Quarta-feira, 31.08.11

11 Respostas Inspiradoras de Mia Couto

 

Mia Couto

E se você tivesse a oportunidade de entrevistar um escritor? Pois os alunos do 3º ano do Ensino Médio do Colégio São Luís,em São Paulo, tiveram. E não foi um escritor qualquer. Há duas semanas, os adolescentes estiveram com o moçambicano Mia Couto no auditório da escola. Em quase duas horas de conversa, os meninos não se intimidaram: fizeram perguntas inteligentes e não deixaram espaço para silêncios constrangedores (a propósito, veja o que o escritor tem a dizer sobre o silêncio na oitava pergunta).

Eu estive lá para acompanhar a entrevista e, junto com os alunos, ri e me emocionei com as respostas de Mia. Ao final, ainda tive a chance de perguntar a ele sobre a diferença que a Educação fez em sua vida. Confira abaixo a entrevista e encante-se com as histórias de Mia Couto, um dos maiores escritores africanos da atualidade. (Fiz questão de deixar as respostas na íntegra. Ficaram longas, mas valem a leitura, garanto!)

 

1 – Você lutou pela independência de Moçambique durante a guerra civil. Como a sua vivência como militante da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) marcou o seu trabalho como escritor?

 

Marcou de várias maneiras. Foi um processo longo, de escolhas, de um certo risco em um dado momento. Foi algo que me ensinou a não aceitar e a não me conformar. É a grande lição que tiro, que também me ajuda hoje a estar longe desse movimento de libertação, que se conformou e se transformou naquilo que era o seu próprio contrário. Mas eu acredito que ser uma pessoa feliz e autônoma é uma conquista pessoal. Não se pode esperar que algum movimento social ou político faça isso por você. Isso é algo que resulta do nosso próprio empenho.

 

2 – Como é ser escritor em Moçambique?

Vou contar um pequeno episódio que pode ajudar a responder a essa questão. Um dia eu estava chegando em casa e já estava escuro, já eram umas seis da tarde. Havia um menino sentado no muro à minha espera. Quando cheguei, ele se apresentou, mas estava com uma mão atrás das costas. Eu senti medo e a primeira coisa que pensei é que aquele menino ia me assaltar. Pareceu quase cruel pensar que no mundo que vivemos hoje nós podemos ter medo de uma criança de dez anos, que era a idade daquele menino. Então ele mostrou o que estava escondendo. Era um livro, um livro meu. Ele mostrou o livro e disse: “Eu vim aqui devolver uma coisa que você deve ter perdido”. Então ele explicou a história. Disse que estava no átrio de uma escola, onde vendia amendoins, e de repente viu uma estudante entrando na escola com esse livro. Na capa do livro, havia uma foto minha e ele me reconheceu. Então ele pensou: “Essa moça roubou o livro daquele fulano”. Porque como eu apareço na televisão, as pessoas me conhecem. Então ele perguntou: Esse livro que você tem não é do Mia Couto?”. E ela respondeu: “Sim, é do Mia Couto”. Então ele pegou o livro da menina e fugiu.

 

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publicado por Revista Literatas às 13:25 | link | comentar | ver comentários (5)

CARTOGRAFIA DO ECOAR E DO MIAR DO COUTO OU COMO VI AJAR COM AS 24 (C)OBRAS DO MIA COUTO

Amosse Mucavele - Maputo

 

Sobre a nossa a Terra disse que ela é Sonâmbula: com muita razão, sabem porquê?

-Porque ela não dorme fica dias e noites de mãos estendidas ao exterior a pedir esmola.

Amigos, num país visto como pobre os dirigentes são tão ricos! trocam de carros de luxo e gozam de mordomias , mas não tem nem se quer um livro na cabeça.(preocupante não é)

Por isso que digo as nossas elites são incultas (vendem a nossa terra a 30 dinheiros)

Além de tudo que acima croniquei, vejam só o profeta deu-lhes a porção, dada a incompetência deles fizeram tudo ao contrário, deram os venenos ao Deus e os remédios ao Diabo, nestes últimamentes nós o povo, encontramo-nos na berma de nenhuma estrada, sabem, sem onde guardar as nossas súplicas, sem onde pedir clemências, pois o Senhor Deus exilou-se na terra onde reside o Homem que lhe salvou da morte (por envenenamento perpetrado pela nossas elites) dando-lhe antídoto.

Quem me dera lá estar com eles debaixo daquela Varanda do Frangipani, a ouvir os Contos do Nascer da Terra.

Do que estar nestas Cidades dos partidos políticos com idades seculares no Governo, e onde os seus dirigentes consideram-se Divindades.

Eu cansei de viver neste País do Queixa Andar, vou-me embora, com um fio amarrado no pescoço (sei que Missangas não me faltarão), pelo caminho irei folhear as páginas desta Casa Chamada Terra e irei remar contra maré deste Rio Chamado Tempo.

Chegado a Uma Terra Sem Amós, constato que algo mudou, a aldeia cresceu, já são Vinte as Casas de madeira e Zinco. Mas ainda continuamos no Escuro e o Gato Abensonhado pressagia as Estórias do velho.

Alguém disse o velho está a morrer, o Gato não parava de tocar o Ritmo do presságio:

Retorquiu de novo-a biblioteca esta a arder.

-E eu nos meus Pensatempos confusos, surgiu-me a seguinte a pergunta? Como hei-de o ajudar?

-Pensei na Princêsa Russa, cortei a ideia porque a neve não pode extinguir as chamas, continuei neste pensaraltivo, afinei os meus Silêncios, dentro de mim uma voz uivava “Vou ficando do som das pedras. Me deito mais antigo que a terra. Daqui em diante, vou dormir mais quieto que a morte¹.”Pego no machado, pelo caminho vou Traduzindo esta Chuva que molha os ramos da minha alegria, de nada vale continuar aqui, mas, antes partir deixem-me descolar a Raiz do Orvalho.

Alguém disse - Ah, de nada resultará. De repente as Vozes Anoiteceram, era o início da Chuva Pasmada.

E agora vou me embora mesmo “a procura da outra Pátria esta não me pertence²”, pois O Mar Me Quer, é no mar onde vou pescar o meu sonho de se tornar noutro Pé da Sereia, caso não consiga concretizar este meu sonho, procurarei outra maneira de partir, assim sendo tornar-me-ei no Pensageiro Frequente deste Último Voo do Flamengo que me levará até a Jesusalém.



Glossário

1-Mia Couto in A Varanda do Fragipani

2-Celso Manguana in Pàtria Que Pariu

3-todas palavras a negrito fazem parte do acervo bibliográfico do autor acima referido -Princêsa Russa conto que faz parte do livro Cada Homem é Uma Raça. E outros livros

-No meu País tem um provérbio que diz - um velho que morre é uma biblioteca que arde.

-O gato e o escuro, Cronicando

- Estórias abensonhadas

-O fio das Missangas,....e outros ficam sob alçada do leitor, beijooooos.

publicado por Revista Literatas às 13:22 | link | comentar | ver comentários (2)

Ungulani Ba Ka Khosa: A África que o Brasil não conhece

Ungulani Ba Ka Khosa

 

 

 

Adelto Gonçalves- Brasil

Foto: Revista Berlinda

 

I

 

Enquanto as universidades e editoras portuguesas e brasileiras, praticamente, só estudam e publicam autores africanos lusodescendentes – com as exceções de praxe, na área editorial, como a Editorial Caminho, de Lisboa, que tem tradição na área –, pouco se lê sobre romancistas, contistas e poetas africanos autóctones ou mestiços que utilizam a Língua Portuguesa como meio de expressão. E, no entanto, em poucos anos, se a Língua Portuguesa – a língua do invasor e do colonizador – quiser sobreviver no continente africano – e com ela todo o legado lusófono –, será mesmo dos autores autóctones que dependerá.

Esse incompreensível silêncio – que reflete, pelo lado português, segundo o professor Patrick Chabal, do King´s College de Londres, certa saudade colonialista ainda não superada e, pelo lado brasileiro, descomunal desconheci­mento em relação a assuntos africanos – é o que explica que um livro como Emerging Perspectives on Ungulani Ba Ka Khosa: prophet, trickster, and provacateur, preparado pelo professor Niyi Afolabi, ainda não tenha sido editado no Brasil nemem Portugal. Eque, para lê-lo, tenhamos de recorrer à edição da Africa Press World Pres, Inc., com sede em Trenton, New Jersey, EUA, e em Asmara, na Eritreia, país do Nordeste da África, antiga colônia italiana, às margens do Mar Vermelho, que se separou da Etiópia em 1991.

 

publicado por Revista Literatas às 12:54 | link | comentar

Cidade dos Espelhos

Uma “Novela Futurista” de João Paulo Borges Coelho a ser lançada nesta quinta-feira as 18:00 horas no Instituto Camões em Maputo

Luís Carlos Patraquim

 

Deixemos delado a blague, para despistar, sobre a novela futurista, sub-título do autor a esta sua e nossa, por mérito dele, “Cidade dos Espelhos”

No princípio é a estranheza. Deixemos de lado a blague, para despistar, sobre a novela futurista, sub-título do autor a esta sua e nossa, por mérito dele, “Cidade dos Espelhos”. Como nos ensinou Sherlock Holmes, as primeiras evidên­cias são, a mais das vezes, o engodo para a fulguração final da razão omnisciente que, sob a trama de enganos, falsas pistas, equívocos, repõe a ordem de um percurso, apazigua a intencional e prazeirosa perturba­ção de um mundo. Saudoso opti­mismo positivista que a incerteza apartou do nosso convívio.

publicado por Revista Literatas às 11:46 | link | comentar
Quinta-feira, 25.08.11

Há falta de livrarias em Niassa

- Associação Progresso preocupada

Lino de Sousa Mucuruza - Lichinga
No âmbito do programa de promoção de um ambiente de leitura a associação progresso em parceria com direcção provincial da educação e cultura do Niassa promovem a V feira de livro e lançam a V edição do concurso literatura infantil na província de Niassa. Na cidade de Lichinga a feira terá lugar de 23 a 25 do mês corrente no balcão de informação turístico (BIT ) e na cidade de Cuamba 26 a 28 de Agosto.
Além da província do Niassa a associação progresso realiza estas actividades na província de cabo delegado e tem com apoio do Governo do Canadá e conta com livros de editoras como Ndjinra, Kapicua, JV, Paulinas ,Minerva central ,plural e texto editoras
Com cerca de 2.036 obras de entre didácticos, infanto-juvenis e literários.
Em entrevista a revista Literatas, Maria Ema Miguel, disse esperar que aja muitos visitantes principalmente a camada juvenil de modo que venha apreciar as diversas obras que lá estarão expostas na feira, “uma vez que teremos várias obras entre didácticos ate literárias e dizer que esta é uma oportunidade uma vez que na província do Niassa não temos livrarias então os estudante e professores pode comprar os livros nestas feiras pois os livros estarão acessíveis”.
O objectivo da feira é promover no seio dos estudantes e as comunidades em geral o gosto pela leitura ,pois a leitura é uma base de aprendizagem para todas as áreas de sabedoria da nossa ciência e assim sendo a realização desta feira livro é uma oportunidade para os estudantes desta província de modo a adquirirem os matérias para a consulta e não só é também oportunidade para o publico adquirir matérias para a leitura que é uma fonte de aquisição de conhecimentos e de salientar que a associação é uma ONG sem fins lucrativos mas como objectivo social geral de contribuir para o desenvolvimento das comunidades de base , com particularidade a atenção as crianças e mulheres
Estas actividades se encaixam no vigésimo aniversário da associação progresso
E todos os cidadãos venha apreciar e crer comprar o livro e também temos o concurso de literatura infantil podendo escrever histórias para crianças e submeter a associação progresso.
O regulamento esta disponível na associação.
publicado por Revista Literatas às 13:17 | link | comentar | ver comentários (2)

“A poesia não está fora de nós, nós é que inventamo-la”

Amosse Mucavele - Maputo
Literatas: O Lucílio Manjate começa a escrever em 1996. Porquê, para quê e para quem?
Lucílio Manjate: Penso que os escritores nunca sabem quando é que começam a escrever, porque sendo o acto da escrita um processo, que se liga a um outro processo, o da leitura, nós vamos escrevendo enquanto lemos, mas não registamos. É uma escrita ao nível do subconsciente, do íntimo, e que vai ganhando forma durante um tempo também impreciso, o tempo de gestação do escritor. É o tempo da criação da forma e que um dia vem cá para fora; no meu caso isso aconteceu em 96. Penso que nessa altura eu escrevia porque tinha que me situar, em termos geográficos, culturais, políticos, ideológicos, etc. Talvez seja o primeiro passo, esse. Essa é a leitura que faço hoje, lendo os meus textos um pouco mais crescido; escrevia para, a partir desse pressuposto identitário, inventar os meus sonhos, como todos os outros escritores inventam, e comunicar esses sonhos aos receptores dos meus textos. Partilhar um mundo possível.
Literatas: Sugere que o escritor não nasce numa folha em branco cheia de gatafunhos?
Lucílio Manjate: Exacto. Podemos entender essa questão como quisermos, eu penso que no papel ele apenas acontece. Perguntar quando é que o escritor nasce é sugerir uma discussão filosófica interessante, porque o texto primeiro acontece enquanto ideia, o embrião, e isso é na nossa mente e não fora dela. A metáfora de “nascer” aqui não pega, porque o ser humano vem para a luz, mas a luz do escritor está dentro dele, nunca fora. O homem sai da escuridão para a luz. O escritor faz o inverso, da luz para a escuridão. Talvez por isso queremos sempre voltar para esse mundo de luz, e procurámos como loucos um papel em branco para acender a escuridão que nos persegue.
publicado por Revista Literatas às 13:05 | link | comentar | ver comentários (1)

Pão Amargo

Finalmente chega um livro para a indústria dramaturga. Guilherme Silva é que escreve a obra “Pão Amargo”

Um livro de teatro como não surge há muito nas prateleiras das livrarias nacionais é a sugestão de Guilherme Afonso e sua editora, “Alcance”, em “Pão Amargo”. Nesta obra, o autor vai buscar pequenos detalhes da vida desta sociedade que é a moçambicana.
Este é um país de actores – de dramaturgos também. A frase pode não ser nova e já deve ter cansado, mas quando se volta à criatividade teatral em termos de produção de livros parece ganhar um outro sentido. Quando Lindo Lhongo, para alguns a maior referência da dramaturgia nacional, lançou “O Lobolo”, criou-se por momento um pequeno debate sobre a ausência de livros de peças teatrais.
A par da poesia e prosa – ou romances – existiu sempre uma clandestina vaga de dramaturgos, mas poucos fizeram a aventura em livro. Podíamos recolher belas peças de teatro nacionais que foram seguindo o seu crescimento, entre adaptações como “Mestre Tamoda”, de Neto Mondlane, até linhas impressionantes de “Aldeias dos Mistérios” de Dadivo José. São nomes que aparecem assim ao alto, mas podemos buscar tantos outros que não aparecem em livro.
Pão Amargo
Mas, contra a corrente, Guilherme Afonso, que chegou a Maputo – ou é melhor dizer Lourenço Marques – em 1959 para ingressar no Corpo de Polícia, curiosamente no período em que se elevava a literatura nacionalista, oferece-nos “Pão Amargo”, que sai pela Alcance Editores.
Há muito que Guilherme Afonso está na literatura, tendo aparecido em 1988 com o livro de contos “Circuito”, pela Associação dos Escritores Moçambicanos, e com poemas em “Memória Inconsumível”, pela Imprensa Universitária.
Em “Pão Amargo”, aborda a problemática social, começando pela confusão nas filas de “chapa”, como quem nos lembra que a partida para a vida começa numa paragem.
Esta é a imagem que nos salta à vista quando começamos a folhear o livro e nos deparamos com este diálogo que acontece na paragem:
“MULHER
- Eh! Senhor... O seu lugar não é aqui. Chegou agora e quer ficar à frente! O que é isso?...
INDIVÍDUO INTINTINTERPRPELADO
- Ora essa! Quem é que lhe disse isso? A senhora está muito enganada...”
Este diálogo decorre perante a passividade dos outros passageiros, o que desencadeia a ira da senhora devido à incapacidade das pessoas de reagirem perante actos anormais. Este “Pão Amargo” é uma história da vida
publicado por Revista Literatas às 12:58 | link | comentar

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