Quarta-feira, 18.05.11

POEMAGRAFIA AO AZAGAIA*

 Amosse Matavele - Maputo

A musica (o RAP) é uma bomba nuclear que explode no ouvido de quem a escuta e a sua radioactividade desperta consciências adormecidas neste tapete politicamente correcto.  
No pais de mim (Eduardo white) existe um homem versus uma voz, que carrega uma trocha muito pesada,( estou a vos segredar ele disse-me que não descarregara nunca, mas sim irá aumentar o peso). 
Onde a cada viela e beco vai relatando as convulsões sociais que adentram a trocha por si carregada. 
este homem é a voz do povo( tal como sintetizou o povo e que esta no poder)
Colocaram-lhe pedras no seu caminho – não caiu continuo firme,
Mandaram-lhe parar, e ele respondeu – eu paro oh oh oh..............
Mandaram-lhe calar, e ele respondeu eu não calo oh oh.................... 
A sua babalaze é de turbilhões de homens desde os bêbados da cerveja, vinho, mal cuado, cachaça, e.t.c.........
Por causa do seu factor interventivo chamaram – o de oposição
e agora pergunto eu que país democrático é este sem oposição? 


_________________________________________________________
*rapper moçambicano autor do álbum Babalaze que contem musicas como: povo no poder, as verdades, as mentiras, e.t.c. 

publicado por Revista Literatas às 08:19 | link | comentar

"Monangambéé..."


 Américo Matavele - Maputo

Naquela roça grande
Não tem chuva
É o suor do meu rosto
Que rega as plantações;
Naquela roça grande
Tem café maduro
E aquele vermelho – cereja
São gotas do meu sangue
Feitas seiva.

O café vai ser torrado
Pisado, torturado,
Vai ficar negro,
Negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!

Perguntem às aves que cantam,
Aos regatos de alegre serpentear
E ao vento forte do sertão:

Quem se levanta cedo?
Quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
A tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
Panos ruins, cinquenta angolares
"Porrada se refilares"?

Quem?
Quem faz o milho crescer
E os laranjais florescer?
- Quem?
Quem dá dinheiro para o patrão comprar
Máquinas, carros, senhoras
E cabeças de pretos para os motores?

Quem faz o branco prosperar,
Ter barriga grande
- Ter dinheiro?
- Quem?

E as aves que cantam,
Os regatos de alegre serpentear
E o vento forte do sertão
responderão:

- "Monangambééé..."

Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo
E esquecer diluído
Nas minhas bebedeiras
publicado por Revista Literatas às 08:17 | link | comentar | ver comentários (1)

Dez Poemas de Silas Correa Leite




Condomínio Via-Láctea
 
A lua nova sobre o arranha-céu

Com rímel de nuvens e sorriso de miss

Não sabe de janelas abertas

No enorme Edifício Vulgata

De arquitectura espacial.



O edifício e o condomínio têm luas

Como tem ruínas e alguns fantasmas

Da rua olho todos os sinais

Janelas abertas são ruas no breu

Muito além do noturnal.



A lua e o breu noturno no alto céu

O condomínio e seus desenredos

As luzes e as janelas abertas

Talvez a Lua seja uma

Válvula de escape sideral.

...... ..................................................



No céu noturno da cidade grande

O prédio é só cimento armado

Mas a lua é uma janela

No Condomínio Via Láctea

Como um jogo de pinball.





Declamar Poemas

 
Para Regina Benitez

 
Não fui feito para declamar poemas

Ter timbre, empostar a voz, tempo cênico

E ainda dar tom gutural em tristices letrais.



Não fui feito para decorar poemas

Malemal os crio e os pincho fora

Para o poema saber mesmo quem é que manda.



Não fui feito para teatralizar poemas

Mal os entalho e deixo que singrem

Horizontes nunca dantes naves/gados.



Não fui feito para perolizar poemas

Borboletas são pastos de pássaros

Assim os poemas que se caibam crusoés.



Não fui feito para ser dono de poemas

Eles que se toquem e se materializem

Peles de pedras permitem leituras lacrimais.



Não fui feito nem para fazer poemas

Por isso nem cheira e nem freud a olaria

Apenas uso estoque de presenças jugulares.



Não fui feito eu mesmo. Sou poema

Bípele, cervejólo, bebemoro noiteadeiros

Quando ovulo sou fio-terra em alma nau.





Poema do Cego Pulando Amarelinha



Para Alberto Frederico Correa Santos



O cego pulando amarelinha

Toma o anjo pela mão

Você só vê o gesto táctil do cego, não

Vê jamais o anjo na sua condução

Em cada estágio de saltar sem pisar na linha.



O cego pulando amarelinha

Parece flutuar num balé

E sonda-o a rua de Itararé inteirinha

Perguntando o que nele enseja tanta fé

Céu e inferno; o cego parece que advinha



O cego e a sua amarelinha

Parece um milagre até

Toma-o pela mão o anjo; o cego se aninha

E pula e salta e vence e acerta o pé

Talvez porque céu ou inferno só dentro da gente é.





  Forfé de Pião Rueiro< /strong>



A madeira na mão um toco de imbuia cheirosa

Pedindo pro Jora da Marcenaria Estrela tornear

O pião pra jogar com a gurizada na rua descalça

Que a fieira tinha tirado de uma cortina de casa



O Seu Jora só perdeu um instantinho-prosa daí

Surgiu o pião rombudo qual coxinha de frango

Marrom lixado e um prego sem cabeça na ponta

Pro bicho correr doido como a bailar fox-trot



O pião na mão e o movimento no colo da idéia

Rua cheia de piás guris moleques curumins até

O sol de Itararé rachando revólver de mamona

Gibis do Flecha Ligeira na mão e tarde ardendo



Então a fila pra assistir a inauguração do pião

O coração tamborilando rabo de olho na mira

Enrolei a fieira na bundinha do pião maroteiro

E fiz panca de Burt Lancaster depois da maleita



Soltei o pião lazarento (que apelidei de Garrincha)

E ele foi de bubuia e fez reviravolteio na Rua Capilé

Foi um deus-nos-acuda dos guris serelepes torcendo

Pro meu pião querido ir de vareio no rio da bosta



Mas o caipora lazarento fez fricote zumbiu e parou

Na minha mão direita como uma roseira de brincar



Eu era criança e Itararé tinha uma barulhança pueril

Cresci virei peão de pegar no batente e fazer poemas



-0-





Poeta Escolhendo Feijão



"Um poeta escolhendo feijão/

N o parece nada poético/

Antes, piegas; na ótica vão/

Onirismos - metáforas do imagético/

Que pedaços ali se haverão/

Como palavras, no profético?/

(Que caldo na imaginação/

A situação até como arquétipo?)/

Um poeta escolhendo feijão/

Está em lavração errada/
publicado por Revista Literatas às 08:13 | link | comentar

Moça linda de pernas perpendiculares!


Eduardo Quive - Maputo

Menina preta de alma mista
Quero olhar-te com verde da sua esperança
Nas suas mãos de luta entregar-me
Viver-te.
Ampliar-te em meus horizontes
Machucar-te com as minhas mãos que afagam-te

Moça...
Menina de pais desconhecidos
Cor dos símbolos da sua mãe

Quero me apertar nas suas pernas paralelas
Deixar a minha língua saborear os seus encantos dissabores
Sem chorar os a favores
A vida dura com amizades fraternas

De que vivem os seus cabelos?

Seus cabelos
Seus ricos fios de cabelos
Somos nós,
Outrora chamados de pretos
Doravante negros

Os seus olhos
O encanto canto dos seus olhos

Agora verdes. A esperança.
Amarelos…cheios de riqueza
Vermelhos. Como o amor e solidão que não se separam.
Brancos…mulatos…unidos como a paz

Pelo seu nome, os seus filhos,
Esses que somos nós…
Moça
Conquistaram a paz
Para poder ti chamar

Moçambique
publicado por Revista Literatas às 08:06 | link | comentar

À VIDA

TXOPA-TXAPO - Mafalala
Arrone Valentim Maússe

se à vida que é à vida,
se não pudesse olhar
por quem a vive,
não seria o que é,
bela, rica, alegre,
por isso ame à vida,
com amor
Com paixão
e seja prudente com ela.
publicado por Revista Literatas às 08:02 | link | comentar

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é um projeto:

 

Associação Movimento Literário Kuphaluxa

 

Dizer, fazer e sentir 

a Literatura

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