Cabo Nelci Nunes, um romancista poeta
14/06/2011 - Poetas Del Mundo - Brasil
Um romancista poeta ou um poeta romancista. É assim que o Cabo Nelci José Nunes Silva, mineiro de Belo Horizonte, se autodefine. Contrariando aqueles que não acreditam na sensibilidade de um policial militar, o escritor contemporâneo mostra a sua verve literária em obras como Tarumirim, A Cabeceira e muitas outras, com o mesmo potencial para entreter e emocionar o leitor.
Com 43 anos de idade, 24 deles dedicados à Corporação, Nelci está, atualmente, atuando no Centro de Referência, Controle e Tratamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis – CRCT-Aids, unidade instalada no Hospital da Polícia Militar – HPM, onde é reconhecido como um profissional competente. Nelci é casado com a secretária Nardélia Silva Ramos e tem dois filhos, Alexander, de 17 anos, e Henrique, de oito, que considera as suas maiores e melhores obras.
“Minha predileção pela literatura não interfere nas atividades de policial militar, pelo contrário, contribui para que eu entenda melhor o comportamento humano e os mais diferentes problemas que, cotidianamente, surgem no meu turno de trabalho”, ressalta. “Sou um escritor que, como tantos outros, observa o dia a dia das pessoas para se inspirar. Alguns dos meus poemas e contos são frutos do que ocorre em uma determinada época, que pode ser no passado, presente ou futuro”, destaca.
OBRAS
O seu primeiro trabalho – Tarumirim -, escrito aos 18 anos, continua engavetado até hoje, “por falta de patrocínio”, explica. Mas essa mesma obra, que está sendo revisada e ampliada pelo próprio Nelci Nunes, será, finalmente, publicada no ano que vem. “Com recursos próprios”, garante o poeta. “Infelizmente, os escritores desconhecidos do grande público sofrem esse estigma, que só é vencido quando o sucesso vem.”
O seu primeiro trabalho – Tarumirim -, escrito aos 18 anos, continua engavetado até hoje, “por falta de patrocínio”, explica. Mas essa mesma obra, que está sendo revisada e ampliada pelo próprio Nelci Nunes, será, finalmente, publicada no ano que vem. “Com recursos próprios”, garante o poeta. “Infelizmente, os escritores desconhecidos do grande público sofrem esse estigma, que só é vencido quando o sucesso vem.”
A sua segunda obra, no entanto, teve destino diferente, uma vez que o romance A Cabeceira, publicado em Fevereiro de 2010, esgotou em apenas um mês. “Foi um sucesso de aceitação, que me deu muita alegria”, exprime o escritor. O livro Histórias Inanimadas também lhe trouxe uma surpresa: recebeu, em 1998, uma apreciação especial do ex-presidente da República e então senador José Sarney, que escreveu: “Li o seu conto com o máximo interesse, e lembrei-me do escritor Edgar Allan Poe, em sua obra Histórias Extraordinárias. Bravo!”.
Uma das maiores alegrias de Nelci Nunes ocorreu, em maio deste ano, quando foi aprovado, em primeira sessão, para assumir uma cadeira na Academia de Letras João Guimarães Rosa, da Polícia Militar de Minas Gerais. “Foi uma das melhores coisas que me aconteceu na vida”, garante. Mas, não é só isso. O autor é o terceiro praça a entrar para ALJGR e também o primeiro cabo a merecer a honraria.
Inspirado em autores como Machado de Assis, Érico Veríssimo e Humberto de Campos, brasileiros, e no português Éça de Queiroz, Nelci tem, também, predileção por escritores estrangeiros, como o irlandês Jaimes Joyce. “Eles são os maiores do Planeta e merecem ser lidos e relidos, sempre.”
Essa admiração por grandes autores, Nelci percebeu que existe por todos os lugares que passou, como a Academia Municipalista de Letras, que o convidou para ser um de seus membros e ele não aceitou. “Na época, não estava preparado”, modestamente, recorda. “Mas, hoje, estou”, completa.
CONTOS
Como é autodidata, a exemplo do também escritor português José Saramago (in memoriam), o policial militar se enveredou também pelo caminho dos contos e, impulsionado pela vida na caserna, escreveu O Menino, “um suspense de excelente qualidade, segundo os leitores”, ressalta. Posteriormente, veio o policial O Caminho, história que remonta os idos de 2001 e trata de roubos ocorridosem Belo Horizonte. Esse conto ganhou o 1º lugar, como convidado, de um concurso da Academia Municipalista de Letras.
Como é autodidata, a exemplo do também escritor português José Saramago (in memoriam), o policial militar se enveredou também pelo caminho dos contos e, impulsionado pela vida na caserna, escreveu O Menino, “um suspense de excelente qualidade, segundo os leitores”, ressalta. Posteriormente, veio o policial O Caminho, história que remonta os idos de 2001 e trata de roubos ocorridos
Nelci Nunes escreve para todo o tipo de leitor, desde o mais exigente até o mais simples. Seu trabalho agrada ,principalmente, a quem procura escritores emergentes em bienais e em projetos como o Sempre um Papo, levado ao público no Palácio das Artes, em bares temáticos da cidade e até em alguns programas de televisão.
Para conhecer melhor o escritor, o caminho mais curto é adquirir uma obra sua ou acessar o site www.muraldoescritor.com.br, onde, com frequência, o policial militar publica trechos de seus livros, com o pseudônimo Nelci Nunes, o Falador. (Alexandre França)
POEMA AZUL
Dedicado a umas 'divisões' de mãe...
Rompe de encontro ao vento; ela, de olhar faceiro,
Sempre reunindo forças, e; com o sol renasce, não é pose,
Labor suave de pensamentos, versos, fábula...
Nesta sua recôndita poesia de fina ternura, reúne,
Mar, elementos, vozes, brilho; a mãe e o gesto de amar.
Tins... Parintins, seu coração é a Festa de Parintins,
Dos bois, em lugar algum não há, mais enfeitados.
Santa festeira, mãe que encanta. É sílaba solta, San...
Tosse discreta, caso de se fazer presente, cantos,
Tantos festejos, bumbo, tambores, tarol e tan-tan...
Nus, anjos, Barroco; mãe valorosa; filhos, anjos nus.
QUANDO A SORTE VOA
Saio à noite.
Ando sem rumo,
O casario passa por mim,
Segue lento, mal iluminado.
Mordo algumas pulgas,
Em busca do tempo perdido,
Teria sido mais feliz,
Depois do primeiro passo atrás.
Estou sendo fumado pelo tempo,
Lembranças monótonas, ruins.
Os mortos não sossegam de dia.
Viajam cada vez mais vivos,
Entre um silêncio e outro.
Aqui é proibido fumar.
Este depenado companheiro,
Solidário, traga-me aos poucos.
Viajo escondido na sua fumaça,
Incrédulo, desapareço em plena luz diurna...