Quando eu morrer…

Eduardo Quive - Maputo
 
Levai a minha amada para os homens,
Os meus filhos que fiquem com o além.
Levai os meus escritos para o povo,
O que sobrar que seja para quem quiser.

Na minha morte…
Na minha transferência vital,
Na minha derrota sob a vida,
Nos meus passos pelo horizonte,
Na tragédia contra a vida…
Mandam-me para avenida.

Chamem a todos,
Partilhem o meu corpo com os ladrões do Lhanguene,
Entreguem-me aos assassinos do Cardoso,
Partilhem os meus escombros com o além que levou Craveirinha,
Com a desgraça que engoliu as palavras do Amim,

O resto…
O resto fica com o inferno.

Na minha morte,
Poupem-me das omelias do padre João,
Poupem-me das lágrimas que a mim não estarão a chorar,
Não quero honras de ninguém,
Nem nada…

Quero apenas morrer.

Metam-me que urgência na terra faminta que me vai comer com gosto.
Entreguem-me de imediato a justiça divina.
Bem longe de mim
Distante do colo da minha mãe,
Abandonado pela poesia
E Engolido pelo silêncio profundo.
publicado por Revista Literatas às 01:11 | link