Sábado, 17.09.11

“Pelas águas mestiças da história”

- Uma leitura de “O Outro Pé da Sereia”,  de Mia Couto

 

Eduardo Quive - Maputo

 

De tese de mestrado em Estudos de Literatura pela Universidade Federal Fluminense no Brasil, Luana Antunes Costa, agora doutoranda em estudos comparados de literaturas de língua portuguesa, transformou o livro do consagrado escritor moçambicano, Mia Couto, “O outro Pé da Seria”, em um ponto de partida para a questão da mestiçagem.

 

Pela naturalidade da autora brasileira, podia-se logo a prior se imaginar o termo mestiçagem no mundo em que vive, sim, isso conta, mas conta principalmente a visão universal que Luana tem sobre as questões da raça, por isso o atrevimento de intitular a sua obra em que faz uma leitura do livro de um dos maiores escritores moçambicanos em “Pelas águas mestiças da história”.

Na obra, Luana Antunes Costa, que prefere ser tratada de professora do que escritora, justifica o seu encontro com o romance que é feito por um moçambicano a relatar acontecimentos nacionais, pelas vivências da terra brasileira sobre a questão das raças. Aliás, no debate a professora levanta através desta obra, o facto de que na sua terra reina um silêncio sobre o racismo e a desigualdade com que é tratado o negro, sendo por isso que usa a expressão “Mestiçagem” no livro.

Pode-se concluir (impossível) que neste livro, mais do que ler, Luana, faz provocações a sociedade brasileira, e diga-se a africana também, para um olhar sobre as vivências, atitudes e acções do quotidiano no que diz respeito à questão das raças.

“Acho que raça ficou uma palavra maldita, não se fala hoje. Existem metáforas. Vou falar de étnico. Agora a moda é o étnico. Vão usar outras palavras no lugar de raça. Quando estava a pesquisar esse romance de Mia Couto, a primeira coisa que me veio foi o que eu identifico ser um discurso da mestiçagem, que é um entre cruzamento das culturas, dos povos, das línguas, o conhecimento que se vai aprendendo com o outro nas trocas. Acredito que em “O Outro Pé da Sereia” é isso que está muito forte nesses encontros”. Considera a autora.

Por outro lado Allan da Rosa, também brasileiro, lançou no evento que teve lugar na Associação dos Escritores Moçambicanos, os livros “Zagaia”, “Vão” e “Da Cabula”.

De referir que os académicos Luana Antunes Costa e Allan da Rosa, se encontram em Maputo, para dentre várias actividades, realizar um intercâmbio cultural no âmbito do projecto “Brasilidades Africanas” realizado por estes e o Movimento Literário Kuphaluxa.

Já à passada, estes vem realizando várias actividades com o Kuphaluxa, com destaque para o Workshop sobre as Literaturas Africanas no Brasil, a exibição de filmes que retratam a cultura afro no Estado Brasileiro, e ainda uma mesa de debate sobre a Literatura Moçambicana e Brasileira na (AEMO), com um painel constituído pelos académicos Luana Costa e Allan da Rosa – Brasil, Juvenal Bucuane, Lucílio Manjate, Aurélio Furdela, Sangari Okapi e Clemente Bata – Moçambique.

publicado por Revista Literatas às 11:57 | link | comentar | ver comentários (1)

"Mitos: histórias de espiritualidade" - Escrever para desvendar mistérios do além

Eduardo Quive - Maputo

 

É o seu décimo primeiro livro, primeiro foram os contos em “Xitala-Mati” obra publicada em 1987, seguiram-se, Magustana (novela-1992), “A Noiva de Kebera” (contos 1994), “A Rosa Xintimana” (romance 2001), “O Domador de Burros” (contos 2003), “Meledina ou a Estória duma Prostituta” (romance 2004), “A Metamorfose” (contos 2005), “Contos Rústicos” (contos 2007), “Contravenção, uma História de Amor em Tempo de Guerra” (romance 2008), Caderno de Memórias, Vol I” (contos 2010) e o recém lançado livro de prosa “Mitos – histórias de espititualidas” a que debruçamos neste artigo. 

Como se vê estamos a falar de Aldino Muianga, nascido a 1 de Maio de 1950, considerado um autor impossível de se prever o que vai lançar e quando o vai fazer. Mas há quem o tenta decifrar. Felipe Matusse e Nataniel Ngomane, escalam a vasta obra deste autor, este último indo mais longe, ao colocar ao lado de outras duas ilustres figuras da Literatura Moçambicana – Aníbal Aleluia e Paulina Chiziane. Estas comparações, surgem mesmo a propósito do novo lançamento de Aldino Muianga, da obra “Mitos – histórias de espiritualidade” – uma consagração deste escritor como um autor do além. Servindo-se do ser médico que o é por longos anos, para espreitar outras medicinas capazes de tratar outras doenças, que ascendem ao meio físico humano – o espírito. E assim navega, Muianga desta vez, em estórias curiosíssimas que se podem considerar da tradição moçambicana, mas que em algum momento, associam-se ao obscurantismo, mesmo que para uma considerável maioria, a valorize.

Aliás, mesmo sem querer esquivar do assunto em tratamento neste artigo, vale a pena recordar que a dias, quando se celebrava o dia da medicina tradicional, divulgaram-se dados que indicam claramente a associação dos moçambicanos á estes tratamentos, em cerca de 70 por cento.

Voltando ao assunto, Aldino Muianga, segundo estes estudiosos, vem demonstrar que é de facto um perito na matéria, de acordo, com o meio em que nasceu e cresceu (bairro Indígina, actualmente chamado Munhuana) e do trabalho que faz.

 

 

Escrita que revela a nossa identidade

 

Para Filipe Matusse, a quem coube a apresentação deste livro, Aldino Muianga é um autor no qual se revela a moçambicanidade e em “Mitos – histórias de espiritualidade” encontramos “uma nova proposta que aborda a nossa essência como seres humanos, por que nós somos seres que biológicos, sociais, espirituais e psíquicos. Então o Aldino Muanga neste livro, foi captar a dimensão espiritual e escorrer a volta dela.”

Matusse vai mais longe, ao considerar esta obra num “manual” em que se pode achar respostas daquilo que sempre quizemos saber como “porque é que existo, vale a pena realmente viver?” e conclui “é um livro que nos apazigua nos leva a um encontro nós próprios.”

Mas também, na óptica deste estudioso, Aldino Muianga é uma referência maior da nossa literatura e como médico/escritor, constitui uma figura que desbravou o caminho que muitos outros médicos seguem.

“Existe mais dois ou três médicos já com livros no país, mas ele foi o primeiro e todos estes o seguem. Quando ele publicou o seu primeiro livro em 1987, eu estava entrar na faculdade e já o tinha como referência.”

 

Um escritor comprometido com a causa da escrita

 

Por seu turno, o académico Nataniel Ngomane considera Aldino Muianga, como um escritor de grande dimensão, isto, porque tem um percurso e coerência na sua entrega na arte de escrever, facto que é comprovado pela sua vasta publicação literária.

Entretanto, Ngomane, explica que há grandes autores que se tornaram grandes apenas por um único livro, o caso de Luís Bernardo Honwana, mas este caso específico de Aldino, tem a ver com essa perseverança e entrega na escrita.

“Mas também é grande autor porque ele consegue fazer nos seus livros, aquilo que se quer que a literatura faça. Que é de alguma forma, mostrar muitos possíveis e aproveitar esses muitos possíveis para criar imaginários reais. E ele consegue.

Os textos de Aldino Muianga, particularmente aqueles em que retrata os subúrbios de Lourenço Marques (Maputo), consegue criar o imaginário real desses cenários.”

Nataniel Ngomane, compara Aldino Muianga com outros autores moçambicanos como José Craveirinha, Aníbal Aleluia e Paulina Chiziane.

Segundo o académico, há um elemento comum a todos eles que é o compromisso que estes têm com o País, ao trazerem por dentro dos seus textos as diversas realidades moçambicanas.

“Da forma como eles escrevem, embora cada um o faça da sua maneira, colocando-os juntos, nós percebemos que há, a partir desses autores, uma construção suficiente de um imaginário da nação, de um imaginário cultural, e esse imaginário acaba construindo nos leitores um imaginário da coesão nacional, portanto, a ideia da nação e duma identidade, isso por um lado.”

Mas quando fala de Craveirinha, Ngomane diz ser devido a um padrão de escrita e de um escritor, por isso que coloca tranquilamente o Craveirinha como padrão ao lado de escritor como Aníbal Aleluia, no caso particular da profundidade de tratamento de texto e do uso da língua portuguesa como é de expressão.

Contudo, a grande comparação do Aldino, é ao lado do Aníbal Aleluia.

“Não necessariamente o Craveirinha, porque os dois exploram antropologicamente o nosso mundo, trazem ao de cima, as nossas crenças, preocupações e inquietações. “Quando estou doente aonde vou? Vou ao médico ao hospital ou ao curandeiro? Alguém morre e tenho preocupações sociais, vou a campa de um familiar para poder sossegar o meu espírito. Isso é explorado por esses dois autores.”

As ideias de Nataniel Nogmane, que é professor de Literatura Moçambicana na Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane, levam-no a comparar ainda o autor, com Paulina Chiziane, por que esta também explora a espititualidade.

Para além de não ser, Aldino Muianga, o primeiro a explorar os temas sobre a espiritualidade, o Aníbal já o tinha feito e agora, a Paulina também desenvolve esses temas. Estes são autores que exploram esse lado com mais veemência.

Mas, Ngomane avança outros nomes como Mia Couto, Ungulani Ba Ka Khosa e Suleimane Cassamo que entram nessas histórias. Tal como acontece com a Lília Momplé e Calane da Silva.

“Mas o Aníbal, Aldino e Paulina, exploram de uma forma mais profunda e em obras singulares. É isso que me faz os colocar juntos. Há várias linhas que colocam o Aldino Muianga ao lado de outros autores.”

 

Feitas estas análises, Ngomane conclui que estamos perante um autor de obrigatória leitura por que contribui para de uma imagem de Moçambique não só como País, mas uma imagem das crenças moçambicanas, hábitos, sonhos, preocupações, organização social, cultural e religiosa.

“É como se fosse um cartão postal, uma radiografia da nossa sociedade. E a vivência que ele tem no âmbito da medicina, como médico a receber doentes desde que se formou a mais de 25 anos é uma experiência fundamental, porque a partir daí ele pode construir várias histórias que reflectem de alguma maneira, o jeito de pensar desses pacientes.”

E reflectir isso nos textos é de acordo com o académico, uma forma produzir um desenho de Moçambique e é importante que nós conheçamos esse desenho para sabermos quem somos, para onde vamos e para onde nós queremos ir.

Por causa disso, a Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane (FLCS-UEM), tem no curso de Literatura Moçambicana, uma lista de textos literários moçambicanos para e dentro destes, está inclusa a obra “O Domador de Burros” de Aldino Muianga.

Mas a nossa fonte refere que a outros níveis mais acima, nós começamos a introduzir mais livros deste autor para que o estudante tenha um leque de escolhas e poder trabalhar com um deles.

“Mas já vínhamos fazendo isto com vários autores, como é o caso de Ungulani Ba Ka Khosa, Paulina Chiziane e Mia Couto, mas sentimos uma necessidade de ir introduzindo mais escritores no leque de escolhas de estudantes. Fazendo isso, damos uma grande oportunidade aos estudantes de ter várias escolhas, mas ao mesmo temos, estamos a valorizar institucionalmente os nossos autores. Todos nós conhecemos Machado de Assis, Fernando Pessoa, mas próprios nossos autores não conhecemos. É papel da universidade contribuir na divulgação desses autores.” Concluiu.

publicado por Revista Literatas às 11:51 | link | comentar

Mabulu iku Yakana - Entrevista sobre uma radionovela

Eduardo Quive - Maputo

 António Novela, jornalista e produtor de rádio

António Novela é profissional de rádio. Trabalha há mais de 20 anos no emissor provincial de Maputo, da Rádio Moçambique (RM), o mais antigo e maior canal de rádio no País. É jornalista, detrás dessa carreira esconde-se um grande escritor de novelas. Nos programas, é um dos produtores do “Mabulo iku Yakana” que, quando traduzido literalmente para a língua portuguesa, significa “conversando se constrói”, muito conhecido no Sul do País, concretamente nas províncias de Maputo e Gaza. Trata-se de um teatro radiofónico que retrata problemas sociais do quotidiano, transmitido nas noites de domingo na emissora em changana, língua predominantemente falada nas províncias acima referenciadas. Dada a popularidade do programa, decidimos ter com este profissional dois dedos de conversa, aliás, trata-se de uma entrevista em que António Novela fala da génese do programa, e dos pontos que marcam a sua carreira. Tendo em conta o período em que inicia o programa, e as estórias que já contou aos ouvintes, pode-se considerar este um escritor e novelista, se calhar com maior produção em Moçambique. António Novela nos revelou que o Mabulu iku Yakana, foi criado antes da sua entrada na rádio, isto é, pode ter tempo maior que a sua estadia na rádio.

 

 

 

publicado por Revista Literatas às 11:32 | link | comentar

“Ninguém Matou Suhura”

Eduardo Quive - Maputo

 

Para Lília Momplé e os seus pais

 

“A felicidade jamais se alcançará definitivamente; é necessário conquistá-la dia a dia, com uma inabalável esperança no futuro, mas também com os ensinamentos do sofrimento passado.”

Lília Momplé, in “Ninguém Matou Suhura”

 

 

Lília Momplé, escritora moçambicana


 

Em Ninguém Matou Suhura, Lília Momplé nos remete a uma viagem sem retorno – primeiro pela forma active que descreve os acontecimentos, levando-nos a uma constante actualização dos acontecimentos.

Ontem, esta obra foi escrita por alguém cuja pela estava cansada da opressão, da impunidade, injustiça prevaricada por uma raça branca de estrangeiros, que já se tinham tornado donos de tudo. Falo-vos dos portugueses – concretamente – o relato do que “Aconteceu em Saua – Saua”, onde a autora ilustra os fatos datados de Junho de 1935 e a Abril de 1975.

  1. 1.     “Histórias que ilustram a estória”

«Ninguém Matou Suhura» não são apenas vives que a escritora nos leva a conhecer, mas trata-se de 5 contos – estórias que ilustram a história – relatados por quem as viveu e sentiu na pela, mais do que, por uma alma feminina que nos transmite, em cada parágrafo, alma de uma mãe que vive o calvário de ver seu filho atirado aos bichos.

Que não seja só por isso, até porque a esta obra, mais do que uma denuncia e desabafo dos macabros acontecimentos da era colonial em Moçambique, vem carregada de uma energia que a leva a renovar-se todos os dias, isto é, ler Ninguém Matou Suhura, é ter em si, o poder da escrita e em mão, uma verdadeira narrativa realista com dimensão única entre nós.

Ninguém Matou Suhura, é a consagração, logo a primeira, da Lília Momplé como uma verdadeira contadora de estórias em volta da lareira – Xitiku Ni Mbaula – pela objectividade da sua obra, mas pela eficiência do seu domínio da palavra, não deixa de criar uma convulsão para antes de nos passar a mensagem, fazer com que participemos das suas emoções.

Se bem que na literatura Moçambicana, pelo menos lançando um olhar para a presença feminina muito pouco nos é fornecido em termos livros, e da sua geração menos ainda.

Ilustrar a história através deste livro foi a chegada em peso, de uma mulher nas artes escritas, depois da reconhecida “ menina corajosa” Noémia de Sousa que inspira gerações, aliás, embora esta ter se destacado por ilustrar a história com a poesia, pode-se considerar a Lília Momplé, mais um braço direito na continuidade desta linha, mas de um jeito mais atrevido, ao ter pautado pelos contos.

 

  1. 2.      Contos para arrepiar

 

 

publicado por Revista Literatas às 11:26 | link | comentar

“Exerço a escrita como ofício”

Amosse Mucavele- Maputo

 

Uma notícia biográfica, por ele mesmo [agosto/2000]: Cláudio Portella, 27 anos. Escritor e Poeta. Legítimo representante da vanguarda contemporâneo na poesia brasileira. Nunca pertenceu a grupos. Acredita que a poesia atual, pois para ele nada é novíssimo, possui como característica o individualismo. Não o individualismo transparente, do qual refere-se Allen Ginsberg, quando interrogado acerca do que seria nudez na poesia, e esse imediatamente tirou a roupa.

Ointimismo de Cláudio Portella, não é coeso, não é translúcido, não é emblemático, não é panfletário. Mas falho, caótico e doentio. Sua poesia busca cobrir a falsa moral, desdizer o lengalenga dos intelectuais, dos doutos que apontam os falos alheios comparando-os aos seus.

A poesia de Cláudio Portella é uma velhinha de 4000 anos, que sobe ao palco para declamar seus versos, de botas, gibão e guarda-chuva.

Entre suas publicações significativas, figura a de Choque-de-chuveiro-elétrico (poema onde trabalha o verbo algo) no Suplemento Literário de Minas, Gerais um dos mais respeitado do país.

 

Literatas: Nainfânciaqualfoi o seu primeiro con­tacto marcante com com aescrita?

 

Cláudio Portella

CLÁUDIO PORTELLA: Aos domingos costumava anotar toda a programação da TV. Eu me preparava com papel e caneta numa estante próxima à TV e ficava anotando o nome de cada programa que ía passando. Éprovável que esse tenha sido meu primeiro contato marcante com a escrita. Pensando melhor eu já naquela época estava exercendo o jornalismo. Minha literatura tem grande influência do jornalismo impresso. Tanto é que já há alguns anos venho praticando o jornalismo literário.

 

Literatas: Que espaço os livros ocupam no seu dia-a-dia? A leiturade algumaforma, influênciano seu trabalho e no seu quotidiano?

 

CLÁUDIO PORTELLA: Os livros são meus materiais de tra­balho. Trabalho com livros todos os dias. Estou sempre lendo. Ler e escrever são as atividades que mais me dão prazer. Como sou jornalista literário os livros fazem parte do meu trabalho e do meu cotidiano.

 

Literatas: Oescritor peruano Mario Vargas Llosacertavez disse o seguinte “aminhapassagem pelo jornalismo foi fundamentalcomo escritor.” Como porta-voz dasociedade você percebe naliteraturaou no jornalismo umafunção definidaou mesmo práctica?

 

CLÁUDIO PORTELLA: Creio que assim como o Vargas Llosa minha literatura tenha uma dívida com o jornalismo. Falar de uma função e da praticidade da literatura e do jornalismo não é fácil. Acredito que tanto a literatura como o jornalismo tenham muitas funções e muita praticidade. Aliteratura é mais introspecta que o jornalismo, serve mais ao espírito. O Jornalismo é mais cerebral e combativo. Tanto é que a imprenssa é tida como o quarto poder depois do Executivo, Legislativo e Judiciário.

 

Literatas: Quais são os autores imprecindiveis nas sualeituras como escritor e leitor? Equais nuncam o abandonam?

 

CLÁUDIO PORTELLA: Deste a infância sempre gostei de ler. Sou um leitor versátil. Leio os clássicos mas não me bitolo à eles. Imprecindível é uma palavra perigosa. Como leitor gosto muito da poesia de Fernando Pessoa e da prosa de Machado de Assís. Como escritor busco permanecer no meu  caminho próprio e aí não sou abandonado pelas leituras, eu as abandono.

 

Literatas: Neste mundo cadavez mais globalizado, tão afeito ao imagético, com um nívelelevado de analfa­betismo, e com umadiversidade culturalabragente. Oque te levaadedicar-se aarte de escrever numaeraonde ler um livro não é apalavrade ordem?

 

CLÁUDIO PORTELLA: Não exerço a escrita como arte, mas como ofício. Se minha profissão é escritor, então: escrevo! Se minha escrita despertar inter­esse, que leiam então.

Literatas: Oescritor angolano José Agualusadisse certavez que “o escritor africano deve sair do gheto”, sendo o escritor avoz dos que não tem voz, asuainter­venção socialnão só deve cingir-se aescritanum país com baixos niveis de leitura, o escritor deve se expor nasociedade, comungadamesmaideia? Oser escritor compensa? Equalé o papeldo escritor?

 

CLÁUDIO PORTELLA: Sou plenamente de acordo com José Agualusa. Todo escritor deve sair do gueto e mostrar a cara, dizer a que veio. O trabalho do escritor não e somente escrever, mais também participar de debates, dar ent­revistas e opinar sobre o mundo etc. Ser escritor é uma profissão recompensadora, sim! O escritor deve escrever e opinar sobre as coisas do mundo.

 

Literatas: A línguanos une, mas continuamos muito dis­tantes um do outro, em termos globais qualé o estado cliníco daliteraturade expressão portuguêsa? Eo que aliteraturado seu país recebe dos outros quadrantes lusófonos, concretamente os africanos, refiro-me aliteraturamoçambicana, angolana, guineense, cabo-verdianaetc.

 

CLÁUDIO PORTELLA: A literatura feita em língua portuguesa, sem dúvida, é uma das mais fortes. Acredito que no momento atual a litera­tura brasileira não tenha influência nenhuma da literatura africana de língua portuguesa. É lamentavel, mas o mercado editorial brasileiro desconheçe a literatura de língua portuguesa feita na África.

 

Literatas: Se em Moçambique, Angola, Cabo-Verde, São-Tomé, Timor Leste etc, o grande problema que cruz ao caminho do escritor é encontrar uma Editora onde possa publicar o seu trabalho, e em seguida alguém que compre e lê a mesma, creio que em Portugal e no Brasil acontece o inverso. Ou seja, compreende-se que as possibilidades de publicação, nesses dois países, são bem maiores que as nossas, com isso, não corre-se o risco de se ter muita obra imatura nas prateleiras. Qual a sua opinião sobre isso?

 

CLÁUDIO PORTELLA: Certamente o mercado editorial de Portugal e do Brasil oferecem maiores oportunidades de publicação que o mercado Africano. Meu primeiro livro foi publicado por uma editora de Portugal. Mas o fato desses mercados serem mais activos do que o africano não quer dizer que seja uma maravilha. Tanto em Portugal como no Brasil (acredito que ainda mais no Brasil) os escritores (sejam eles iniciantes ou veteranos) tem dificuldades de encontra­rem editoras para os seus livros. A auto publicação ainda é uma alternativa cada vez mais forte. Quanto a imaturidade dos autores e suas obras isso é uma questão que depende de mercado. É uma questão do autor saber se já está pronto ou não. Aconselho que o autor submeta sempre seu livro a avaliações antes de publicá-lo.

 

Literatas: Que obra de um escritor de qualquer quadrante do mundo que os moçambicanos deviam ler urgentemente? E como formar leitores?

 

CLÁUDIO PORTELLA: Nenhuma leitura deve ser imposta como urgente­mente necessária. Necessidade e urgência na leitura é uma descoberta pessoal e individual de cada um. Facilitando o acesso ao livro. Melho­rando a renda per capita, dimuíndo o preço do livro, levando o livro até o povo. Aqui no Brasil costumamos dizer que o artista deve ir a onde o povo está. O livro deve ir a onde o povo está. Por que não distribuír bons livros para o povo?

publicado por Revista Literatas às 11:21 | link | comentar

Ana Mafalda Leite

Ana Mafalda Leite

Ana Mafalda Leite é poetisa luso-moçambicana e investigadora científica na área das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, Ana Mafalda Leite nasceu em Portugal, mas viajou para Moçambique ainda muito nova, onde frequentou a Universidade Eduardo Mondlane,em Maputo. Depoisde uma estadia prolongada em Moçambique, regressou a Portugal, onde passou a exercer funções de docente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Enquanto poetisa, publicouEm Sombra Acesa(1984), Canções de Alba (1989), Mariscando Luas ( 1992, em colaboração com Roberto Chichorro e Luís Carlos Patraquim), Rosas da China (1999), Passaporte do Coração (2002) e Livro das Encantações (2005).

A obra de investigação científica distingue os seguintes ensaios :

. “A Ilha de Próspero de Rui Knofli ou a Ilha de Caliban na poesia moçambicana - notas em torno de um mito de origem cultural”, in Camões, nº 6, Lisboa - Instituo Camões, 2000;

. “Lusofonias - Quando o Ibo se revê em Lisboa”, in JL, 2000;

. “Lusofonias - As Novas Aventuras de Sandokan ou de Serpa Pinto?”, in JL, 2000;

. “Lusofonias - As Parábolas de Mia Couto”, in JL, 2000;

. “O Último voo do Flamingo”, in Metamorfoses, nº 1 - Lisboa - ed. Cosmos, 2000;

. “Reflexões em torno dos conceitos de Regionalismo, Nacionalismo e Universalismo na Literatura Moçambicana”, in Ata Colóquio sobre Literatura Moçambicana, Maputo, Universidade Eduardo Mondlane, Maputo, 2000;

. “A Fraternidade das Palavras”, in Atas da Festa da Língua, Sintra, CM S, 2001;

Prefaciou também a “Obra Completa de Corsino Fortes”, publicada in A Cabeça Calva de Deus, Lisboa, D.Quixote, 2001.

É também autora de vários ensaios, traduções, artigos e introduções e recensões críticas.

Enquanto investigadora e estudiosa das literaturas Africanas de Língua Portuguesa, Ana Mafalda Leite dá um forte contributo, ao lado de outros nomes importantes como Pires Laranjeiro, José Carlos Venâncio, Manuel Ferreira, Salvato Trigo e outros, quer para a descodificação dos textos dos escritores dos países lusófonos quer para a divulgação de uma literatura que, tendo como suporte a Língua Portuguesa, lhe imprime a sua própria expressão.

Asua experiência e domínio do conhecimento nesta área fazem dela uma presença indispensável em colóquios, conferências e outras iniciativas na área, como participante e como moderadora.

Em fevereiro de 2002, foi convidada, a par de outros escritores, para as jornadas literárias “Correntes de Escrita “, realizadas na Póvoa de Varzim.

 

publicado por Revista Literatas às 11:13 | link | comentar

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