Tudo e mais um pouco sobre Valdeck Almeida de Jesus
Eduardo Quive
Valdeck Almeida de Jesus, um escritor, um jornalista que também serve o estado – funcionário público. Conhecido como exaltador da verdade pelos que tem coragem de viajar pelas suas obras. Falei medo e pode-se pensar que escreve coisas assustadoras, e pode até ser verdade, mas se considerarmos que ele fala de factos verídicos do quotidiano “Heartache Poems”, ”Yes, I am gay. So, what? – Alice in Wonderland” obra em que nesta entrevista o escritor chega a dizer que dentre vários assuntos, o autor faz revelações pessoais “Apaixonei-me por muitas pessoas. Desde a professora ao vizinho que nunca soube de minha admiração por ele.”
Por outro lado, Valdeck assusta a própria história da sua vida, contada em “Memorial do Inferno. A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden” – “Tanto mostro as coisas boas, quanto as ruins. Nasci em Jequié-BA, onde passei muita fome e comi coisa do lixo. Não tive brinquedos, não tive uma casa própria, não tive acesso a uma educação e serviço de saúde mínimos.” Pois é, estamos perante, um escritor de longas viagens da vida transmitidas em jeito de boa literatura.
Valdeck fale-nos do mistério que norteia o seu primeiro livro (corrija-me se estiver errado) o “Heartache Poems. A Brazilian Gay Man Coming Out from the Closet”? trata-se de alguma revelação de alguma orientação sexual do autor?
Bem, os poemas são feitos tanto para homens quanto para mulheres e foram criados na minha adolescência, numa fase em que muitos jovens estão em busca de respostas para muitas questões da vida. Apaixonei-me por muitas pessoas. Desde a professora ao vizinho que nunca soube de minha admiração por ele. Todas as reflexões sobre estes sentimentos foram traduzidas em poesias, as quais eu paguei para traduzir e publiquei nesta obra.
“Heartache Poems” é um livro-confissão e ao mesmo tempo composto de poemas fantasias, as mesmas fantasias que povoavam minha mente, sobre sexualidade, posicionamentos políticos, incerteza do futuro, aspirações de trabalho etc.
Como é que o livro foi recebido pela classe crítica literária, social e pelo público em geral?
Uma obra literária sempre carrega muito do seu autor. Este tipo de literatura em que as paixões pessoais aparecem muito claras nem sempre são bem vistas, pois muita gente prefere viver no anonimato, na hipocrisia, vivendo uma coisa e dizendo que vive outra. O bom é quando um leitor se identifica com a história, tanto pode valorizar o livro quanto desqualificá-lo. Como diz Caetano Veloso, “Narciso acha feio o que não é espelho”. Nesse sentido, para quem gosta de ser exposto ou de aprender com a exposição alheia, o livro é bom; para aqueles que preferem viver na penumbra, viver de aparências, o livro é péssimo.
A crítica falou muito bem, mas não escrevo para os críticos literários. Quando faço uma obra, penso primeiro em mim, em como eu gostaria de comprar um livro. Depois, penso nos leitores, aqueles que levarão um exemplar para casa. Estes, os leitores, me elogiaram muito, principalmente os amigos (risos). Quanto aos inimigos meus e da literatura, prefiro que eles se calem e não saibam onde estou. É mais seguro para todos...
Na altura em que publica esta obra (2004) já era conhecido na esfera literária da Baia e até do Brasil. Algo mudou drasticamente na sua vida?
Eu sempre fui uma pessoa muito transparente. Quando gosto de algo ou de alguém, eu demonstro facilmente. Quando simpatizo, também faço com que a pessoa perceba. Se você relaciona minha vida com a publicação deste livro, pouca coisa mudou. Não sou uma pessoa que se expõe pelas ruas, não sou muito de participar de festas e encontros sociais ultimamente, mas na época da publicação eu estava em todos os cantos, praças, shows musicais. Recebi muitos elogios e fiquei feliz com o resultado.
Cada livro que escrevo é como um capítulo de minha vida. Aprendo muito quando estou colocando no papel minhas experiências e falando do que vi e vivi. Sou uma pessoa que preserva a tradição, mas ao mesmo tempo eu transgrido regras, sem agredir ninguém. Muitas vezes o mais agredido sou eu mesmo. O livro foi uma forma de dizer ao mundo o que eu pensava e sentia e isso foi o bastante. No dia a dia, sou pacato, caseiro, saio pouco, a não ser para casa de amigos e encontros literários. O que mudou em minha vida foi a forma de encarar as situações, os problemas e a tentativa de encontrar soluções. Não escrevo para chocar ninguém. O que escrevo é o que penso. Se minha forma de ver a vida escandaliza alguém, o problema não está em mim e sim em quem lê e se admira com minha obra.
No seu último livro, publicado em 2010, vem a falar do mesmo assunto referido no primeiro “o ser gay” desta vem sendo mais provocador em “Yes, I am gay. So, what? – Alice in Wonderland”…
Como eu disse, eu sou o que sou e não o faço para escandalizar. Aliás, minha vida é muito discreta, sou uma pessoa que paga impostos, cumpre regras, para no sinal vermelho no trânsito, pago minhas contas em dia, respeito a vizinhança etc. A literatura em minha vida é uma forma de desabafar, de transgredir, de gritar para todos que eu sou assim, que existo. “Alice in Wonderland” é mais um capítulo de minha vida, algo que passou. Na obra tem muita coisa real, verdadeira, que aconteceu comigo, e muita ficção. Há relatos de outras pessoas que transformei em literatura, e há personagens que nunca existiu de verdade. A provocação vem justamente nos relatos de pessoas que nunca teriam coragem de se declarar e me pediram para mostrar no livro que elas existem. Outros relatos são de pessoas que vivem vida dupla, de dia são funcionários públicos, advogados, e à noite procuram os prostíbulos, buscam as drogas etc... É a literatura retratando a vida real. Minha função é como daqueles fotógrafos que viajavam pelas cidades do interior, fotografando pessoas onde não existiam esse serviço.
Mas logo depois destes temas, vem um Valdeck Almeida de Jesus com outra face “Feitiço Contra o Feiticeiro”, mas escrevendo poesia. E como pode o feitiço virar contra o feiticeiro? A que nos direccionam os poemas nesta obra?
Este livro também é composto de poemas da minha adolescência. Eu disse anteriormente que o livro “Heartache Poems” era composto de obras diversas. O “Feitiço contra o Feiticeiro”, idem. O título do livro é um cordel, história fantástica criada por mim, com uma lição de moral. Este poema fala de um casal que procura ficar rico sem trabalhar e faz pacto com o Satanás para conseguir riqueza. Como nem sempre a riqueza vem sem obrigações, o cordel demonstra que enriquecer sem fazer força também tem consequências. Outros poemas deste livro são homenagens a pessoas, lugares e parte são reflexões de um jovem acerca da incerteza da vida. Esta obra está esgotada, mas é sempre muito procurada. Pretendo reeditá-la. Doei alguns exemplares para a Biblioteca Comunitária do Calabar, bairro pobre de Salvador-BA, e a criançada do bairro leu muito meus textos, inclusive teve mais leitores do que Carlos Drummond de Andrade. Fiquei muito feliz quando Rodrigo Rocha Pita, um dos coordenadores da biblioteca me deu a notícia. Fiquei tão feliz que patrocinei dois livros de poesias com crianças do bairro, cujo título é “Abre a boca Calabar”. Nestas duas obras os poetas mirins falam do bairro, da escola, da biblioteca e da vida deles numa cidade rica em cultura e em dinheiro e ao mesmo tempo tem bolsões de misérias e bairros inteiros onde as pessoas passam fome. “Abre a boca Calabar” é uma forma de denunciar isso. O bairro fica encravado entre prédios de vinte e trinta andares, perto de um shopping de luxo e próximo ao circuito do carnaval, por onde circulam milhões de dólares. No entanto, a localidade ficou abandonada desde a fundação, há mais de trinta anos.
Salvador é tida como a cidade onde tem mais negros fora da África. Se nos países africanos a fome e a desigualdade social massacram muita gente, em Salvador não é diferente. Ali se encontram pessoas com renda de milhares de dólares e pessoas que vivem com míseros centavos. A desigualdade é gritante. E o “Abre a boca Calabar” denuncia, de alguma forma, essa injustiça social.
Em geral, o que o leva a escrever? Sempre quis ser escritor? Que influências teve para chegar ao mundo da escrita?
O que me leva a escrever é a necessidade de gritar, de denunciar ao mundo tudo o que vejo. Tanto mostro as coisas boas, quanto as ruins. Nasci em Jequié-BA, onde passei muita fome e comi coisa do lixo. Não tive brinquedos, não tive uma casa própria, não tive acesso a uma educação e serviço de saúde mínimos. A luta foi grande mas consegui vencer, graças à educação que minha mãe me deu. Acredito que tenho compromisso com os outros cidadãos, pois não dá para se sentar à mesa para comer tranquilamente, enquanto outros irmãos passam fome. A injustiça me incomoda muito e escrever é uma forma de estimular as pessoas a pensar e a tentar mudar a realidade da vida. Na minha opinião educação é a arma principal que um cidadão tem direito. Depois de educado cada um pode escolher alternativas para modificar a realidade, influenciar para o bem ou para o mal. Não é à toa que muitos governantes se “esquecem” de investir em educação de qualidade. Com um povo desinformado fica mais fácil controlar o poder e impedir que as pessoas evoluam. Meus escritos lutam contra esta tirania que mata muito mais que tiros de canhões.
As influências primárias que tive para escrever foram as estórias que minha mãe me contava. Paula Almeida de Jesus era uma mulher aleijada das pernas, analfabeta e filha única. Mas apesar de não saber ler nem escrever ela tinha uma visão de mundo e uma ética muito fortes. Sempre me ensinou a respeitar o espaço dos outros, não invadir a privacidade alheia, evitar atrapalhar qualquer um. Eu me recordo que uma vez, por causa da fome, eu peguei um coco que encontrei num quintal aberto. Quando cheguei em casa ela mandou que eu voltasse e deixasse o coco no local onde encontrei.
Ter a poesia como o seu género, foi por opção própria? Qual é o seu percurso nos géneros literários?
A poesia veio com os cordéis, que são livretos vendidos em feiras livres e expostos em cordas nas praças das cidades do interior do Brasil. Minha mãe nasceu em Amargosa-BA, Recôncavo Baiano. Meu pai nasceuem Santo Antôniode Jesus-BA, na mesma região, onde a cultura popular é muito valorizada. Mamãe foi muito influenciada pela cultura local e passava para mim muitas das experiências de vida dela, me contava casos e estórias fantásticas. A poesia veio daí. Veio também de livretos de poesia que eu comprava na escola. A linguagem cadenciada, as rimas e a forma de escrever me encantavam. Comecei a querer escrever também do mesmo jeito e fui me tornando poeta desde os doze anos de idade.
Depois fui enveredando pelos contos, durante os anos de estudos na escola. Somente aos quarenta e três anos de idade comecei a escrever romances. Comecei descrevendo a história de minha família e depois disso já escrevi quatro livros, ainda inéditos. Agora já tenho muitas crónicas e artigos, influência do curso de jornalismo que fiz.
Mas logo a seguir vem-nos com prosa em “Memorial do Inferno. A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, mas como sempre, despertando atenção com mais uma história dramática – fome e a miséria por mais de vinte anos na sua família. Fale-me desses vinte anos de fome por si vividos?
Você está certo. “Memorial do Inferno”, como eu disse, foi meu primeiro textoem prosa. Esteromance foi escrito durante quatro anos. Eu sempre tive vontade de registar as memórias de minha mãe, os remédios caseiros que ela sabia. Mas nunca consegui parar para ouvi-la, escrever tudo aquilo em papel e transformarem livro. Eume achava incapaz de fazê-lo. Um belo dia, voltando da faculdade, no meio do trânsito, me veio à mente todo o resumo do livro. Quando cheguei em casa fiz um rascunho de umas dez folhas e daí em diante eu escrevia umas cinco páginas por dia. Infelizmente minha mãe não viveu para ter o prazer de ver o livro pronto. Mas sei que onde ela estiver está feliz com a obra.
Os vinte anos de fome me deixaram marcas profundas. Tanto em mim quanto em meus sete irmãos. A gente comia carne podre, catava peixe no esgoto, pegava comida estragada no lixo e dormia com fome muitas vezes. Minha família não tinha dinheiro para comprar uma casa nem móveis. Vivíamos de aluguer e quase todo mês o dono da casa nos expulsava por falta de pagamento. Era um sofrimento sem fim. Meu pai logo adoeceu e ficou maluco, foi internado por vários anos em clínicas para loucos. Minha mãe, paralítica, é que cuidava de tudo. A gente vivia de porta em porta pedindo um pedaço de pão, um pouco de feijão ou arroz. Morávamos perto de pessoas também muito pobres, que não tinham como nos ajudar. Quase sempre voltávamos para casa sem nada e passávamos o dia com muita fome. À noite, minha mãe nos consolava dizendo que no dia seguinte Jesus viria trazer comida. A gente acreditava, mas no dia seguinte ninguém aparecia na porta trazendo algo para saciar nossa fome. A revolta era grande, mas minha mãe sempre estava ao nosso lado, nos consolando. Eram dias e noites de tristeza. Muitas vezes eu ia trabalhar em troca de um prato de comida. E outras vezes, quando eu chegava da escola, tarde da noite, tinha que ir dormir e sonhar com comida, pois não havia nada para comer.
Tudo isso eu conto neste livro que faz rir e faz chorar. Muita gente se emociona muito com os relatos, pois são verdadeiros e carregam uma carga muito forte de emoção. Felizmente este tempo passou e hoje posso ir à padaria comprar pão, ao mercado comprar carne. Agradeço muito a minha mãe, que muitas vezes se humilhou pelas ruas de Jequié pedindo esmolas para nos sustentar e nos manter na escola, o que foi decisivo para que todos os filhos pudessem vencer na vida.
O que o levou a contar esta história ao mundo? Será pelo facto de ter vencido?
Eu conto minha história de vida para denunciar a desigualdade social e incentivar aos cidadãos a cobrar dos governantes uma postura respeitosa em relação à população. Escrevo para mostrar que se pode vencer com honestidade, sem envolvimento com drogas ou com armas de fogo. Escrevo para que meu filho e sobrinhos possam se orgulhar da família que tem e para valorizar cada conquista. Escrevo para demonstrar que, se eu não tivesse tido a educação familiar que minha mãe me deu, hoje eu seria um assaltante, um assassino, um político corrupto ou um vagabundo a viver às custas da sociedade. Escrevo para mostrar que é possível salvar uma geração da fome, da miséria e da falta de inclusão social.
Estamos perante um Valdeck Almeida de Jesus que nas suas obras fala-nos de factos reais e da sua vida quotidiana?
Exactamente. Eu não acredito em arte pura, em coisas sem sentido e sem provocações. Creio que um artista deve ser mais que um escritor, actor, dançarino. Ele deve mostrar ao mundo uma nova forma de ver, de fazer política, de conquistar direitos, sem guerras, sem sangue. A arte é uma arma poderosa e se o artista souber usá-la, faz uma revolução no mundo. O mundo só existe porque o homem existe e o homem tem direito de modificar o seu habitat. Eu não vou fazer uma obra literária apenas para divertir. Ela (a obra), vai divertir, mas também vai ensinar alguma coisa.
Que condições considera necessárias para se ser escritor?
Para ser escritor é necessário ser leitor. Eu leio de tudo. Leio jornais, revistas, rótulos de xampus, receita de remédio e de bolo, embalagens de qualquer coisa. Sou um consumidor de livros e de revistas e jornais. Um escritor não pode ser alheio ao seu meio social, não pode ser isolado do contexto em que vive. E para isso ele deve participar da vida da comunidade, mesmo que observando. Deve opinar, denunciar, criticar, divertir, ser cidadão pleno. Afinal, ele é dotado do poder da palavra e deve se valer disso.
O que considera bom escritor? Que livros você lê?
Leio Jean Wyllys, Carlos Drummond de Andrade, Agualusa, Guimarães Rosa, Cora Coralina, João Ubaldo Ribeiro, Jorge Amado, Renata Rimet, Leandro de Assis, Cymar Gaivota, Miriam de Sales, Domingos Ailton, Lima Trindade, José Inácio Vieira de Melo, Carlos Souza, Roberto Leal, Carlos Antônio Barreto, José da Boa Morte, Leo Dragone, Leandro Flores, Vanise Vergasta, Aline Vitória, Clara Maciel, Varenka de Fátima, Aurélio Schommer, Antônio Cedraz, Deomídio Macedo, Carlos Ventura, Carlos Conrado, Dé Barrense, Adolf Huxley, Saramago, Pablo Neruda, Gabriel García Marquez, dentre outros.
O que sabe da literatura de outros países lusófonos, em particular de Moçambique? Conhece ou admira algum escritor e uma obra moçambicana?
Eu conheço Mia Couto, de ouvir falar, mas ainda não tive oportunidade de ler obras dele. Agora estou conhecendo Eduardo Quive e mais alguns poetas contemporâneos. Pretendo me aproximar mais dos países lusófonos e dos seus autores. Por muitos anos o Brasil ficou isolado desses irmãos africanos, não pela distância mas pela falta de políticas públicas no sentido de incentivar intercâmbios. Não sou de esperar por iniciativas de governos e já estou me propondo a conhecer Moçambique, Angola, Cabo Verde e outros países de língua portuguesa.
Compara-se com algum escritor no mundo?
Acho que cada escritor tem seu estilo, sua marca pessoal. Eu não gosto de me comparar, mas ficaria muito feliz se minhas obras pudessem ser lidas e comentadas pelo mundo todo. Já publiquei três livros em inglês, justamente para tentar chegar a vários países, já que a língua inglesa é universal. Tenho meu estilo contestador e denunciador. Em minhas obras sou irônico e sarcástico. Não sei de outro autor que tenha estas mesmas características nem quero imitar ninguém. Se os leitores gostarem do que escrevo, vai ser ótimo. Se não gostarem, infelizmente não vou mudar o meu jeito de ser e escrever para agradar ou para vender livros.
Olhando para seu curriculum noto que é “muita coisa”, mas em que área específica você se formou?
Sou jornalista por formação concluída em Fevereiro de 2011. Apesar de ter iniciado vários outros cursos, os abandonei por problemas de saúde ou porque não me identifiquei com nada daquilo. Coincidência ou não, eu fundei, juntamente com Domingos Ailton e outros colegas de escola, em 1987, o Grémio Livre Dinaelza Santana Coqueiro, primeira entidade estudantil de Jequié após a Ditadura Militar. Neste grémio eu fui também fundador e director de imprensa do Jornada Estudantil, jornal que denunciava a falta de compromisso da escola com a educação. Vinte e quatro anos depois eu me formeiem Comunicação Social. Achoque meu destino era ser jornalista.
Notei também que se destaca na colaboração na imprensa baiana e brasileira no geral. Qual é a sua relação com o jornalismo?
No jornalismo eu tenho compromisso com a ética, com a justiça social, com a defesa dos direitos humanos, com as minorias e com a liberdade de expressão. Estas são minhas bandeiras.
Tem promovido vários concursos literários. Qual é o objectivo das suas acções?
Meu objectivo é dar oportunidade a muitos poetas que nunca seriam publicados por editoras comerciais. Os poetas são malditos porque falam da realidade, denunciam injustiças. Ao lado deles estou sempre. E o concurso abre portas e caminhos para estas pessoas que precisam de apoio e divulgação. Desde 2005 os concursos que realizo já publicou mais de 900 textos de poetas brasileiros, portugueses, moçambicanos e angolanos, argentinos, espanhóis, americanos, ampliando as fronteiras do Brasil e aproximando povos de língua comum.
Uma das questões a que sempre se dedicou, é a divulgação da Literatura Baiana e promoção de novos autores. Na sua opinião em que estágio está a Literatura Baiana e, no seu entender, quais são os que se podem chamar os autores do futuro nessa região?
Eu citei alguns autores baianos numa pergunta anterior. Há muitos outros. A Baia é um celeiro de cultura. Aqui florescem poetas, poetisas, cronistas, contistas, romancistas. Seria leviano de minha parte dizer que este é melhor que aquele e que aquele outro vai se sobressair. Quem pode dizer isso são os leitores. Mas nem sempre o valor de um escritor pode ser medido pela quantidade de leitores. Alguns escritores baianos conseguem patrocínio privado, outros são apoiados pelo Estado, e muitos vão ficar anónimos porque não concordam com as políticas partidárias ou culturais. Posso falar de minha simpatia por Jean Wyllys, Leo Dragone, Renata Rimet, Leandro de Assis todos os que citei na pergunta anterior, pois são pessoas com as quais eu convivo e sei que escrevem sobre a realidade e eles escrevem com a alma.
Quais são os seus planos futuros: na vida pessoal e no âmbito literário?
Pretendo encontrar um amor para a vida toda, para compartilhar minha vida e ser minha fonte de inspiração (risos). Sou funcionário público e pretendo continuar, para ter dinheiro para investir em literatura, sem precisar pedir a governo ou a empresários. Tenho um sonho de fundar uma editora baiana que valorize o autor baiano, sem deixar de dar espaço a africanos, argentinos etc.
Embora vencedor de vários prémios, pensa em batalhar por mais algum? Qual?
Meu maior prémio é quando recebo comentários de leitores. Seja para criticar, seja para elogiar. Escrevo para amigos e inimigos. Quando uma pessoa que nunca gostou de leitura pega um livro meu, lê e comenta eu fico feliz. Meu maior prémio é este. E é por isto que distribuo livros impressos nos eventos que participo; e é por este motivo que coloco minhas obras disponíveis em PDF, gratuitamente, na internet, para que muitos tenham acesso.
Vejo que para além de escritor tem outra profissão. Será escrita a sua profissão principal?
Minha profissão principal é no serviço público. Sou funcionário do governo federal brasileiro. Gostaria muito de poder viver de literatura, mas isto ainda é um sonho.
O que você mudaria no mundo se lhe fosse dada a presidência mundial por um dia?
A primeira coisa que eu faria era investir em educação na África inteira. Abriria milhares de universidades e cursos de literatura, arteem geral. Aarte liberta.
Acha que os escritores dos países da CPLP interagem entre si?
Não tenho informações suficientes para afirmar isso. Mas acho que podemos, todos, agir de forma coordenada, a fim de aproximar mais os países de língua portuguesa, especialmente os de África.
E os livros será que tem espaço de circulação nesses países? O que acha que deve ser feito?
Acho que o livro deve circular livremente entre os países de fala portuguesa, sem impostos. Talvez até de graça para os países que não possam comprar. Mas circular nos bairros, nas praças, não nos gabinetes e palácios. Falar de literatura e de arte é fácil, quando se está sentado num trono, numa sala com ar condicionado. O que é necessário é levar o livro ao leitor, onde ele estiver.
A propósito, à que país da CPLP você já viajou? E quando é que teremos o Valdeck e os seus livros em Moçambique?
Só conheço Portugal, mas mesmo assim só os pontos turísticos. Quero viajar a Cabo Verde, Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe e Timor-leste. Eu desejo ser lido nesses países todos. Moçambique está nos planos de minha próxima viagem. Se alguma editora quiser investir, eu abro mão dos direitos autorais por vinte anos, para que os livros cheguem baratos ou de graça aos leitores. Se você quiser, já posso enviar alguns exemplares para a biblioteca e para o Movimento Literário Kuphaluxa.
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VALDECK ALMEIDA DE JESUS, 45 anos, jornalista, funcionário público, editor, escritor e poeta. Embaixador Universal da Paz, Membro da Academia de Letras de Jequié, Academia de Cultura da Bahia, Academia de Letras de Teófilo Otoni, Poetas del Mundo, Fala Escritor, Confraria dos Artistas e Poetas pela Paz e da União Brasileira de Escritores. Publicou “Memorial do Inferno: a saga da família Almeida no Jardim do Éden”, “Feitiço contra o feiticeiro”, “Valdeck é Prosa e Vanise é Poesia”, “30 Anos de Poesia”, “Heartache Poems”, ”Yes, I am gay. So, what? – Alice in Wonderland”, dentre outros, e participa de mais de 60 antologias. Organiza e patrocina o Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus de Poesia, desde 2005, o qual já lançou mais de 600 poetas. Colabora com os sites Favas Contadas, PressReleases, Artigonal, Web Artigos, Recanto das Letras, Portal Literal, Portal Villas, Pravda, Zona Mix, Gay.Com, Observatório da Imprensa, PodCultura, Overmundo, Comunique-se, Dzaí, Difundir, Jornal do Brasil, Só Artigos e À queima roupa. Tem textos divulgados nas rádios online Sol (Diadema-SP), Raiz Online (Portugal) e CBN (Globo). Site: www.galinhapulando.com