Amar. Possuir.

De: Sutra 

Não posso.
Mas se eu quero e tu queres, porquê privar-nos do que desejamos?
Não sabes? 
Não penses naquilo que vês. Sente apenas. Fecha os olhos. Crava os dedos no peito. Sentes o que bate? É a ansiedade daquilo que desejas.
Achas que isto é a paixão?
É a tua emoção. É o abraço de dois amantes. O calor do beijo e o pensamento de comunhão entre dois seres. Que se querem. Usufruem. Apaixonam?
Mas isso é amor.
Será? Porque não ser antes o desejo insano de posse? De querer fazer. Ter. Agarrar. Entrar no corpo um do outro e possuir até ao mais profundo e íntimo fôlego.
Possuir é crispar a liberdade. É trancar sentimentos. Fazê-los sangrar. Não é amar.
Como podes tu definir o que é amar se não amas? Se aquilo que queres, somente desejas. Atrai-te como a luz, ou não fosses mera borboleta que busca, no bater de asas, olhar de cima tudo o que pode abarcar. Mas dizes que não podes. Como se pudesses definir a fronteira dos teus actos. Sentimentos estanques?
Não sei se amo. Como posso saber, se não sei definir o que é amar? E tu sabes?
Sinto. Isso basta-me. Não sei quando comecei a sentir, quando começou este bater acelerado no simples resvalar do teu olhar. Mas não aprisiono emoções. Mesmo sem as compreender não me interessa o quanto possam invadir. Ou ferir.
Não posso. Se não sei amar. Só querer. Desejar. Não dizes que apenas sei ter?
Sabes querer e saber ter. Porque insistes que não podes se este pode ser o nosso segredo? Porque precisa o mundo de saber de algo que apenas a nós diz respeito?
Gosto de ti assim. À distância dos poucos espaços de tempo. De encontros escorregadios num quarto normalmente desabitado no centro de Lisboa. Não quero que o mundo saiba de ti. 
Nem precisa. Mas esse é o teu acto revelador de posse. Aquela que negas como fazendo parte do amor.
Quem ama não possui. 
E tu sabes o que é o amor, afinal?
Sei. Por isso não quero possuir-te por inteiro. Apenas sentir-te. Ter-te hoje. Amanhã. Sempre que a vontade se imponha. Mas não te quero perto o suficiente para te sentir meu. Só assim concebo amar-te. 
Amas-me, então.
Amo. Porque não te possuo.
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Artigo extraído da site www.contossecretos.com



publicado por Revista Literatas às 04:18 | link | comentar