Segunda-feira, 25.04.11

Delírios


De: Vicente Sitoe
 


Meus pensamentos me parasitam
As preocupações me escravizam
Olho para dentro de mim
Vejo um vazio tão grande
Tão grande quanto o nada
Será a morte que se aproxima
Ou a vida que termina?  

Sinto a leveza do nada
É tão pesada como as dunas
Do deserto da minha alma
Vejo uma luz branca flutuante
Me sinto transcendente
A viagem só está  a começar
Já me coloco pontos de perguntação 

Será que a terra não  é o paraíso
Prometido em vidas passadas?
O que fazer para continuar a existir?
Por quê a vida morre no caminho?
Coitado de mim, cheio de juventudes
Sonhos e planos abortados
Esperanças e amores decepcionados 

Vou flutuando entre vazios
A luz preenche o espaço
Oiço um som hipnotizante
Vindo do fim do nada
Sou uma alma descorpuda
Invisível para esconder a nudez
Ai... como odeio a morte!

Chamam o meu nome
Uma porta se-me abre
Parece a sala do Tribunal Final
Se tivesse coração, estaria a bater
Caminhei mais para o fundo
Uma alma me aproxima
Pede para eu terminar este poema
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publicado por Revista Literatas às 03:38 | link | comentar

Festa da palavra

De: Raffael S. Inguane - Maputo


Num banquete de poesia
A inspiração estava mergulhada em banho-maria
A mesa enorme, composta por sapiência
Expondo a gastronomia da ciência
O bom cheiro das estrofes me enlouquecia
Dos bons temperos se deliciava a minha alma vadia

Coberto de eloquência
Eu trazia no peito, versos de nostalgia
Abundavam no papel, palavras de origem dicionária
As figuras de estilo transportando magia
Com apetite pelo saber, eu devorava a filosofia

As mulheres eram indispensáveis naqueles momentos de alegria
Lá estavam as palavras semi-nuas fazendo a “putaria”
Em seus corpos eu estudava a geografia
E elas perdiam-se no embalo da ilegível caligrafia

Eu bebia,
Bebia todos os sons que traziam uma melodia
Garrafas de frases, em minhas veias era elevado o índice da alcoolemia
 Minha mente estava bêbada, eu declamando versos de magia
E no dia seguinte acordei com uma babalaze literária

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publicado por Revista Literatas às 03:28 | link | comentar | ver comentários (1)

ANDORINHA – 2 ANOS DE PROMOÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA E DA CULTURA EM LÍNGUA PORTUGUESA NA GUINÉ-BISSAU




Em Canchungo, a 24 de Abril de 2008, Marcolino Elias Vasconcelos, professor – sobretudo de Língua Portuguesa – no Liceu Regional Hô Chi Minh, e António Alberto Alves, sociólogo e voluntário, iniciaram o programa Andorinha na Rádio Comunitária Uler A Baand, que tem como objectivo a promoção da Língua Portuguesa e da Cultura em Língua Portuguesa e desde então mantém a sua periodicidade semanal, todas as quintas-feiras entre as 20.3h e 21.3h na frequência de 103 MHz. De imediato, para responder a diversas solicitações de apoio educativo, jovens estudantes tomaram a iniciativa de se organizarem em bankada*, para ouvirem o programa Andorinha e “praticarem a oralidade e ultrapassarem o receio de falarem em português”! Ao longo desse ano, constituíram-se bankadas nos bairros da cidade de Canchungo (Betame, Pindai, Catchobar, Tchada, Djaraf, rua de Calquisse, Bairo Nobo) e em algumas tabanka (Cajegute, Canhobe, Tame). Complementarmente, foi constituída a bankada central Andorinha, que concentra as suas actividades no Centro de Desenvolvimento Educativo de Canchungo e que tem organizado algumas iniciativas: sessões de vídeo, acções de sensibilização em escolas, feira do livro. [*Bankada é um grupo informal mas estruturado, sobretudo de jovens, que se juntam num local na rua, para ouvirem rádio – neste caso, o programa Andorinha e para praticarem a oralidade em Língua Portuguesa.]
Esta iniciativa Andorinha surge como pioneira num país onde a utilização da Língua Portuguesa é muito baixa e a sua riqueza parte da própria motivação de jovens estudantes se organizarem em autoformação. [ver descrição em anexo]

Complementarmente, neste ano lectivo de 2009-2010, estamos a realizar o projecto Andorinha – Promoção da Língua Portuguesa e da Cultura em Língua Portuguesa – um intercâmbio de escolas portuguesas e escolas no sector de Canchungo, Região de Cacheu, Guiné-Bissau. Tem como objectivo a montagem de um projecto bilateral de troca de experiências e intercâmbio entre um estabelecimento de ensino de Portugal e de um congénere na Região de Cacheu (Guiné-Bissau), que poderá proporcionar múltiplas vantagens recíprocas – e despoletar diversas acções de cooperação. Com efeito, a troca de correspondência escolar entre directores, professores e alunos, certamente aumentará o domínio da escrita em Língua Portuguesa entre os guineenses e promoverá o conhecimento sobre a Guiné-Bissau entre os portugueses. [ver descrição em anexo]
Neste sentido, as iniciativas Andorinha passarão a promover o uso oral e escrito da Língua Portuguesa no quotidiano dos jovens e estudantes guineenses.

Em Canchungo e na Região de Cacheu, a designação de “Andorinha” é já sinónimo de promoção da Língua Portuguesa e da Cultura em Língua Portuguesa. Como grupo informal, solicitamos a adesão à CONGAI – Confederação das Organizações não Governamentais e Associações Intervenientes ao Sul do Rio Cacheu, o que foi prontamente aceite.

Do que as iniciativas Andorinha têm realizado desde o início deste ano lectivo 2009-2010, destacamos:
- O envolvimento e formação de jovens das bankada Andorinha para apoiarem e realizarem o programa Andorinha na Rádio Comunitária Uler A Baand – todas as quintas-feiras entre as 20.3h e 21.3h na frequência de 103 MHz;
- As acções de apresentação das bankada Andorinha e a sensibilização ao uso da Língua Portuguesa realizadas no Complexo Escolar Santo Agostinho, Escola EBU, Escola 1º de Junho e ADRA – Escola Adventista, em Canchungo, por solicitação dos respectivos directores;
- A organização e realização da actividade “Nô Pensa Cabral!”;
- A entrega da correspondência escolar enviada pelo Agrupamento Vertical de Escolas Dr. Joaquim de Magalhães de Faro à direcção do Liceu Regional Hô Chi Minh em Canchungo;
- A constituição de uma bankada Andorinha em Bissau – na Paróquia de Brá;
- A sessão de apresentação das bankada Andorinha e a sensibilização ao uso da Língua Portuguesa realizada no âmbito do intercâmbio de alunos e professores entre o Liceu Regional Hô Chi Minh e o Liceu Dr. Luís Fona Tchuda de Gabú, sob o lema “Juntos para um ensino de qualidade face aos desafios do futuro”;
- O início da emissão do programa Andorinha na Rádio Babok – todos os domingos, entre as 21h e 22h na frequência de 98 MHz;
- A acção de apresentação das bankada Andorinha e a sensibilização ao uso da Língua Portuguesa realizada no Liceu Domingos Mendonça em Cacheu;
- A entrega da correspondência escolar e de diverso material enviado pelo Agrupamento Vertical de Escolas de Vila Caíz à direcção e professores da Escola Pública de Iniciativa Comunitária “Tomás Nanhungue” em Tame;
- A visita à bankada Andorinha “Umeeni” em Petabe.

De 19 a 25 de Abril de 2010 comemoramos este segundo aniversário do surgimento das iniciativas Andorinha, com a realização de um conjunto de acções:
- 19 Abril (segunda-feira): Entrega de 433 músicas em Língua Portuguesa, de 93 artistas/grupos de Portugal, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Timor Leste, à Rádio Comunitária Uler A Baand e Rádio Babok;
- 20 Abril 10h (terça-feira): Inauguração da 2.ª Feira do Livro no Centro de Desenvolvimento Educativo de Canchungo;
- 20 a 24 Abril (8.3-11h e 16-19h): 2.ª Feira do Livro no Centro de Desenvolvimento Educativo de Canchungo;
- 24 Abril a partir das 16h (sábado): 2.ª Festa Andorinha na COAJOQ – Cooperativa Agro-Pecuária de Jovens Quadros;
- 25 Abril (domingo): Documentário sobre a Revolução dos Cravos em Portugal.

- A inauguração da 1.ª Feira do Livro no Centro de Recursos em Cacheu;
- A entrega da segunda correspondência escolar enviada pelo Agrupamento Vertical de Escolas Dr. Joaquim de Magalhães de Faro à direcção do Liceu Regional Hô Chi Minh em Canchungo;
- A oferta de 60 t-shirts Andorinha pela empresa Jomav – Importação e comercialização de materiais de construção;
- A cerimónia de tomada de posse da bankada Andorinha Liceu Domingos Mendonça em Cacheu;
- A constituição da bankada Andorinha da Escola 1.º de Junho em Canchungo;
- A entrega da correspondência escolar e de diverso material enviada pelo Agrupamento Vertical de Escolas de Mondim de Bastos à direcção e professores da Escola Pública de Iniciativa Comunitária de Cabienque e à direcção da AFIR – Associação dos Filhos e Irmãos de Cabienque;
- A constituição da bankada Andorinha “União Faz a Força” em Tchulame.

Semanalmente, todos os sábados, pelas 17 horas, a bankada central Andorinha reúne no Centro de Desenvolvimento Educativo de Canchungo. Ao longo do mês de Junho realizamos uma reflexão e autoformação sobre o funcionamento de uma associação, que incluiu a concepção e redacção de uma proposta de estatutos. A 19 de Junho fundamos a associação Bankada Andorinha, com a redacção da acta – a que se seguirão os diversos passos legais para a sua efectivação.

De salientar, que esta é uma iniciativa concebida e protagonizada por jovens alunos e professores guineenses, às expensas de trabalho voluntário e esforço e empenho de cada um – sem qualquer apoio de instituições responsáveis pela promoção da Língua Portuguesa...
[Para mais informações e imagens, ver www.andorinhaemcanchungo.blogspot.com]

Na esperança que estas iniciativas possam ser valorizadas e ficando ao dispôr para qualquer esclarecimento que acharem conveniente, apresentamos os nossos melhores cumprimentos
Marcolino Elias Vasconcelos – 00 245 6625332
António Alberto Alves – 00 245 6726963
Eduardo Gomes (Presidente das bankada Andorinha) – 00 245 6824282


«Há números que apontam para 5% da população que fala Português, no recenseamento de 1979, e outros para 10%, no recenseamento de 1991 (Scantamburlo, 1999: 62). Não há, infelizmente, estudos mais recentes sobre esse assunto, mas penso que é por demasiado evidente que a situação da Língua Portuguesa na Guiné-Bissau em nada se compara com os restantes países lusófonos africanos: é, sem dúvida, o PALOP onde se fala menos português. Basta circular pelas ruas de Bissau para nos apercebermos desta dura realidade.
Devido ao facto de ser a língua oficial, o Português é o idioma de ensino. É também a língua de produção literária, da imprensa escrita, da legislação e administração. Deparamo-nos, então, com este paradoxo: tudo está escrito em Português, mas uma parte esmagadora da população não domina a língua. As crianças são alfabetizadas numa língua que não ouvem, nem em casa nem na rua, e só quando comunicamos com a elite politica e intelectual guineense conseguimos estabelecer comunicação em Português. O grande problema da Língua Portuguesa neste país é, a meu ver, não passar da escrita para a oralidade.
(…)
Dado que a rádio é o único meio de comunicação que chega a todos os guineenses, parece-me fundamental uma aposta em programas radiofónicos que divulguem a Língua Portuguesa; em suma, uma aposta na oralidade.»
- Ana Paula Robles, Instituto Camões na Guiné-Bissau
[O ensino da Língua Portuguesa no ensino superior: a situação da Guiné-Bissau. Ubuntu, nº 3, Dezembro 2006, Bissau, p. 21-24]

--
Andorinha | Caixa Postal nº 1 | Canchungo | Guiné-Bissau
www.andorinhaemcanchungo.blogspot.com
publicado por Revista Literatas às 03:23 | link | comentar

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