Sexta-feira, 29.07.11

Escritora brasileira Ana Rusche Maputo

Está a caminho de Maputo a escritora brasileira, Ana Rusche, que vem ao País com o propósito de conhecer a Associação Movimento Literário Kuphaluxa bem como capacitar jovens escritores e amantes da literatura no geral, sobre as técnicas de escrita na literatura contemporânea.

Ana Rusche estará na capital moçambicana de1 a5 de Agosto próximo e para além de uma oficina literária de dois dias, com cerca de 50 escritores emergentes e estudantes das diversas áreas, vai participar em saraus culturais, visitará a casa do maior poeta de Moçambique, José Craveirinha, e ainda, orientará palestras no Centro Cultural Brasil – Moçambique (CCBM), Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO) e numa instituição de ensino.

A literata brasileira, durante os cinco dias em Maputo, irá manter igualmente, encontros com escritores nacionais, que culminarão com a edição de um livro de entrevistas sobre a experiência dos mesmos na vida artística e literária em Moçambique.

Na sua bagagem, Ana Rusche trará livros da sua autoria e de outros autores do Brasil, para doar à associação.

Esta visita, resulta da amizade e parcerias que esta associação tem mantido com várias instituições e personalidades ligadas ao mundo literário, no âmbito da sua estratégia de intercessão com os países de Língua Portuguesa.

Por julgarmos importante esta visita para a cultura nacional, pedimos a colaboração do Vosso prestigiado Órgão de Informação na divulgação do assunto e na respectiva cobertura.

 

ANA RUSCHE

Escritora natural de São Paulo, Brasil, publicou os livros de poesia Rasgada (Quinze & Trinta: 2005, publicado no México em 2008) e Sarabanda

(Selo Demónio Negro: 2007) e o romance Acordados. A obra Nós que Adoramos um Documentário foi publicada em Setembro de2010, pela Editora Ouversaria da Palavra.

Possui extenso currículo de publicações (principalmente de poesia), tendo escrito em diversas antologias e revistas, brasileiras e internacionais, e traduzida ao catalão, espanhol e inglês. Participa em festivais de poesia no Brasil e outros países da América Latina, quando, por exemplo, ministrou palestras sobre poesia contemporânea brasileira na Universidade Autónoma do México (UNAM) e na Universidade Diego Portales em Santiago do Chile.

É formada em Letras e Direito pela Universidade de São Paulo (USP), mestreem Direito Internacionale doutoranda na área de Estudos Culturais (Letras - Inglês, FFLCH-USP).

publicado por Revista Literatas às 10:18 | link | comentar

Albino Magaia - Um homem aliado à liberdade

Albino Magaia

DESCOLONIZÁMOS O LAND-ROVER

 

Já não é carro cobrador de impostos

Nós descolonizámo-lo.

Já não é terror quando entra na povoação

Já não é Land-Rover do induna e do sipaio.

É velho e conhece todas as picadas que pisa.

É experiente este carro britânico

Seguro aliado do chicote explorador.

Mas nós descolonizámo-lo.

No matope e no areal

Sua tracção às quatro rodas

Garante chegada às machambas mais distantes

Às cooperativas dos camponeses.

Entra na aldeia e no centro piloto

Ruge militante nas mãos seguras do condutor

Obedece fiel a todas as manobras

Mesmo incompleto por falta de peças.

- Descolonizámos o Land-Rover

Com nossos produtos

Comprámos combustível que consome

Com nossa inteligência

Consertámos avarias que surgem

Com nossa luta

Transformámos em amigo este inimigo.

Nós, descolonizadores

Libertámos o Land-Rover

Porque também ficou independente, afinal

Transformaram-se os objectivos que servia

E hoje é militante mecânico

Um desviado reeducado

Uma prostituta reconvertida em nossa companheira.

Descolonizámo-la e com ela casámos

E não haverá divórcio.

De Tete a Cabo Delgado

Do Niassa a Gaza

Da sede provincial ao círculo

Este jeep saúda quando passa

O caterpillar, seu irmão

Outro descolonizado fazedor de estradas

E cruza-se com o Berliet atarefado

Ex-pisador de minas

Eles aprenderam com a G-3

Menina vanguardista na mudança de rumo

A primeira a saber e a gostar

A diferença antagónica

Entre a carícia libertadora das nossas mãos

e o aperto sufocante e opressor do inimigo que servia.

As mãos dos operários que o fabricam

são iguais às mãos dos operários da nossa terra.

Essas mãos inglesas que o criam

Um dia saberão que ajudaram a fazer a revolução

e vão levantar o punho fechado da solidariedade.

Ruge este militante nas picadas da Zambézia

Galga as difíceis estradas de Sofala

Passa pelos pomares de Manica

Pelo milho de Gaza

Pelas palmeiras de Inhambane

Na cidade do Maputo descansa.

Transporta pelo país os olhos dos estrangeiros amigos

que querem conhecer de perto a nossa Revolução

- Descolonizámos uma arma do inimigo

Descolonizámos o Land-Rover!

Aquelas quatro rodas de um motor potente

Aquela cabine dos mecanismos de comando

Aquelas linhas da carroçaria irmanadas ao medo

Já não afugentam o povo:

Homens, Mulheres e Crianças do campo

fazendo sinal ao condutor, pedem boleia.

Nós descolonizámos o Land-Rover

Por isso o povo já não foge.

 

________________________________________

Albino Fragoso Francisco Magaia (Lourenço Marques27 de Fevereiro de 1947-27 de Março de 2010) foi um jornalistapoeta e escritormoçambicano.

Na sua juventude, foi membro do Núcleo dos Estudantes Secundários Africanos de Moçambique (NESAM).

Foi director do semanário Tempo e secretário-geral da Associação dos Escritores Moçambicanos.

 

Obras publicadas

  • Assim no tempo derrubado. Maputo, Instituto Nacional do Livro e do Disco, 1982. (poesia)[1]
  • Yô Mabalane!. Maputo, Cadernos Tempo, 1983. (novela)
    • Prefácio de Gilberto Matusse.
  • Malungate. Maputo, Associação dos Escritores Moçambicanos, 1987. Colecção Karingana. (novela)
publicado por Revista Literatas às 10:08 | link | comentar | ver comentários (1)

O coronel de Ébano (Para além da dor, para além da vida)

Samuel Costa* - Brasil

 

Sair para o jardim

A claridade do dia

O lado do poente

Um quadro esplendido...

Diante daquela magnificência! Ouvi vozes vindas da rua...

Uma mulher falava numa voz suave... animadamente

Uma mistura de rara beleza

Que a todos encanta...Doces lembranças...

Tenho vivido momentos de infinita alegria

Mesmo assim, sinto a necessidade...

De experimentar...Uma nova vida...

Em um outro lugar.

Patrícia Raphael

Em memória de João Carlos Pereira

Enquanto cortava a grama, da casa nova, o coronel Alencastro pensava na sua difícil caminhada até ali. Estava usando sandálias de couro, camiseta regata e bermuda floral, estava vestido bem à moda do litoral. Cortava a grama da casa, que ficava a poucos metros do batalhão que iria assumir o comando no dia seguinte. Pensou na desconfiança de alguns e, mesmo na ira de outros, era sempre assim, seu pai e avô passaram pela mesma coisa, eram ambos policiais militares.

Seu pai com muito custo chegara a primeiro sargento ainda na ativa, mas seu avô acabara como cabo na reserva. Chegar até aquele posto sem fazer inimigos e contrariar interesses era praticamente impossível. O cheiro de clorofila que deveria estar impregnado no ar, mas não estava, no lugar um cheiro agradável de flores pairava no ar.

Alencastro na naquela altura pensava estar enlouquecendo, pois era o cheiro de impatiens, o mesmo do jardim de sua mãe. Um cheiro de saudade liberalmente pairava no ar, o coronel estava com a mente atormentada por pensamentos que o levavam muito longe, para além do tempo e espaço. Foi quando uma viatura, com três policiais, parou bem defronte à nova casa do coronel Alencastro.

- Oh negão me chama o coronel ai, tenho um recado pra dar ‘’prar’’ ele! Anda negão, chama o coronel logo!- Diz o solado que estava atrás do volante. O sotaque interiorano irritou Alencastro, o soldado, de cara gordo e sardenta, olhava para Alencastro com um certo desprezo, o coronel estava diante de mais uma batalha, um confronto que parecia não ter fim, e se acentuava toda vez que subia alguns degraus. 

   - Pode falar soldado, diz antes que te mande prender por não bater continência na presença de seu superior.



*Samuel Costa é contista em Itajaí.                      

publicado por Revista Literatas às 10:06 | link | comentar

Tarde de Domingo

                                                    (para Anifa)

 

 

A monotonia

o acaso

o tempo que se alonga.

 

Tardes de domingo

 

O calor aceso nas janelas

como uma flor ao Sol.

 

E o teu corpo

quieto e perfumado

no branco do lençol.

 

Afonso Almeida Brandão

(in «Reconciliação das Palavras», a sair brevemente)

publicado por Revista Literatas às 09:59 | link | comentar

Nkaringanarte prepara festa de cultura em homenagem a Samora Machel

“Samora, o soldado de Setembro” é o nome do projecto que a Associação Cultural Nkaringanarte está a preparar desde os meados do mês passado em homenagem ao Presidente de Moçambique Independente: Samora Moisés Machel. Tal como nos disse Abdil Juma, presidente da Nkaringanarte, “a nossa associação está a trabalhar no sentido de fazer o tributo a Samora no próximo dia 25 de Setembro, em Maputo. Queremos que seja um evento cultural único, de entre tantos em organização para celebrar aquela figura histórica”. Para o evento, estão já convidados cerca de 150 artistas inseridos em grupos de dança tradicional e moderna, grupos de teatro, músicos, declamadores, artesãos e humoristas.

“É um evento que contará com várias manifestações culturais, para além de concursos diversos sobre a vida e obra de Samora”.

 

Fonte: Jornal O País
publicado por Revista Literatas às 09:47 | link | comentar

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