Jorge Tufic - Brasil
Que o boné de Pablo Neruda
e a lágrima fluvial de Santos Chocano,
e o grito de Allende
(enquanto os fuzis do terror e do medo
repetiam o massacre da liberdade),
venham flocar este chão consagrado
por tantos modos e cantos diferentes,
oh América do Sul.
Os cravos de tuas noites mergulham
na plumagem das Cordilheiras,
e os ramos da paz que te ilumina
e o relincho das pedras que desenham
bisontes e tempestades,
pousam como fósseis alados
em tuas crinas de esmeralda.
De Santa Marta à Terra do Fogo
tuas espigas rebentam colares de jade
e cintilam nas máscaras de ouro
roubadas aos templos do sol
e às pirâmides da lua.
E ao sopro nativo da flauta
exilada entre colméias,
um tesouro de vasos, borboletas
e animais de uma fauna imaginária,
sacode o pó da argila e do granito
em suaves movimentos.
Atlantes e Laoccontes
vigiam tuas muralhas indormidas,
mas deixam livres as fronteiras do sonho.
Pedro Du Bois - Brasil
Obsequio o soneto:
digo em versos,
o muro erguido em tijolos diversos
guarda espaços inatingíveis, empilha
frutos ao relento. Recubro o soneto em ventos
soprados na expressão do verbo. Realizo
em sons o tormento do mar sobre as pedras.
Sobre as pedras ergo o muro: tijolo
resultante do cozimento do barro; início
cristalizado separa mundos: declamo
obsequioso o soneto. Silencio
paredes e portas em adjetivos.
Mukurruza - Lichinga
I
Estas mentes despidas;
Estas mentes desmentidas;
Estas mentes lúcidas;
Estas mentes fundidas.
II
São(me) encantos
Mas não são contos
Nem poesias, prosas ou sonetos,
Mas um tempo com (100) metros.
III
Talvez mendigue cada instante
Da hora destas grades mentes
Que um dia brotara.
IV
Este é grito dos homens negros.
Não são gritos dos prumos
Das paredes crivadas.
Ana Mafalda Leite é poetisa luso-moçambicana e investigadora científica na área das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, Ana Mafalda Leite nasceu em Portugal, mas viajou para Moçambique ainda muito nova, onde frequentou a Universidade Eduardo Mondlane,em Maputo. Depoisde uma estadia prolongada em Moçambique, regressou a Portugal, onde passou a exercer funções de docente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Enquanto poetisa, publicouEm Sombra Acesa(1984), Canções de Alba (1989), Mariscando Luas ( 1992, em colaboração com Roberto Chichorro e Luís Carlos Patraquim), Rosas da China (1999), Passaporte do Coração (2002) e Livro das Encantações (2005).
A obra de investigação científica distingue os seguintes ensaios :
. “A Ilha de Próspero de Rui Knofli ou a Ilha de Caliban na poesia moçambicana - notas em torno de um mito de origem cultural”, in Camões, nº 6, Lisboa - Instituo Camões, 2000;
. “Lusofonias - Quando o Ibo se revê em Lisboa”, in JL, 2000;
. “Lusofonias - As Novas Aventuras de Sandokan ou de Serpa Pinto?”, in JL, 2000;
. “Lusofonias - As Parábolas de Mia Couto”, in JL, 2000;
. “O Último voo do Flamingo”, in Metamorfoses, nº 1 - Lisboa - ed. Cosmos, 2000;
. “Reflexões em torno dos conceitos de Regionalismo, Nacionalismo e Universalismo na Literatura Moçambicana”, in Ata Colóquio sobre Literatura Moçambicana, Maputo, Universidade Eduardo Mondlane, Maputo, 2000;
. “A Fraternidade das Palavras”, in Atas da Festa da Língua, Sintra, CM S, 2001;
Prefaciou também a “Obra Completa de Corsino Fortes”, publicada in A Cabeça Calva de Deus, Lisboa, D.Quixote, 2001.
É também autora de vários ensaios, traduções, artigos e introduções e recensões críticas.
Enquanto investigadora e estudiosa das literaturas Africanas de Língua Portuguesa, Ana Mafalda Leite dá um forte contributo, ao lado de outros nomes importantes como Pires Laranjeiro, José Carlos Venâncio, Manuel Ferreira, Salvato Trigo e outros, quer para a descodificação dos textos dos escritores dos países lusófonos quer para a divulgação de uma literatura que, tendo como suporte a Língua Portuguesa, lhe imprime a sua própria expressão.
Asua experiência e domínio do conhecimento nesta área fazem dela uma presença indispensável em colóquios, conferências e outras iniciativas na área, como participante e como moderadora.
Em fevereiro de 2002, foi convidada, a par de outros escritores, para as jornadas literárias “Correntes de Escrita “, realizadas na Póvoa de Varzim.
Mukurruza- Lichinga
I
Ekuethe
Éamor
Évida
Émorte
Éguerra
Époesia
Éluta
Édança
Émentira
Éverdade!
II
Ekuethe
São noites
Que se amargam;
São tempos
Diferentes!