eurocêntrica, de um colono que pertencia a uma elite colonial intelectual que, provavelmente, sonhava com um Moçambique semelhante à Rodésia ou à África do Sul sem apartheid, mas com os chamados “brancos” a mandar nos "pretos", ou seja, “cada macaco no seu galho", para se repetir aqui uma expressão politicamente nada correta que se ouve ainda neste Brasil de racismo disfarçado. A lusitanidade européia de Knopfli sempre falou mais alto.
            Quem conhece a vida moçambicana pré-independência sabe muito bem que Knopfli atacara a arte banta do escultor Alberto Chissano e do pintor Malangatana em termos depreciativos, como a dizer que eles nunca poderiam ascender a artistas plenos em razão de sua origem "primitiva", tal como os "bons selvagens" de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que seriam congenitamente limitados. Isto está na Revista Tempo, de Lourenço Marques (hoje Maputo), dos anos 1970-1971. Quem duvidar que consulte na Biblioteca Nacional de Lisboa a coleção da revista. Mas é claro que isto ninguém gosta de lembrar.
            Como se sabe, na África os conceitos não são os mesmos vigentes no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa em relação ao ser e estar africano. Até porque na África os "nativos" não foram exterminados como os ameríndios nas Américas. E, como continuam a sê-lo no Brasil em pleno século XXI. Para se ter um exemplo desse holocausto, basta ver que os traços indígenas hoje são pouco perceptíveis no brasileiro médio, exceto talvez no homem do Centro-Oeste e do Amazonas, ao contrário do que se pode constatar no Chile, no Paraguai, na Bolívia, no Equador e até na antigamente tão conservadora Argentina. Basta ver o que fazem, nos dias de hoje, certos fazendeiros e seus capangas com os caiowás, em Mato Grosso do Sul, sem que as autoridades tomem qualquer providência mais efetiva.
            Na África, os autóctones continuam a ser maioria esmagadora e isso tem um peso enorme na consciência dos africanos, mesmo em meio a crises econômicas. Até mesmo porque eles estavam num estágio de desenvolvimento superior ao dos indígenas americanos, o que obrigou a chamada colonização portuguesa a restringir-se a vilas e destacamentos litorâneos. Até mesmo para “atravessar” o comércio da escravatura, os portugueses dependiam de nações africanas que traziam subjugados seus inimigos para comercializá-los nas praias. Com isso, a ocupação européia, de um modo geral, nunca conseguiu apagar no homem africano o grande sentimento de pertença ao legado banto.
            Como tudo isso são águas e ressentimentos passados, o que importa hoje é preservar a Língua de Camões também na África. E essa preservação passa por um apoio mais decisivo em favor da divulgação e estudo da literatura de expressão portuguesa que é hoje praticada por africanos de todos os matizes de pele, indistintamente.

_______________________
PORTANTO... PEPETELA, de Rita Chaves e Tania Macêdo (organizadoras). São Paulo: Ateliê Editorial/Fapesp, 2009, 389 págs., R$ 47,00.
ANTOLOGIA POÉTICA, de José Craveirinha. Organizadora: Ana Mafalda Leite. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, 198 págs., R$ 38,00.
ANTOLOGIA POÉTICA, de Rui Knopfli. Organizador: Eugénio Lisboa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, 206 págs., R$ 38,00.
__________________________
Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage - o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: marilizadelto@uol.com.br
publicado por Revista Literatas às 06:18 | link | comentar
Segunda-feira, 14.03.11

A era do pugilismo sexual


Autor do artigo
 De: David Bamo - Maputo

Há dias publiquei uma matéria sobre a Escola Secundária Josina Machel, que está agir com alguma pujança para com as alunas que usam roupas que as considera nocturnas e indecentes, falo de saias curtas, camisas que deixam o bico fora, extensões...enfim todo vestuário que a direcção daquela escola acha ser extravagante.

Vozes de injustiça não faltaram: Vários estudantes foram unânimes em afirmar que usar saias do tamanho por baixo dos joelhos é coisa de velhos, outras ainda, que cada um tem a sua forma de ser e estar. Bom! O ponto mexeu comigo. Primeiro, porque não concordo que a personalidade do ser humano se defina com a forma como se apresenta, principalmente pelo vestuário.
O peso das aparências vai tomando conta dos moçambicanos desde a flor da idade. Este é um dos sinais do erro de comunicação no seio das famílias deste meu país.
Parece-me que os pais educam, preocupam-se com a aparência dos filhos, não no que pensam, não no perigo social que um indivíduo que se esconde por trás do seu traje. A aflição dos pais em manter os seus filhos apresentáveis me leva a questionar: Será a roupa da moda sinónimo de boa dignidade? Não! É fruto do que esses “miúdos” consomem desde novo, bebem esses hábitos dos seus pais.
Péssima educação dos pais.
ATENÇÃO: A minha discórdia não é sobre o tipo de vestuário. Longe de mim. O que está acontecer é que estamos a confundir roupa, aparência, personalidade e dignidade. Mas a culpa não pesa só sobre os pais, a sociedade também carrega esta cruz.
Um bom moço tem que ser charmoso, bem vestido, não interessa o que tem na cabeça. Quem chegou tarde na distribuição da beleza, toma o leite com sabor azedo. Os “lindinhos”, seja no meio social, académico, profissional...enfim...dão se muito bem! Mau! Um feio, mal vestido, que em tempos de calor anda soado, muito soado, para melhor se suceder, tem que ser inteligente, “tacudo”.
Os mais fofinhos, mesmo sendo um par de pernas sem cérebro, com cabeças vazias, que na verdade tinham que ser um quadro pendurado numa casa abandonada, têm melhor atenção da sociedade.
Por outro lado, temos a má influência dos media, os órgãos de informação também nos sugerem para tal realidade. Só aparecem na tela pessoas com caras atraentes, corpo “sexy”, o resto não interessa. O mais importante é chamar a atenção do público.
ATENÇÃO: O telespectador não está para apreciar a cara e o corpo do apresentador, mas sim, o conteúdo que este leva ao auditório. É bem verdade que o apresentador tem que estar bem vestido, apresentável, contudo, não deixa de ser um facto que ele tem que é se preocupar em transmitir o assunto as pessoas.
A TV não é uma passarela, como alguns comunicadores pensam, onde só se exibem! O que eu chamo de “sexismo”.
Recentemente um amigo me disse que queria se tornar um músico, eu me espantei, porque ele nunca mostrou vocação para o tal. Ele alegou que só lhe interessava ser famoso, para ter muitas “pitas”, emprego, dinheiro. Um punho sexual que só vai abater a sociedade moçambicana.
Que futuro se aguarda?
publicado por Revista Literatas às 07:50 | link | comentar | ver comentários (1)

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