Escrever para extravasar sentimentos através da Poesia
Por Eduardo Quive
O seu processo de criação não ultrapassa os meus humanos comandados pelos sentimentos, mas o produto final, que é a sua poesia, ultrapassa continentes e forma um horizonte que cujo alcance é sempre o mesmo para o leitor – a insatisfação. Lemos sempre, mas sempre, queremos mais. Na sua poética forma de “extravasar sentimentos”, navega o Atlântico que banha os trópicos da África, negra terra que a viu nascer, mas neste mesmo oceano, embrulha-se um outro continente que a acolhe temporariamente, como declara nesta entrevista. Aliás, segundo ela, na sua poesia, podemos encontrar o grito de saudades da mãe África “quem os ler, vê a saudade, a tristeza, a dor, até mesmo a revolta de ter visto os seus filhos partirem… “Mas havemos de voltar!”, já assim dizia Alda Lara!” é bancária de profissão e Portugal a acolhe desde a tenra idade, mas o seu berço, é aquele que é da humanidade – África, mais concretamente, em Angola, terra de Pepetela e Agualusa, exímios escritores dos tempos de hoje. Quem sabe ela também será! … Falo-vos de uma mulher que ostenta o nome de Fátima Porto.
Eduardo Quive: Que espaço ocupa a literatura na sua vida?
Fátima Porto: A literatura tem um espaço muito importante, desde a leitura de obras de autores nacionais e internacionais, como até a minha própria escrita.
Eduardo Quive: O que a leva a escrever?
Fátima Porto: Extravasar todos os meus sentimentos, sejam eles de dor, alegria, até mesmo de Amor.
Eduardo Quive: Quando é que escreve?
Fátima Porto: Sempre que sinto necessidade para tal, o que posso mesmo dizer, que é uma constante diária.
Eduardo Quive: A quanto tempo escreve?
Fátima Porto: Desde muito cedo que comecei a escrever, desde pensamentos poéticos a pequenos textos poéticos que mais tarde se transformariam na minha grande paixão literária.
Eduardo Quive: Que passos obedece o seu processo de criação?
Fátima Porto: Essencialmente a minha vivência do quotidiano; por vezes uma fotografia pode traduzir em mim, a essência “forte” para “entrar” dentro do contexto e transformar em letras tudo aquilo que sinto.
Eduardo Quive: Escreve só poesia?
Fátima Porto: Sim, apenas poesia.
Eduardo Quive: Porque razão?
Fátima Porto: É o estilo de escrita que mais se coaduna com o meu “EU”, e por outro lado, eu costumo dizer que “a poesia não se aprende, já nasce connosco”.
Eduardo Quive: Que influências literárias você tem?
Fátima Porto: Influências, não direi, mas gosto da obra completa de Florbela Espanca, Alda Lara, Fernando Pessoa, António Nobre no seu livro “Só”.
Eduardo Quive: Estarão (as influências literárias) iminentes no que escreve?
Fátima Porto: Inconscientemente, acredito que estejam, no caso de Alda Lara, pelo facto de ela ter morado em Portugal enquanto estudante, e nessa altura escreveu muito sobre Angola e as suas saudades, por outro lado, quem conhece a obra de Florbela, compara-me um pouco a ela, mas no essencial, é a minha Alma que “fala”, que “grita” a dor nela contida, e de mais ninguém.
Eduardo Quive: Qual é a sua maior preocupação quando escreve?
Fátima Porto: Conseguir transmitir o que sinto, passar através das letras os sentimentos, por vezes dolorosos, que me vão na alma.
Eduardo Quive: Que dificuldade tem encarado na criação de um texto?
Fátima Porto: Pouca dificuldade. Sou sincera, por vezes, começo a escrever, e as palavras fluem com tal ligeireza, que quando me apercebo, já estou na parte final.
Eduardo Quive: E qual é o espaço que tem para gritar os seus sentimentos expostos no que escreve?
Fátima Porto: Neste momento, tenho um blog (http://portodefatima.blogspot.com) onde por vezes dou gritos abafados, choro lágrimas secas, e olho o horizonte vazio de nada!
Eduardo Quive: Está nos seus planos lançar um livro? Sim, graças a um amigo, também poeta Ângelo Vaz, muito brevemente iremos editar um livro, em parceria, “CAPAS”.
Eduardo Quive: Tem publicado os seus textos no Brasil (jornal O REBATE) isso por falta de espaço no seu País?
Fátima Porto: Essa pergunta é pertinente, mas infelizmente, apesar de sermos observados por todos os lados, foi do Brasil, e mais propriamente do Jornal O REBATE, que recebi o convite para ser colunista diária do mesmo, que aceitei, claro.
Eduardo Quive: Quer comentar sobre a situação em que situação está a Angola em termos de divulgação de novos autores?
Fátima Porto: Angola, como todos os novos Países Lusófonos, está a dar uma grande evolução na divulgação dos novos autores.
Eduardo Quive: Tem contacto com as literaturas de outros países Lusófonos?
Fátima Porto: Sim, é uma grande preocupação minha ter contacto com a literatura de todos os Países, principalmente Lusófonos.
Eduardo Quive: E de Moçambique?
Fátima Porto: Também, claro. Mia Couto, por exemplo, esteve recentemente em Portugal, e segui com muita atenção, inclusive, o programa de TV onde o escritor, na sua intervenção, dissertou, sobre o tema “Ter medo que o medo acabe”.
Eduardo Quive: Acha que há uma interacção literária entre esses países?
Fátima Porto: Sim, acho que há, mas a meu ver, deveria haver interligação através de Congressos, abrangendo também os que estão a dar os primeiros passos na literatura.
Eduardo Quive: Quer mencionar a sua lista de escritor lusófonos?
Fátima Porto: Milton Gama, Carlos Drummond de Andrade, Mário de Miranda Quintana (ambos brasileiros) Agostinho Neto, Alda Lara, José Eduardo Agualusa, Pepetela, (angolanos) Mia Couto, Ruy Guerra (moçambicanos) Yara Tavares, Eugénio Santos (cabo-verdianos) Alda do Espírito Santo, Conceição Lima (São-tomenses), Luís Cardoso de Noronha, Fernando Sylvan (timorenses), Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Luís de Camões, António Nobre (antigos escritores portugueses, mas imortais) Agustina Bessa Luís, José Saramago – Prémio Nobel da Literatura, Miguel Esteves Cardoso, Miguel Torga e tantos outros…
Eduardo Quive: Sei que está no sector bancário, mas sente que há cultura de leitura no seio de estudantes?
Fátima Porto: Com as novas tecnologias informáticas, o gosto pela leitura dispersou-se um pouco, mas cabe aos Pais e aos Professores voltar a incutir esse gosto de LER!
Eduardo Quive: Que palavras diria a um iniciante da escrita?
Fátima Porto: Muito simplesmente: “Leiam muito, aprendam a gostar de ler para serem bons escritores”!
Eduardo Quive: Angola está presente nos seus escritos?
Fátima Porto: Claro que sim, Angola minha terra natal, está e estará sempre presente.
Eduardo Quive: Como?
Fátima Porto: Em vários poemas, desde “Menino””África I”, “África II”, “Para lá do mar”,”Mãe Preta África”… quem os ler, vê a saudade, a tristeza, a dor, até mesmo a revolta de ter visto os seus filhos partirem… “Mas havemos de voltar!”, já assim dizia Alda Lara!
“Para lá do mar”
Olho o mar
Pensativa
Calma que ele me traz
Estará pr’além do horizonte
Que tanto me atrai o mar
Saudades da minha terra
Que um dia deixei
Meu coração
Então ficou
Junto ao cheiro da terra molhada
Ainda sinto trazido p’lo vento
De tão longe paragens
É bálsamo para minh’alma
Ferida pela distância
Dá-me tal nostalgia
Lembrar dias que vivi
Gostaria de voltar a ver
Nas minhas mãos ter
Por entre os dedos escorrer
Pó e terra
Que me viu nascer
Para matar esta saudade
Prometi junto ao mar
Mesmo que fosse velhinha
Havia de lá voltar…
07/09/2011
Biografia:
Nome: Maria de Fátima de Carvalho Oliveira da Cunha Porto
Data de nascimento: 23 de Janeiro de 1959
Naturalidade: Catumbela, Benguela, Angola
Actividade Profissional: Bancária
Fez os seus estudos primários na Catumbela, continuando os mesmosem Novo Redondo(Sumbe). Concluiu o 5ºAno do Liceu em Benguela.
Veio para Portugal em 1975 onde continuou os estudos em Coimbra e Oliveira do Bairro.
Fátima Porto, fez parte da Rádio Voz da Bairrada em Oliveira do Bairro.
Nessa Rádio foi responsável pelos seguintes programas:
Programa Infantil semanal, “ Bola de Sabão”, (sábados à tarde).
Revista Semanal, Nacional e Internacional incluindo desporto, (programa semanal, aos sábados).
Voz de África, (programa semanal).
Pensamento Diário (temas generalizados).
Programa desportivo, como pivô (programa semanal aos domingos)
Muito cedo que a escrita poética é uma busca constante até os dias de hoje.
Faz parte da redacção poética de jornal O REBATE de Macaé-Rio de Janeiro, Brasil.