“Pelas águas mestiças da história”
- Uma leitura de “O Outro Pé da Sereia”, de Mia Couto
Eduardo Quive - Maputo
De tese de mestrado em Estudos de Literatura pela Universidade Federal Fluminense no Brasil, Luana Antunes Costa, agora doutoranda em estudos comparados de literaturas de língua portuguesa, transformou o livro do consagrado escritor moçambicano, Mia Couto, “O outro Pé da Seria”, em um ponto de partida para a questão da mestiçagem.
Pela naturalidade da autora brasileira, podia-se logo a prior se imaginar o termo mestiçagem no mundo em que vive, sim, isso conta, mas conta principalmente a visão universal que Luana tem sobre as questões da raça, por isso o atrevimento de intitular a sua obra em que faz uma leitura do livro de um dos maiores escritores moçambicanos em “Pelas águas mestiças da história”.
Na obra, Luana Antunes Costa, que prefere ser tratada de professora do que escritora, justifica o seu encontro com o romance que é feito por um moçambicano a relatar acontecimentos nacionais, pelas vivências da terra brasileira sobre a questão das raças. Aliás, no debate a professora levanta através desta obra, o facto de que na sua terra reina um silêncio sobre o racismo e a desigualdade com que é tratado o negro, sendo por isso que usa a expressão “Mestiçagem” no livro.
Pode-se concluir (impossível) que neste livro, mais do que ler, Luana, faz provocações a sociedade brasileira, e diga-se a africana também, para um olhar sobre as vivências, atitudes e acções do quotidiano no que diz respeito à questão das raças.
“Acho que raça ficou uma palavra maldita, não se fala hoje. Existem metáforas. Vou falar de étnico. Agora a moda é o étnico. Vão usar outras palavras no lugar de raça. Quando estava a pesquisar esse romance de Mia Couto, a primeira coisa que me veio foi o que eu identifico ser um discurso da mestiçagem, que é um entre cruzamento das culturas, dos povos, das línguas, o conhecimento que se vai aprendendo com o outro nas trocas. Acredito que em “O Outro Pé da Sereia” é isso que está muito forte nesses encontros”. Considera a autora.
Por outro lado Allan da Rosa, também brasileiro, lançou no evento que teve lugar na Associação dos Escritores Moçambicanos, os livros “Zagaia”, “Vão” e “Da Cabula”.
De referir que os académicos Luana Antunes Costa e Allan da Rosa, se encontram em Maputo, para dentre várias actividades, realizar um intercâmbio cultural no âmbito do projecto “Brasilidades Africanas” realizado por estes e o Movimento Literário Kuphaluxa.
Já à passada, estes vem realizando várias actividades com o Kuphaluxa, com destaque para o Workshop sobre as Literaturas Africanas no Brasil, a exibição de filmes que retratam a cultura afro no Estado Brasileiro, e ainda uma mesa de debate sobre a Literatura Moçambicana e Brasileira na (AEMO), com um painel constituído pelos académicos Luana Costa e Allan da Rosa – Brasil, Juvenal Bucuane, Lucílio Manjate, Aurélio Furdela, Sangari Okapi e Clemente Bata – Moçambique.