Segunda-feira, 06.06.11

AEMO lança “Contos do Fantásticos” de Aníbal Aleluia


Por Eduardo Quive - Maputo
Um dos emblemáticos na história da literatura moçambicana, Aníbal Aleuia, embora já para além do mundo dos vivos, desde 1993, teve os seus contos publicados na última sexta-feira em Maputo, pela Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO).
O livro que se intitula “Contos do Fantástico” é a revelação de estórias, do misterioso mundo africano e, em particular, moçambicano, escritas pelo autor em 1988, antes da sua morte e que 20 anos depois, segundo Jorge de Oliveira, Secretário Geral da AEMO, a literacia dos mesmos não perdeu-se “a qualidade é inédita e o que escreve, até parece contemporâneo.”
Palavras como Tinlholo, Mhamba, entre outras citações relacionadas com feitiçaria ou a dita magia negra, que constituem o mundo do obscurantismo em que muitas famílias moçambicanas ainda vivem, podem ser encontradas na obra.
Aliás, são estes elementos antigos mas que não passam da literatura actual, que com “magia” e eloquência, Aníbal Aleluia escreveu para os homens de hoje, como se ao seu lado estivesse.
Jorge de Oliveira, sobre o facto de se lançar as obras deste escritor a título póstumo, referiu que “Morre o homem, mas a obra fica” e para além disso “o conteúdo desta obra é de grande qualidade literária e transmite estórias do quotidiano que nunca passa.” Concluiu.
Breve Apresentação do Autor
Aníbal Aleluia, identificação de Henrique Aníbal Aleluia, nasceu a 30 de Agosto de 1921, em Inhambane, e faleceu a 14 de Maio de 1993. Usou, por vezes, os pseudónimos de Roberto Amado, Augusto António e Bin Adam.
Exerceu vários ofícios, tais como carpinteiro, enfermeiro, professor, secretário administrativo, jornalista, ficcionista. Colaborou em diversos jornais e revistas como: “Itinerário”, “O Brado Africano”, “Elo”, “Revista d´Aquém e d´Além-Mar”, “Voz de Moçambique”, “Charrua”, “Tempo”, “notícias”, “Domingo” e “Vértice”. Publicou os livros “Mbelele e Outros contos”, 1987, “O Gajo e os Outros”, 1993, a título póstumo.
publicado por Revista Literatas às 01:54 | link | comentar

Aprovada proposta da política do livro


 
Reunido no seu primeiro conselho coordenador, o Ministério da Cultura aprovou a proposta da política nacional do livro, que deverá ser encaminhada ao Conselho de Ministros ainda este ano.


Trata-se de um instrumento indispensável e decisivo para a formação literária e artística, um documento basilar na construção de conceitos, na experimentação e descoberta de métodos de resolução de problemas no desenvolvimento do espírito de pesquisa e na libertação do imaginário.


Tal como fez saber o ministro da Cultura, Armando Artur, apesar do país estar a conhecer um crescimento considerável no domínio do livro, a ausência de uma política contendo linhas orientadoras do desenvolvimento no sector tem levado, em certos casos, à adopção de soluções incompatíveis e ao uso desnecessário de esforços, resultando em fracassos ao invés de reduzir o desequilíbrio e as assimetrias no seio dos intervenientes.

“Assim, havendo necessidade de o país dotar-se de princípios, objectivos e orientações, é aprovada a presente política do livro que reflecte a importância e a imprescindibilidade do livro na sociedade moçambicana”, disse Artur. O País
publicado por Revista Literatas às 01:50 | link | comentar

Estórias de meter medo


Hilário Matusse – O País


Concretiza-se, nestes sete contos, o objectivo de preservar o que de melhor a tradição/via oral nos proporciona, ao mesmo tempo que o HM contribui para o tão almejado desenvolvimento das competências nos domínios da leitura e escrita.


1. Quantas caras têm o medo? Ou entre o medo e o infinito da realidade é como se pode ficar no fim da leitura deste livro com um título sugestivo e convidativo, na medida em que remete para um campo agressivo e muito profundo que é o terror.


2. Hilário Matusse, escritor e jornalista moçambicano, juntou-se à Colecção Karingana – o espaço de maior prestígio que a Associação dos Escritores Moçambicanos edita e no qual, por via de regra, desfilam os melhores contistas deste país, estreando-se no género conto com estas “Sete Estórias de meter medo”.


3. E ainda bem que assim o é, ganha o autor e ganham as letras moçambicanas.


4. “O seu coração balança sensibilizado, e decide levar o bebé envolto em lençóis brancos que visualiza, estirado no chão arenoso defronte da sua casa para lhe dar conforto e dar, do bom coração de sua Margarida, o calor que a mãe que o abandonara não teve.”


5. Na verdade, e ainda que não sejamos atingidos pelo medo que as estórias comportam, deixamo-nos envolver pelo seu conteúdo e pela forma sublime com que se conta, juntando-se, assim, de um modo feliz, história e arte – ainda que as peripécias sejam estórias e não histórias.


6. “Aquela espera da hora do encontro tornava-se cada vez mais um suplício. Quase agoniava, e, impelido pela vontade de rever a sua amada, ganha coragem de ir procurá-la em casa, da qual só conhecia o quintal de chapa de tambor espalmada. E abalou-se.”


7. Concretiza-se, nestes sete contos, o objectivo de preservar o que de melhor a tradição/via oral nos proporciona, ao mesmo tempo que o HM contribui para o tão almejado desenvolvimento das competências nos domínios da leitura e escrita, bem como o alargamento e aprofundamento dos hábitos de leitura e escrita na nossa sociedade.


8. “Mas com o tempo, que cura tudo, as coisas lá se foram compondo. Construiu uma barraca para substituir a cubata; cercou-a com vedação de caniço e até colocou um portão de Madeira, ainda que mal amanhado. Casou-se, prosperou e até comprou uma bicicleta.”


9. Quantos medos nos metem estas estórias? Os que quisermos. Não aceitá-lo seria negar ou ignorar a magia que a diversidade cultural moçambicana comporta; e uma sociedade não se atropela nem se esquece, pois ela convive com o medo e a coragem, lado a lado, daí que tenhamos sido brindados com esta obra tão imbuída de uma linguagem requintada e, acima de tudo, de uma atitude aberta e múltipla.


10. “O sol estava no pico quando o regressado assomou e atravessou a entrada da delimitação da sebe de espinhosas que circundava as várias palhotas do seu clã. Ulularam, cantaram e dançaram todos os membros da família. Afagavam-se ainda em abraços e beijos, quando de repente Mundlelevo, quase petrificado, balbuciou: - O morto regressou?!.”


11. Só com diversidade poderemos ser mais de nós mesmos, só com alternância de ideias, escritas, rescritas, renovação das artes e letras e refrescamento de ideias a arte avança, a vida avança.


12. O debate faz bem, quanto menos tivermos o que se chama de ‘mais do mesmo’ mais a nação avança. HM sabe-o bem, por isso esta sua contribuição naquilo que são os patamares mais superiores da nossa liberdade cultural, o seu livro segue a luta que se baseia no slogan Abaixo as mesmices.
publicado por Revista Literatas às 01:48 | link | comentar

Um namoro entre a música e a lírica



 O escritor Dércio de Celestino Pedro estreou-se no panorama literário moçambicano com a publicação da obra “Quando o coração diz pára e outras entontecidas”, livro de poesia posto à venda desde Abril último, aquando do lançamento da 76ª Feira do Livro da Minerva Central, mas só na última semana de de Maio passado, aconteceu o lançamento oficial da obra.

O evento, que contou com a presença dos amantes da literatura, e não só, iniciou com a leitura de alguns poemas, por Helena Maguene. Para a apresentação da obra, coube a Arsénio Macaliche, companheiro literário de Dércio Pedro, que considerou que o seu papel era de “comentador” do livro, afirmando que o trabalho sério de crítica literária será feito pelos professores de literatura e críticos literários mais entendidos.

Ainda assim, na sua breve, mas lúcida intervenção, Macaliche avançou alguns elementos importantes para a leitura da obra, e para o desenvolvimento de uma expectativa em relação à evolução da escrita de Dércio Pedro, que nesta fase inicial se apresenta prenhe de possibilidades estéticas.

De acordo com Macaliche, há que felicitar o poeta pela sua coragem de cantar o Amor nestes tempos de “cólera social”. Para além disso, Dércio saiu-se bem neste seu primeiro livro, em muito do que faz, em termos de jogos de linguagem. Por exemplo, a sua incursão pela corrente de poesia concreta é bem conseguida. Portanto, a sua oscilação entre a poesia e a música é bem gerida – Macaliche considera que a ideia de um ser dividido é anunciada no título, pela convocação de Quimera, figura da mitologia clássica que representava um ser híbrido. Assim, o poeta oscila entre escrever versos para serem declamados e versos para serem cantados. Aliás, uma das marcas deste livro é precisamente a convocação de autores de “Bossa Nova” e música popular brasileira, sentindo-se que a métrica e o ritmo de vários poemas, principalmente da primeira parte do livro “Do Coração” apelam a estes estilos musicais. O País
publicado por Revista Literatas às 01:43 | link | comentar

Fatos


Pedro Du Bois – Itapema

Rarefeito em esperas
apresso o fato: pelas esquinas
ventiladores espalham efeitos
em papéis de balas

(descumpro a promessa do encontro
       e me encastelo em nobre causa)

     avanço o instante
     e me deparo em retorno
    
                   fujo ao contato

(desarrumo os papéis sobre a mesa
 e me instalo: a campainha
 toca ao recado).
publicado por Revista Literatas às 01:39 | link | comentar | ver comentários (1)

O palhaço perneta


Aline Pereira – Rio de Janeiro

No vácuo ao largo, um corpo que arde 

Inválido bardo ao canto, debalde: 

E treme com febre, mas finge que escreve, 

pendido à muleta um palhaço perneta.

Tal bobo, sacode e balança na corda,

e bêbado cede a perna, que esquece

sentindo no alto a lambida de vida

da lua, acordada, e ao meio partida.

"Falta a mim também um pedaço"

Volta à musa em consolo o palhaço,

sem dela enxergar toda a pança,

quando vem da plateia um Oh!

Arregala-se, gira o braço,

busca a amiga fatal do espaço,

e lunático em queda ele dança,

sozinho, sem partes, sem dó...

publicado por Revista Literatas às 01:34 | link | comentar | ver comentários (1)

Desnacionalizado


Izidine Jaime – Maputo 

Sou cidadão oriundo de uma nação onde os partos não têm maternidade.
Onde a noite é uma aventura desenhando o sol na insónia das nuvens, e, as fogueiras contam histórias no sul da noite, galanteando a música da natureza na boca dos grilos.
Sou como um estrangeiro apatriado pelo País que nascera, um País sem ventre, sem vida, por onde a fome vende aos homens o desafio de viver.
 Os impostos vendem buracos nas estradas e a pobreza é uma anáfora na boca da riqueza no ouvido dos pobres. (Somos ricos de Pobreza na riqueza que temos).  
Uma vez morto antes de nascer, vi no oráculo do mundo a sapiência fugindo dos homens, a tecnologia plantando a preguiça nos ombros da prosperidade e a raça da natureza a caminho da extinção. E os homens culpam ao tempo pelo actual reflexo da humanidade. Porquê? Foi então o vento que pariu a globalização?
Sou de um País onde o Lixo tem grandes mansões nos cantos da cidade, transbordando das lixeiras, sacia a fome dos homens com receitas desumanizadas e um aroma patrono das ruas ditando a não passagem de narinas abertas.
Ai daqueles que não tem transporte próprio, pois os transportes públicos são uma espécie de latas ensardinhando homens, os aromas se misturam, os sovacos se libertam libertando outra liberdade que não existe.
Nos tempos em que o tempo esquece-se de nós, a terra ajoelha-se de joelhos descalços e, na oração do tempo, os ventos fogem velozmente desrespeitando o parentesco das árvores, não sei que légua participam mas a meta é indefinida. Ah! O treinador do ciclone também participa despindo tudo quanto é nada. As nuvens abençoam torrencialmente os rios que embriagados vomitam a água para a margem das casas levando tudo do nada que tem. E nem si quer guardamos a chuva para a época agrícola e no rebolar do tempo ficam sem números para indemnizar a seca.
Sou de um País onde os naturais de lá não são de la, sem identidade própria vivem querendo ser os outros,   “uma coisa é ser de Moçambique e a outra é ser moçambicano”. 
publicado por Revista Literatas às 01:06 | link | comentar

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