Viver a arte de escrita a volta da fogueira
Lino Sousa Mucuruza - Lichinga
O espaço “Gincana de Arte” reúne todos os sábados vários artistas em sarau cultural a volta da fogueira, num dos maiores bairros da cidade de Lichinga. Em Chuaula, a tertúlia literária, faz-se sentir num movimento artisticamente diferente.
Gincana de Artes é um projecto literário idealizado pelo artista plástico, músico e jornalista da Rádio Moçambique – Emissor Provincial do Niassa, Eduardo Tocolowa, e o poeta declamador, igualmente, jornalista da província do Niassa, Mukurruza. O projecto, reflecte-se na realização semanal de saraus culturais aos sábados, num dos maiores bairros da província nortenha de Moçambique, denominado Chuaula, e a missão do mesmo, é a revitalização dos espaços culturais na cidade de Lichinga,
Numa altura em que a cidade de Lichinga vivia um silêncio cultural, com o encerramento do Cine ABC, outrora, o maior espaço que deu parte para a realização de muitos eventos culturais tais como, teatro, música, cinema, poesia e outras formas de expressão cultural, a nível provincial. No ABC, actuaram, igualmente, vários grupos culturais reconhecidos no País, como a Companhia de Teatro Gungu da capital moçambicana.
Mas, outras forças tomaram o espaço que pertencia a arte e os artistas. A infra-estrutura foi concessionada à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).
Vendo-se o silêncio, jovens uniram-se para criar a Gincana de Arte, espaço que reúne várias artes desde a poesia, teatro danças tradicionais, música artes plásticas, contadores de estórias e histórias, tudo a volta da fogueira.
Em entrevista concedida a revista Literatas os artistas revelaram a sua satisfação com a iniciativa, uma vez estar a revitalizar o desenvolvimento da arte a nível da província.
Pedro Fabião Pedro, poeta da província do Niassa com residência na cidade de Lichinga considera ser louvável, o projecto Gincana de Arte, e disse que vai trazer muitos benefícios não só para os artistas mais também para a província como também o País.
De acordo com Pedro, o País precisa de iniciativas do género para fortalecer a cultura moçambicana com particularidade na província do Niassa, por isso apoia a continuidade do espaço uma vez ser o único lugar já existente para os artistas.
“Terem nos tirado, no ano passado, o Cine ABC, aquele que era o maior espaço da província, para dar lugar o funcionamento da igreja, é lamentável. O governo, simplesmente não entreviu. Mas os artistas apesar de ficarem sem pai não arregaçaram as mangas e agora com o espaço Gincana de Artes veremos se pelo menos substitui o Cine ABC e possam fluir vários talentos, porque esse é um dos objectivos.”
Por sua vez, Eduardo Tocolowa, um dos mentores da iniciativa, para a Literatas, não escondeu a sua satisfação pelo espaço Gincana de Artes.
“Este espaço demorou chegar, mas como o chegou é só louva-lo e enveredar esforços para que esta iniciativa não termine por aqui. Para a criação deste programa, não custou – nos algum dinheiro. Vimos que a Direcção Provincial de Educação e Cultura não aposta nas nossas iniciativas e nos decidimos fazer as coisas da nossa maneira.”
Se contaram com apoios para a concretização da iniciativa, Tocolowa disse que “ já tivemos alguns apoios com pessoas singulares que nos deram uma viola e um piano, instrumentos que estão em uso no nossos espaços e temos também o apoio do proprietário do lugar onde a nossa arte funciona.”
Para terminar, o nosso entrevistado, teceu críticas à atitude dos responsáveis pela área da cultura a nível da província do Niassa.
“Se a Direcção Provincial da Educação e Cultura tivesse este espírito os nossos espaços teriam outra credibilidade no que concerne a valorização das nossas artes. Mas tristemente só existe esta instância, quando se trata de um festival e outros eventos de âmbito nacional e é por isso que as actividades culturais, muitas vezes, fracassam por falta de preparação e assim facto que nos deixa agastados.” Concluiu.