Sábado, 17.09.11

“Exerço a escrita como ofício”

Amosse Mucavele- Maputo

 

Uma notícia biográfica, por ele mesmo [agosto/2000]: Cláudio Portella, 27 anos. Escritor e Poeta. Legítimo representante da vanguarda contemporâneo na poesia brasileira. Nunca pertenceu a grupos. Acredita que a poesia atual, pois para ele nada é novíssimo, possui como característica o individualismo. Não o individualismo transparente, do qual refere-se Allen Ginsberg, quando interrogado acerca do que seria nudez na poesia, e esse imediatamente tirou a roupa.

Ointimismo de Cláudio Portella, não é coeso, não é translúcido, não é emblemático, não é panfletário. Mas falho, caótico e doentio. Sua poesia busca cobrir a falsa moral, desdizer o lengalenga dos intelectuais, dos doutos que apontam os falos alheios comparando-os aos seus.

A poesia de Cláudio Portella é uma velhinha de 4000 anos, que sobe ao palco para declamar seus versos, de botas, gibão e guarda-chuva.

Entre suas publicações significativas, figura a de Choque-de-chuveiro-elétrico (poema onde trabalha o verbo algo) no Suplemento Literário de Minas, Gerais um dos mais respeitado do país.

 

Literatas: Nainfânciaqualfoi o seu primeiro con­tacto marcante com com aescrita?

 

Cláudio Portella

CLÁUDIO PORTELLA: Aos domingos costumava anotar toda a programação da TV. Eu me preparava com papel e caneta numa estante próxima à TV e ficava anotando o nome de cada programa que ía passando. Éprovável que esse tenha sido meu primeiro contato marcante com a escrita. Pensando melhor eu já naquela época estava exercendo o jornalismo. Minha literatura tem grande influência do jornalismo impresso. Tanto é que já há alguns anos venho praticando o jornalismo literário.

 

Literatas: Que espaço os livros ocupam no seu dia-a-dia? A leiturade algumaforma, influênciano seu trabalho e no seu quotidiano?

 

CLÁUDIO PORTELLA: Os livros são meus materiais de tra­balho. Trabalho com livros todos os dias. Estou sempre lendo. Ler e escrever são as atividades que mais me dão prazer. Como sou jornalista literário os livros fazem parte do meu trabalho e do meu cotidiano.

 

Literatas: Oescritor peruano Mario Vargas Llosacertavez disse o seguinte “aminhapassagem pelo jornalismo foi fundamentalcomo escritor.” Como porta-voz dasociedade você percebe naliteraturaou no jornalismo umafunção definidaou mesmo práctica?

 

CLÁUDIO PORTELLA: Creio que assim como o Vargas Llosa minha literatura tenha uma dívida com o jornalismo. Falar de uma função e da praticidade da literatura e do jornalismo não é fácil. Acredito que tanto a literatura como o jornalismo tenham muitas funções e muita praticidade. Aliteratura é mais introspecta que o jornalismo, serve mais ao espírito. O Jornalismo é mais cerebral e combativo. Tanto é que a imprenssa é tida como o quarto poder depois do Executivo, Legislativo e Judiciário.

 

Literatas: Quais são os autores imprecindiveis nas sualeituras como escritor e leitor? Equais nuncam o abandonam?

 

CLÁUDIO PORTELLA: Deste a infância sempre gostei de ler. Sou um leitor versátil. Leio os clássicos mas não me bitolo à eles. Imprecindível é uma palavra perigosa. Como leitor gosto muito da poesia de Fernando Pessoa e da prosa de Machado de Assís. Como escritor busco permanecer no meu  caminho próprio e aí não sou abandonado pelas leituras, eu as abandono.

 

Literatas: Neste mundo cadavez mais globalizado, tão afeito ao imagético, com um nívelelevado de analfa­betismo, e com umadiversidade culturalabragente. Oque te levaadedicar-se aarte de escrever numaeraonde ler um livro não é apalavrade ordem?

 

CLÁUDIO PORTELLA: Não exerço a escrita como arte, mas como ofício. Se minha profissão é escritor, então: escrevo! Se minha escrita despertar inter­esse, que leiam então.

Literatas: Oescritor angolano José Agualusadisse certavez que “o escritor africano deve sair do gheto”, sendo o escritor avoz dos que não tem voz, asuainter­venção socialnão só deve cingir-se aescritanum país com baixos niveis de leitura, o escritor deve se expor nasociedade, comungadamesmaideia? Oser escritor compensa? Equalé o papeldo escritor?

 

CLÁUDIO PORTELLA: Sou plenamente de acordo com José Agualusa. Todo escritor deve sair do gueto e mostrar a cara, dizer a que veio. O trabalho do escritor não e somente escrever, mais também participar de debates, dar ent­revistas e opinar sobre o mundo etc. Ser escritor é uma profissão recompensadora, sim! O escritor deve escrever e opinar sobre as coisas do mundo.

 

Literatas: A línguanos une, mas continuamos muito dis­tantes um do outro, em termos globais qualé o estado cliníco daliteraturade expressão portuguêsa? Eo que aliteraturado seu país recebe dos outros quadrantes lusófonos, concretamente os africanos, refiro-me aliteraturamoçambicana, angolana, guineense, cabo-verdianaetc.

 

CLÁUDIO PORTELLA: A literatura feita em língua portuguesa, sem dúvida, é uma das mais fortes. Acredito que no momento atual a litera­tura brasileira não tenha influência nenhuma da literatura africana de língua portuguesa. É lamentavel, mas o mercado editorial brasileiro desconheçe a literatura de língua portuguesa feita na África.

 

Literatas: Se em Moçambique, Angola, Cabo-Verde, São-Tomé, Timor Leste etc, o grande problema que cruz ao caminho do escritor é encontrar uma Editora onde possa publicar o seu trabalho, e em seguida alguém que compre e lê a mesma, creio que em Portugal e no Brasil acontece o inverso. Ou seja, compreende-se que as possibilidades de publicação, nesses dois países, são bem maiores que as nossas, com isso, não corre-se o risco de se ter muita obra imatura nas prateleiras. Qual a sua opinião sobre isso?

 

CLÁUDIO PORTELLA: Certamente o mercado editorial de Portugal e do Brasil oferecem maiores oportunidades de publicação que o mercado Africano. Meu primeiro livro foi publicado por uma editora de Portugal. Mas o fato desses mercados serem mais activos do que o africano não quer dizer que seja uma maravilha. Tanto em Portugal como no Brasil (acredito que ainda mais no Brasil) os escritores (sejam eles iniciantes ou veteranos) tem dificuldades de encontra­rem editoras para os seus livros. A auto publicação ainda é uma alternativa cada vez mais forte. Quanto a imaturidade dos autores e suas obras isso é uma questão que depende de mercado. É uma questão do autor saber se já está pronto ou não. Aconselho que o autor submeta sempre seu livro a avaliações antes de publicá-lo.

 

Literatas: Que obra de um escritor de qualquer quadrante do mundo que os moçambicanos deviam ler urgentemente? E como formar leitores?

 

CLÁUDIO PORTELLA: Nenhuma leitura deve ser imposta como urgente­mente necessária. Necessidade e urgência na leitura é uma descoberta pessoal e individual de cada um. Facilitando o acesso ao livro. Melho­rando a renda per capita, dimuíndo o preço do livro, levando o livro até o povo. Aqui no Brasil costumamos dizer que o artista deve ir a onde o povo está. O livro deve ir a onde o povo está. Por que não distribuír bons livros para o povo?

publicado por Revista Literatas às 11:21 | link | comentar
Quarta-feira, 31.08.11

CARTOGRAFIA DO ECOAR E DO MIAR DO COUTO OU COMO VI AJAR COM AS 24 (C)OBRAS DO MIA COUTO

Amosse Mucavele - Maputo

 

Sobre a nossa a Terra disse que ela é Sonâmbula: com muita razão, sabem porquê?

-Porque ela não dorme fica dias e noites de mãos estendidas ao exterior a pedir esmola.

Amigos, num país visto como pobre os dirigentes são tão ricos! trocam de carros de luxo e gozam de mordomias , mas não tem nem se quer um livro na cabeça.(preocupante não é)

Por isso que digo as nossas elites são incultas (vendem a nossa terra a 30 dinheiros)

Além de tudo que acima croniquei, vejam só o profeta deu-lhes a porção, dada a incompetência deles fizeram tudo ao contrário, deram os venenos ao Deus e os remédios ao Diabo, nestes últimamentes nós o povo, encontramo-nos na berma de nenhuma estrada, sabem, sem onde guardar as nossas súplicas, sem onde pedir clemências, pois o Senhor Deus exilou-se na terra onde reside o Homem que lhe salvou da morte (por envenenamento perpetrado pela nossas elites) dando-lhe antídoto.

Quem me dera lá estar com eles debaixo daquela Varanda do Frangipani, a ouvir os Contos do Nascer da Terra.

Do que estar nestas Cidades dos partidos políticos com idades seculares no Governo, e onde os seus dirigentes consideram-se Divindades.

Eu cansei de viver neste País do Queixa Andar, vou-me embora, com um fio amarrado no pescoço (sei que Missangas não me faltarão), pelo caminho irei folhear as páginas desta Casa Chamada Terra e irei remar contra maré deste Rio Chamado Tempo.

Chegado a Uma Terra Sem Amós, constato que algo mudou, a aldeia cresceu, já são Vinte as Casas de madeira e Zinco. Mas ainda continuamos no Escuro e o Gato Abensonhado pressagia as Estórias do velho.

Alguém disse o velho está a morrer, o Gato não parava de tocar o Ritmo do presságio:

Retorquiu de novo-a biblioteca esta a arder.

-E eu nos meus Pensatempos confusos, surgiu-me a seguinte a pergunta? Como hei-de o ajudar?

-Pensei na Princêsa Russa, cortei a ideia porque a neve não pode extinguir as chamas, continuei neste pensaraltivo, afinei os meus Silêncios, dentro de mim uma voz uivava “Vou ficando do som das pedras. Me deito mais antigo que a terra. Daqui em diante, vou dormir mais quieto que a morte¹.”Pego no machado, pelo caminho vou Traduzindo esta Chuva que molha os ramos da minha alegria, de nada vale continuar aqui, mas, antes partir deixem-me descolar a Raiz do Orvalho.

Alguém disse - Ah, de nada resultará. De repente as Vozes Anoiteceram, era o início da Chuva Pasmada.

E agora vou me embora mesmo “a procura da outra Pátria esta não me pertence²”, pois O Mar Me Quer, é no mar onde vou pescar o meu sonho de se tornar noutro Pé da Sereia, caso não consiga concretizar este meu sonho, procurarei outra maneira de partir, assim sendo tornar-me-ei no Pensageiro Frequente deste Último Voo do Flamengo que me levará até a Jesusalém.



Glossário

1-Mia Couto in A Varanda do Fragipani

2-Celso Manguana in Pàtria Que Pariu

3-todas palavras a negrito fazem parte do acervo bibliográfico do autor acima referido -Princêsa Russa conto que faz parte do livro Cada Homem é Uma Raça. E outros livros

-No meu País tem um provérbio que diz - um velho que morre é uma biblioteca que arde.

-O gato e o escuro, Cronicando

- Estórias abensonhadas

-O fio das Missangas,....e outros ficam sob alçada do leitor, beijooooos.

publicado por Revista Literatas às 13:22 | link | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 25.08.11

“A poesia não está fora de nós, nós é que inventamo-la”

Amosse Mucavele - Maputo
Literatas: O Lucílio Manjate começa a escrever em 1996. Porquê, para quê e para quem?
Lucílio Manjate: Penso que os escritores nunca sabem quando é que começam a escrever, porque sendo o acto da escrita um processo, que se liga a um outro processo, o da leitura, nós vamos escrevendo enquanto lemos, mas não registamos. É uma escrita ao nível do subconsciente, do íntimo, e que vai ganhando forma durante um tempo também impreciso, o tempo de gestação do escritor. É o tempo da criação da forma e que um dia vem cá para fora; no meu caso isso aconteceu em 96. Penso que nessa altura eu escrevia porque tinha que me situar, em termos geográficos, culturais, políticos, ideológicos, etc. Talvez seja o primeiro passo, esse. Essa é a leitura que faço hoje, lendo os meus textos um pouco mais crescido; escrevia para, a partir desse pressuposto identitário, inventar os meus sonhos, como todos os outros escritores inventam, e comunicar esses sonhos aos receptores dos meus textos. Partilhar um mundo possível.
Literatas: Sugere que o escritor não nasce numa folha em branco cheia de gatafunhos?
Lucílio Manjate: Exacto. Podemos entender essa questão como quisermos, eu penso que no papel ele apenas acontece. Perguntar quando é que o escritor nasce é sugerir uma discussão filosófica interessante, porque o texto primeiro acontece enquanto ideia, o embrião, e isso é na nossa mente e não fora dela. A metáfora de “nascer” aqui não pega, porque o ser humano vem para a luz, mas a luz do escritor está dentro dele, nunca fora. O homem sai da escuridão para a luz. O escritor faz o inverso, da luz para a escuridão. Talvez por isso queremos sempre voltar para esse mundo de luz, e procurámos como loucos um papel em branco para acender a escuridão que nos persegue.
publicado por Revista Literatas às 13:05 | link | comentar | ver comentários (1)
Sábado, 09.07.11

Carta do Aniversariante no dia em que não se fará a festa

Amosse Mucavele - Maputo
Amosse Mucavele
Ontem foi o dia do meu adversário, comemorei com as 4 paredes que ladeiam o meu quarto,
E hoje dia em que os Astros advogaram sem uma causa justa, mas com um aviso prévio sendo este o verdadeiro dia do meu aniversário.
24 Anos completam-se em mim, e eu nem estou aí, neste instante procuro refúgio na imensidão deste poema - assim o julgo eterno.
Tal como a as palavras que o guiam, eu deambulo no vazio do suco que refresca o bolo que vos ofereço.
Desculpe a todos que esperavam uma festa -
Agora vos digo – eu não sei organizar uma festa, assim sendo tenho da vossa companhia motivos suficientes para estarmos em festa.
Que zanguem os homens das gargantas abertas, os das barrigas vazias, pois não há mas nada a dizer por isso sintetizo – eu não sei organizar uma festa.
Depois de uma conversa afiada com a minha mãe no cemitério - onde, eu fui lhe dar uma água, uma flor, um beijo, e jurar perante ela que eu já sou homem crescido e novo.
Já não sou aquele menino tal como o pai que destruía lares e eu sendo filho de peixe sabia nadar até no areal, e em contrapartida desmanchava prazeres das meninas, brincava com os sentimentos delas, agora sou um novo homem, 24 poemas me esperam,,,,,,,,,desde já juro fidelidade as garrafas e aos livros.
E mulheres preciso daquelas divorciadas, humilhadas, mal amadas, pois ontem á noite recebi o antídoto para este veneno chamado traição, e as minhas namoradas do passado que o presente tornou-lhas Ex. Nem sei onde foi o buscar este prefixo e o futuro chama-as por amigas, elas me amaram e eu as violentei domesticamente no meu pobre quarto de Madeira e zinco, no momento diziam me machuca, eu puxava-lhes as mexas, dava-lhes palmadas, e não tinham onde queixar pois pediam que as machuca - se, ponto final eu já não quero brincar ou fazer orgias com os virgens sentimentos destas miúdas.
O que me espera agora é viajar no silêncio de uma garrafa de whisky OLD PASCAS.

publicado por Revista Literatas às 05:43 | link | comentar | ver comentários (2)

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