Sexta-feira, 09.09.11

Dizer “poesia sem algemas”

Eduardo Quive - Maputo

 

Uma poesia para corajosos, para os verdadeiros “intelectuais” do povo, juntou jovens na capital moçambicana na última edição de Quinta D´Poesia, realizado desta vez no Parque dos Continuadores. Uma verdade que nos faz recordar do José Craveirinha, um autodidacta que se tornou no intelectual do povo. Escrevia as cartas de protestos, o povo lhe pedia para escrever um poema para reclamar da fome em fim, um poeta a dois passos a frente para alertar dos perigos que vêem. Para viver esses momentos que ressuscitam em mentes jovens, a Nkarigana Arte, nomeou o referido evento em “poesia sem algemas”.

 

Quis a arte desta vez, voltar-se às verdades. Falar dos problemas sociais sem medo nem receio. Libertar a alma e falar tudo como se não houvesse limitações, afinal de contas o artista sem liberdade é improdutivo.

Pedro Ubisse, mais conhecido pelo seu pseudónimo, Peter Pedro Pierre Petrosse, considera “poesia sem algemas” um título pertinente para o evento, isto porque foi uma oportunidade para dar a liberdade aos poetas, deixando estes mais livres para dizer aquilo que lhes convém, e não camuflar as palavras para que só sejam para aqueles que entendem a poesia.

“Diz tudo que lhe vem na alma. Simplesmente diz o que lhe interessa dizer, independentemente de ser uma crítica social. Não são poemas por encomendas falando de erotismo. Ele diz as palavras sem máscaras”.

Questionado se acha que a os fazedores da poesia estão limitados, o jovem poeta afirmou que “a poesia em si não tem algemas. Há uma coisa que costumo dizer – não sou bom em palavras ditas, sou bom em palavras escritas. Sou capaz de matar alguém só escrevendo. Alguém pode ler o meu texto e ter um ataque cardíaco. A poesia em si não tem algemas. Posso chegar ao fim do mundo sem sair daqui”.

“Viajamos pelo mundo sem sair de onde estamos. Hoje estamos num evento específico e acho que se eventos do género tinham que ser habituais. Mas no dia-a-dia, são poucos eventos dos géneros e tem tido pouco público, por causa das horas e dos dias. E muitas vezes assistem apenas o mesmo público”.

Por outro lado, Peter considera que em alguns meios de comunicação a poesia não tem sido difundida. Só aparece alguém a declamar quando é uma data especial. Difundem mais a música.

“Aparecem as notícias culturais quando um artista fez alguma coisa, como lançar um CD, um livro, exposição. Mas nunca falar propriamente da arte como um tema livre, como Poesia.” Disse.

 

Poesia em línguas nacionais

 

Muitos foram os que recitaram a sua poesia em línguas nacionais, principalmente o Changana, facto que levantou uma curiosidade de saber dos participantes a importância da miscelânea na literatura nacional, tendo em conta que estes são os novos aspirantes a poetas.

Peter Pedro Pierre Petrosse, um dos que tem se evidenciado nessa mistura, foi com quem falámos.

“Tenho misturado as línguas quando escrevo. Escrevo em Português, Inglês eem Changana. Paramim é tudo a mesma coisa. Acho que as línguas nacionais na poesia não tem tido muito espaço”.

Este aspirante, já conhecido nas noites de poesia e destacável pelo atrevimento de escrever em Changana, justifica o seu gosto em escrever desse jeito como uma missão natural que tem, por ser conhecedor dessa língua e “se soubesse falar todas línguas moçambicanas, escreveria em todas elas, para valorizar aquilo que é meu. Há essa necessidade”, declarou.

“É normal encontrar jovens que não conhecem nem sequer a sua etnia, muito menos sabem qual é a língua nativa. Em suas casas se expressam na língua portuguesa, tanto é na rua e na escola.

Por exemplo, eu sou machangana, e falo esta língua assim como todos da minha casa conhecem e falam esta mesma língua”, acrescentou Peter.

 

Francisco Júnior – “A Verdade Dói”

 

Poesia sem algemas, constitui uma oportunidade para jovens e adultos, ou qualquer quem seja se expressar sem medo. Abandonar o politicamente correcto e falar o que pensamos, mas também sem abandonar a característica principal da literatura, que é o estético. A partir do estético, abandonar o politicamente correcto e se expressar.

Politicamente correcto é fazer só para o “inglês ver”, escovando e se limitando a não criticar por interesses ou por medo.

A Literatura é um meio para a construção de uma sociedade melhor, por que o escritor está a dois passos mais à frente para alertar sobre o que está a acontecer. A literatura é uma disciplina popular voltada para a sociedade, é para o povo.

Convidado a dizer uma frase sem algemas, Francisco Júnior disse, “A Verdade Dói”.

 

Porquê poesia sem algemas?

 

De acordo com Elcídio Bila, da Nkaringana Arte, entidade que organiza as quintas de poesia, “poesia sem algemas” é enquadrado na programação Casa Moçambique, no âmbito dos Jogos Africanos a decorrerem em Maputo. “Na verdade é mais uma quinta de poesia, que habitualmente acontece na primeira quinta-feira de cada mês no Café-Bar Gil Vicente, apenas unimo-nos ao maior evento desportivo da África”. Explicou Bila.

Nkaringana Arte, em cada quinta de poesia escolhe um tema para a reflexão, e convida pessoas para debater sobre o mesmo, intercalando com a poesia e música.

Bila explica que para o nome “Poesia sem Algemas” não se teve uma razão especial para atribuiar, mas foi mais uma sessão onde se recitou poemas com conteúdo aberto, livre e frontal.

Sobre a valorização da poesia e aderência ao evento, “tivemos um número bom de aderentes, e aconteceu dentro dos parâmetros que a Nkarigana Arte esperava”.

“O nosso papel é difundir a poesia, juntando diversos actores ligados à literatura em geral e à música, e em contacto com outras artes criar um momento de exposição, onde vários poetas aparecem a mostrarem o seu melhor, e acima de tudo, a interacção cultural onde uns aprendem com outros, por isso que os eventos são grátis para todos os amantes da arte”.

 

Elcídio Bila, referiu ainda que está planificado que para a próxima quinta d´poesia, será dedicado ao tema “Labirintos”.

“Labirintos são ruelas, becos, isto é, muitos jovens optam por caminhos mais rápidos para alcançar as suas metas, e acabam se envolvendoem embaraços. Essaé apenas uma metáfora para discutir os problemas sociais”.

publicado por Revista Literatas às 19:02 | link | comentar | ver comentários (1)

Ekuethe

Mukurruza- Lichinga

 

       I

 

Ekuethe

Éamor

Évida

Émorte

Éguerra

Époesia

Éluta

Édança

Émentira

Éverdade!

 

     II

 

Ekuethe

São noites

Que se amargam;

São tempos

Diferentes!

 

publicado por Revista Literatas às 18:51 | link | comentar | ver comentários (1)

RECOBRAR

Pedro Du Bois - Brasil

 

Recobro a razão aos tantos anos

deixo de lado o esbulho

trabalhoso dos horários

e me solto em meses

antes naufragados.

Retorno ao horizonte

observável das promessas.

Abdico do direito

de ser a sociedade

concentrada em gestos.

Palmilho espaços descompassados

e me aproprio do caminho.

Devolvo cada pedra ao desenho anterior.

publicado por Revista Literatas às 18:29 | link | comentar

HEROÍS OU VI LÕES?

Heráclito Mucache-Maputo

 

Porque era tempo de se expulsar o colonialismo. Porque era tempo de se libertar a terra mãe e o povo. Chipande deu o primeiro tiro. Nosso herói. Mas porque é sempre tempo de alguma coisa acontecer, alguém veio a público para questionar sobre a legitimidade desse primeiro tiro, <<terá sido ele quem deu o primeiro tiro?>>. Essas e outras dúvidas por mais que pareçam esquecidas e ignoradas, permanecem a roer em algumas consciências.

Éneste contexto que eu pergunto: que é um herói?

Será que pode-se ser herói por apenas um período/momento da vida (para libertar o país da opressão colonial)? E em seguida, deixar-se de sê-lo (tornar-se no novo colono-opressor)? Será?

Ora bem, a experiência popular já disse: <<Ou morre herói, ou vive o suficiente para se tornar o vilão>>, o filósofo Nietzsche diria: <<O homem nobre está sempre em risco de se converter num insolente, e num destruidor.>> Foram de facto valores nobres que moveram nossos heróis a pegar em armas e lutar contra o colonialismo? Ou havia efectivamente uma corrida pela posse da terra? Da riqueza?

Não quero ser ingrato nem insensato, mas estou a tentar perceber se de facto um homem nobre pode se converter num insolente, num assassino. Note que, é perceptível que um homem mau se torne bom, mas um homem verdadeiramente bom, tornar-se mau é seriamente discutível, salvo caso de doença.

Quando o povo não ama seus heróis, sinceramente há que questio­nar a legitimidade dos mesmos, sem dúvida que há excepções, mas a maioria tornou-se vilã. Fracassaram como heróis! Se deixaram cor­romper! Não resistiram! Ou nunca tiveram vontade de sê-lo e fazê-lo, pois se foram a guerra e arriscaram as suas vidas para libertar o povo, porque razão esse projecto de liberdade/revolucionário cessou?

Agrava-se o cúmulo quando dentre esses heróis aqueles há que até são poetas, reconhece esses versos? Aminha dor/ mais a tua dor/vão estrangular a opressão// Aminha revolta/ mais a tua revolta/ vão falando da revolução. Lindo não é? Foi escrito por um poeta-herói que perdeu a fé, assim o diríamos.

Amim parece me que, projectos emancipatórios não devem ter fim, fora de tudo o que se diz para ridicularizar ou desencorajar tais projectos, eles devem continuar, pois é típico do homem buscar remé­dios para as suas dores. África tem poucos heróis, Nelson Mandela é um deles, herói vivo, não chegou a se contradizer, não se tornou vilão. Éum herói eterno!

publicado por Revista Literatas às 16:47 | link | comentar

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